A Telecom Italia, controladora da TIM, fez em maio de 2003 um pagamento de R$ 3,25 milhões, em dinheiro vivo, ao investidor Naji Nahas. Tanto a empresa como Nahas admitem a realização da operação, revelada na edição deste fim de semana da revista Veja.
As duas partes atribuem o pagamento a "serviços de consultoria". Eles teriam incluído o trabalho feito por Nahas para costurar o acordo entre a Telecom Italia e o Opportunity com o objetivo de permitir à companhia italiana a aquisição do controle acionário da Brasil Telecom. A transação não se consumou por não ter sido aceita pelos dois sócios da empresa de telecomunicações brasileira, o Citibank e, principalmente, os fundos de pensão Previ, Funcef e Petros, que teriam grandes prejuízos com a perda do controle da BrT.
Segundo a revista, no entanto, a operação tem vários aspectos suspeitos, que merecem ser investigados pelo poder público. O primeiro deles é o fato de o pagamento ter sido feito em espécie, o que colocaria a Telecom Italia como suspeita de financiar o PT. "Em qualquer parte, a moeda sonante é o meio de pagamento preferido por pessoas que pretendem esconder alguma coisa de alguém – em geral, do Fisco ou da polícia", afirma Veja.
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Com base em documentos obtidos pelo colunista da revista Diogo Mainardi, a publicação lista outros detalhes intrigantes na história. Um deles é que o contrato firmado – em 30 de abril de 2003 – entre a Telecom Italia e Nahas estabelecia que a "consultoria", no valor total de R$ 4,12 milhões de reais, seria paga em oito parcelas. Dias depois de sua assinatura, porém, foram entregues os R$ 3,25 milhões ao investidor.
De acordo com Veja, descontados os impostos, o valor que Naji Nahas teria direito a receber não passaria de R$ 2,987 milhões, mas o investidor recebeu R$ 263 mil a mais. Em 20 de maio de 2003, a empresa italiana aumentou a remuneração de Nahas para R$ 5,1 milhões. Dois dias depois, foi feito outro saque de R$ 406 mil, também em dinheiro vivo. "Pelo contrato", relata a revista, "Naji Nahas deveria ter recebido, por meio de depósito bancário, quinze dias após a emissão do recibo. Ele recebeu em dinheiro vivo, quinze dias antes da emissão do recibo".
Procurador por Veja, o presidente da Telecom Italia na América Latina, Giorgio Della Seta, afirmou: "Nahas quis receber em cédulas. O que fez com o dinheiro não é da nossa conta. Ele nos ajudou a concluir um acordo que fizemos com o Banco Opportunity, do empresário Daniel Dantas".
Ainda segundo a revista, executivos da Telecom Italia afirmam que o dinheiro foi entregue "a um representante da companhia chamado Ludgero Pattaro, que é uma das pessoas que apareceram em relatórios feitos pela agência de investigações americana Kroll como sendo responsável por pagamento de propina a dirigentes do PT em nome de Della Seta".
Veja também lembra que a Brasil Telecom, à época controlada pelo Opportunity, pagou ao advogado Roberto Teixeira, amigo do presidente Lula, R$ 1 milhão por suposta consultoria, mas "ainda não se sabe por qual serviço prestado".
Nahas disse à revista que recebeu o dinheiro em seu escritório, em São Paulo, e que o pagamento foi feito em espécie porque não tem conta bancária: "Depois de tudo o que fizeram comigo, com a liquidação da Internacional de Seguros, fiquei com meus bens bloqueados. Vivia sob ameaça de bloqueio. Como pessoa física, não tenho mais conta em banco. Por isso, recebi em dinheiro. Declarei e paguei o imposto de renda".
Ele nega que o dinheiro se destinava a pagamento de propinas ao PT ou a qualquer outro partido: "Nunca tive negócio com político nem com o setor público. Nunca dei dinheiro ao PT ou a outro partido. Nunca me foi pedido dinheiro para o PT. O dinheiro que recebi da Telecom Italia não foi para o PT. Foi para o Naji, e foi merecido. Essa história de que Lula depende do Naji… Vou te contar… Nada como ser uma lenda".
O investidor acrescenta que pediu ao presidente mundial da Telecom Italia, Marco Tronchetti Provera, que o pagamento fosse antecipado. E enfatizou: "Não ganhei esse dinheiro sem trabalhar. Fiz acordos para resolver a disputa entre o Opportunity (banco de Daniel Dantas) e a Telecom Italia. Por meio de um deles, a Telecom Italia pôde lançar celulares com tecnologia GSM".
A CPI dos Correios verificou que empresas controladas pelo Opportunity pagaram pelo menos R$ 160 milhões, a título de prestação de serviços de publicidade, às agências do empresário Marcos Valério, suspeito de operar o mensalão.
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