Cláudio Versiani, de Nova York* |
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A guerra do Iraque não dá mais Ibope. Anda esquecida, parece que não existe mais. A mídia não dá mais atenção para o assunto, e as pessoas vão levando a vida. Mesmo aqui em Nova York, a cidade que menos votos deu para a reeleição de George Bush depois de Washington, a mobilização anda fraca. A última manifestação não atraiu muita gente. Olhando as caras das pessoas nas ruas da cidade, ninguém imagina que este país esteja em guerra. Publicidade Bush anda feliz da vida. Não deveria. As pesquisas que avaliam seu governo vão de mal a pior. Ele só fala em “Social Security”, a previdência deles. Ele quer privatizar pelo menos uma parte do sistema. Insiste que a previdência vai quebrar, mais dia menos dia, até o ano de 2042. Nós, brasileiros, conhecemos bem essa história. O presidente norte-americano está mais relaxado, ainda tem três anos e nove meses para gastar o tal “capital político” que ganhou no segundo mandato, mas, a cada dia, o seu cacife diminui. A guerra segue fazendo suas vítimas todos os dias – alguns norte-americanos e muitos iraquianos. O tema foi relegado às páginas internas dos jornais e revistas; na TV, pouco aparece. Uma ou outra notícia pode ir para a primeira página, mas isso não tem acontecido com muita freqüência. Em dezembro, foi o tsunami; em janeiro, a posse de Bush e a remontagem do governo; nos dois meses seguintes, o quase interminável caso Terri Schiavo e, agora, a morte de João Paulo II, sem contar o julgamento do esquisito Michael Jackson. Tudo em doses cavalares, como se dizia antigamente, ou simplesmente overdose, como se diz hoje. Publicidade
Só um fato “espetacular” poderia chamar a atenção da imprensa. Uma comissão do próprio governo concluiu que os serviços de espionagem ou inteligência do país andam longe da realidade. Afinal de contas, o relatório diz que a CIA e as outras agências pouco sabiam sobre o Iraque e os projetos nucleares da Coréia do Norte e do Irã. O governo não só teria “esquentado” os relatórios da CIA sobre o Iraque, como, além disso, usou as informações da maneira como mais lhe convinha. As armas de destruição em massa, WMD, não existiam, e o Iraque estava longe de ter um programa nuclear. As ligações com Bin Laden nunca ocorreram. Uma vergonha total. É de se estranhar que tudo isso não tenha virado um escândalo. Para um presidente que imaginou ter vida fácil no segundo mandato, a realidade é preocupante. Segundo uma pesquisa do Instituto Gallup liberada semana passada, só 48% dos americanos aprovam o governo Bush, 41% concordam com a política econômica, 35% acreditam que a reforma do “Social Security” é boa, e 82% acham que Bush e o Congresso não deveriam ter se metido na história da pobre Terri Schiavo. A guerra do Iraque continua cobrando suas vítimas num ritmo um pouco mais lento – enfim, uma quase boa notícia. Fui assistir a um documentário ,“Gunner Palace”, câmera em movimento todo o tempo, mostrando os soldados norte-americanos que vivem no que sobrou de um dos palácios de Saddam Hussein. O filme é quase caótico, para usar uma palavra que andou na mídia brasileira semana passada, cenas desconectadas, uma confusão. É a cara da guerra, a história contada pelos próprios garotos. E, como diz um deles, não existe essa história de estar construindo um Iraque melhor, “nós estamos aqui e lutando por nossas vidas, estamos tentando sobreviver”. Se o documentário entrar em cartaz nos cinemas brasileiros, vai valer a pena ver. Por aqui, essa é a única forma que a Guerra do Iraque está em cartaz. Assim mesmo, na sessão em que fui assistir ao filme, a platéia era formada por uns 25 gatos pingados. Definitivamente, a guerra se parece com George Bush, anda com um Ibope bem baixo. Publicidade |
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