Eduardo Pocetti*
Na década de 60, a Holanda foi beneficiada pela descoberta de amplas reservas de gás natural. O preço da commoditie subiu bastante naquele período, o que resultou no aumento substancial das receitas de exportação da Holanda e na valorização da moeda local, o florim.
O que seria uma bênção transformou-se em fardo. Com a moeda apreciada, a Holanda começou a perder competitividade no mercado externo – mais especificamente, na venda de manufaturados. Teve então início a progressiva desindustrialização do país, que demorou anos para ser debelada.
No Brasil, a hipótese de doença holandesa tem sido aventada com frequência cada vez maior. Nossa exuberância na exportação de commodities, que tende a ganhar força a partir da exploração do pré-sal, é o que motiva esse tipo de preocupação.
É fundamental entender, porém, que a doença holandesa não tende a se instalar no Brasil com a intensidade ou as características observadas, por exemplo, nos países que figuram entre os maiores exportadores mundiais de petróleo. Continuamos a aumentar a produção industrial e a exportação, e as empresas industriais estão realizando investimentos e expandindo seus negócios. Por outro lado, no período de 2002 a 2008, a elevação dos preços das commodities exportadas pelo Brasil promoveu uma grande retomada do crescimento. Isso significa que nós crescemos bastante porque tivemos uma enorme contribuição do agronegócio, e não do setor de transformação: desde 1997, as exportações brasileiras de produtos primários cresceram quase 400%, contra pouco mais de 250% de crescimento das exportações de manufaturados (244%). No mesmo período, nossas importações de produtos industrializados foram sete vezes maiores que as de commodities.
Precisamos, portanto, ficar atentos. Os responsáveis pelo direcionamento da política econômica do futuro governo devem prestar atenção nos motivos que fazem da China a maior fábrica do mundo, e da Índia, a produtora universal de softwares, enquanto o Brasil se posiciona essencialmente como um importante fornecedor de matérias-primas. Realizar alterações na política de câmbio pode ser um caminho, mas há uma série de implicações que podem inviabilizar um planejamento cambial de longo prazo. Assim, o que nós devemos buscar, com certeza, é a concessão de incentivos à indústria, de modo a estimular sua competitividade. Um bom começo para isso seria a realização da propalada e adiada reforma tributária, que permitiria desonerar as empresas e aumentar sua capacidade de investir.
O Brasil dispõe de riquezas naturais, indústria pujante e estabilidade social, econômica e política. Não por acaso, somos hoje um dos países mais promissores do mundo. Com o planejamento correto, podemos ir muito mais longe. É este o compromisso essencial que os atuais candidatos devem assumir perante os eleitores: a atuação em prol de um desenvolvimento realmente sustentável.
*Ceo da BDO, empresa de auditoria, tributos e advisory services
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