Ricardo Ramos |
O presidente nacional do PL e ex-deputado Valdemar Costa Neto afirmou ontem, em depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Mensalão, que recebeu R$ 6,5 milhões do PT, por intermédio do empresário Marcos Valério Fernandes, para custear gastos da campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2002. O dinheiro teria sido usado no pagamento de fornecedores, alguns deles do próprio PT. Ele disse, no entanto, não possuir notas fiscais dos serviços prestados. "Para as eleições de 2002, involuntariamente, recebi dinheiro não-oficializado do PT. (O recurso) foi totalmente gasto na campanha do presidente Lula no segundo turno", afirmou. Apesar de reconhecer que dívidas da chapa PT-PL foram quitadas com recursos de caixa dois, Valdemar ressaltou que Lula não teve participação direta nas discussões sobre a transação financeira entre os dois partidos, mas apenas nas costuras políticas. As questões financeiras teriam sido tratadas exclusivamente com o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares. Leia também “Com o presidente Lula foram conversas políticas. O presidente nunca conversou nada de assuntos econômicos”, afirmou. O acordo inicial previa o repasse de R$ 10 milhões do Partido dos Trabalhadores para o PL. A legislação eleitoral proíbe a transferência de recursos de uma legenda para outra. “O Delúbio tinha autonomia para tudo dentro do PT. Autonomia financeira. Tenho certeza que Delúbio nunca discutiu com Lula os empréstimos da SMPB. Eu vi a relação deles, Delúbio tinha autonomia”, afirmou. Valdemar se disse vítima de chantagem do deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ), que o teria ameaçado com as denúncias do suposto pagamento de mesadas a deputados, o mensalão. “Em duas ocasiões o Jefferson me procurou com uma proposta de acordo. Eu rejeitei”, afirmou Valdemar. Em uma delas, o petebista teria proposto divulgar um documento no qual inocentaria o PL das acusações feitas anteriormente, em troca da retirada do processo de quebra de decoro parlamentar contra Jefferson no Conselho de Ética. “Abri mão do meu mandato para não sofrer as chantagens de Jefferson”, sustentou o presidente do PL, que renunciou ao mandato no dia 1º de agosto para escapar de uma eventual cassação. O ex-deputado, que contou no depoimento com o apoio de boa parte da bancada do PL na Câmara, começou a depor às 12h30 na CPI do Mensalão. Ele rechaçou a acusação de Jefferson de que dirigentes do PL recebiam e repassavam para a bancada propina para votarem de acordo com as orientações do governo. “Ele (Roberto Jefferson) falou isso para desviar o foco de corrupção de cima dele”, disse Valdemar. “O envolvimento do PL no mensalão é uma fantasia”, completou. O depoimento de Valdemar durou cerca de sete horas. Ainda no início da tarde, o presidente da CPI, senador Amir Lando (PMDB-RO), avaliou como repetitivas as declarações do presidente do PL. “Ele não acrescentou nada de novo, disse tudo o que já foi falado”, afirmou Lando, para quem a comissão deve buscar provas das declarações. Valdemar falou à comissão como investigado, pois pessoas ligadas a ele, como o ex-tesoureiro Jacinto Lamas, sacaram recursos das contas do empresário Marcos Valério. Valdemar assumiu, há duas semanas em entrevista à revista Época, que o PL recebeu dinheiro de caixa dois para saldar dívidas de campanha. Segundo ele, foram destinados ao partido R$ 6,5 milhões – e não os R$ 10,8 milhões informados por Simone Vasconcelos, diretora-financeira de uma das agências de Valério. Ontem mesmo, contudo, Valério divulgou nota em que reafirma que, a pedido de Delúbio, repassou quase R$ 11 milhões ao Partido Liberal. Veja os principais trechos do depoimento de Valdemar, que depõe novamente hoje, desta vez no Conselho de Ética da Câmara: Caixa dois na campanha de Lula Parte desses recursos ilegais era para ser gasto, segundo ele, com fornecedores do PT. Guaranhuns A outra parte dos recursos foi paga em hotéis em Brasília e em São Paulo. “Avisei que não queria receber em cheque”, disse Valdemar, que se intitulou o “único responsável pelo pagamento de materiais de campanha”. O empresário Marcos Valério divulgou nota ontem desmentido à declaração de Valdemar, segundo a qual o presidente do PL não conhecia a empresa Guaranhuns. Segundo Valério, foi o tesoureiro do PL, Jacinto Lamas, quem lhe o apresentou à Guaranhuns por indicação de DElúbio. Marcos Valério reafirmou que repassou, sob a orientação do ex-tesoureiro petista, R$ 10.837.500,00, dos quais R$ 6.037 milhões destinados à Guaranhuns. Os demais R$ 3,8 milhões foram pagos em cheques nominais do Banco Rural. Participação de Lula Valdemar disse que foi montado um esquema de gestão conjunta de recursos entre a chapa PT-PL para a campanha de 2002, e não uma ajuda financeira ao partido dele. Pelo acordo, que seguia a proporcionalidade das duas bancadas, 75% do caixa da campanha iriam para o PT e 25%, para o PL. Como a expectativa era de que a campanha arrecadasse R$ 40 milhões, 10 milhões iriam para o partido. Mas o PL, segundo ele, só recebeu R$ 6,5 milhões. Com a verticalização, ficou difícil o partido de Valdemar alcançar os 5% mínimos para ter acesso às verbas do Fundo Partidário. O partido só alcançou 4,3%. Participação de Dirceu Participação de Delúbio A desorganização do PT, segundo ele, fez com que Delúbio não honrasse os compromisso assumidos com o PL durante a campanha eleitoral de 2002. “Nunca tinha visto tanta organização em um partido. Mas quando começou a campanha nunca vi tanta desorganização”, afirmou Costa Neto, segundo quem todos os candidatos, em vão, iam pedir dinheiro ao ex-tesoureiro do PT. Aliança com o PT Candidatura em 2006 |
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