Durante audiência pública de oito horas no Senado, o comandante da Aeronáutica, brigadeiro Luiz Carlos Bueno, admitiu ontem, pela primeira vez, que o controle de vôo de Brasília pode ter responsabilidade no choque entre o Boeing da Gol e o jato Legacy, que matou 154 pessoas em 29 de setembro.
De acordo com o brigadeiro, dois controladores responsáveis pelo Legacy na hora anterior ao choque presumiram incorretamente que o jato estava a 36 mil pés depois de passar pela capital, conforme previa o plano de vôo no computador. O jato, no entanto, permaneceu erroneamente em 37 mil pés, altitude que mantinha desde São José dos Campos (SP), em rota de colisão com o Boeing da Gol que vinha de Manaus.
Segundo Bueno, durante o período em que o Legacy voava monitorado pelo centro de Brasília, o Cindacta-1, o militar que deixou o posto passou ao substituto “uma informação falsa, que pensava ser verdadeira”.
Em função disso, explicou o brigadeiro, os controladores não teriam se preocupado em contatar por rádio o Legacy durante 35 minutos – 24 deles com o avião desaparecido da tela do chamado radar secundário, que usa os dados transmitidos pelo transponder da aeronave (altitude, velocidade e identificação).
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Ainda sob investigação
Bueno destacou, no entanto, que não queria nem podia prejulgar porque “tudo ainda está sob investigação”. “Na hora da troca de turno, o controlador passou (para o substituto) que o nível era 360 (36 mil pés), e este repassou para Manaus”, disse Bueno. “Ele (o novo controlador) não teve sombra de dúvida de que o avião estava no nível 360”, completou.
O relatório preliminar da Aeronáutica, divulgado na quinta-feira, diz que das 15h55, quando o Legacy passou por Brasília, até as 16h26, “não houve qualquer tentativa de contato, nem por parte do N600XL (Legacy) nem por parte do Centro de Brasília”.
PublicidadeO comandante da Aeronáutica alegou que os pilotos talvez não tenham conseguido se comunicar com o Cindacta-1 e vice-versa porque os americanos teriam trocado a freqüência do rádio do avião, sintonizando a freqüência errada.
“Linguagem inadequada”
O ministro da Defesa, Waldir Pires, também sugeriu erro dos controladores, só que de São José dos Campos, de onde o Legacy decolou. De acordo com o ministro, que também participou da audiência no Senado, o controlador do aeroporto da cidade paulista usou uma “linguagem inadequada” ao confirmar o vôo até Manaus a 37 mil pés. Com isso, o piloto pode ter entendido que deveria seguir nessa altitude até a capital amazonense, em vez de descer a 36 mil quando passasse por Brasília.
Essa “linguagem inadequada”, ressalvou o ministro, não pode levar à interpretação de que a tragédia é de “responsabilidade exclusiva do controle”. Waldir Pires disse que o piloto do Legacy tinha o plano e uma carta aeronáutica indicando claramente que, no sentido sul-norte, só se pode andar em altitudes pares.
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