O diretor-geral da Polícia Federal, Fernando Segóvia, negou que tenha antecipado o arquivamento do inquérito que apura se o presidente Michel Temer (MDB) recebeu propina em troca da edição de um decreto em favor da empresa Rodrimar, no porto de Santos (SP). Em nota enviada aos servidores da PF (leia íntegra abaixo), tentou amenizar a reação da categoria às suas declarações à Reuters.
Em entrevista à agência, ele disse que não há indícios de crimes cometidos pelo presidente e sugeriu que o delegado responsável pelo caso, Cleyber Malta Lopes, pode ser alvo de punição administrativa.
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“Afirmo que em momento algum disse à imprensa que o inquérito será arquivado. Afirmei inclusive que o inquérito é conduzido pela equipe de policiais do Ginq (Grupo de Inquéritos Especiais) com toda autonomia e isenção, sem interferência do diretor-geral”, escreveu o diretor-geral.
Ele negou que esteja interferindo no trabalho de Cleyber Malta. “Acompanho e acompanharei com cuidado e atenção exigida todos aqueles casos que passam a ter grande repercussão social, é meu dever, é o que caracteriza o cargo de direção máxima desta instituição, é o que farei”, afirma Segóvia.
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Em grupo de Whatsapp delegados criticaram as declarações do diretor-geral à Reuters e cobraram independência nas investigações. Mesma posição adotada pela Associação dos Peritos Criminais Federais (APCF).
O ministro do Supremo Tribunal Federal Luis Roberto Barroso, que cuida do inquérito, repreendeu e intimou Segóvia a dar esclarecimentos. De acordo com Barroso, como a investigação não foi concluída e ainda há “diversas diligências pendentes”, o assunto não deveria ser “objeto de comentários públicos”.
Em ofício, o ministro afirma que quer ouvir o diretor-geral da PF para que ele “confirme as declarações” publicadas e “se abstenha de novas manifestações a respeito”.
Na entrevista à Reuters, Segóvia afirmou que a PF não encontrou provas de irregularidades envolvendo o presidente.
“No final a gente pode até concluir que não houve crime. Porque ali, em tese, o que a gente tem visto, nos depoimentos as pessoas têm reiteradamente confirmado que não houve nenhum tipo de corrupção, não há indícios de qualquer tipo de recurso ou dinheiro envolvidos. Há muitas conversas e poucas afirmações que levem realmente a que haja um crime”, declarou aos repórteres Lisandra Paraguassu e Ricardo Brito.
Segundo o diretor, a tendência é que a Polícia Federal recomende o arquivamento do caso. Mas a Procuradoria Geral da República pode aceitar ou não essa recomendação.
Segóvia disse que não há indícios de que a Rodrimar tenha sido beneficiada pelo decreto, editado em 2017, nem que tenha havido oferta de propina. A PF apura se a medida que ampliou para 35 anos as concessões do setor favoreceu a empresa. Além de Temer, são investigados o ex-assessor da Presidência Rodrigo Rocha Loures, o presidente da Rodrimar, Antônio Grecco, e o diretor da empresa Ricardo Mesquita.
Leia a íntegra da nota:
“Brasília, 10 de Fevereiro de 2018
Caros Servidores,
Afirmo que em momento algum disse à imprensa que o inquérito será arquivado. Afirmei inclusive que o inquérito é conduzido pela equipe de policiais do GInqE com toda autonomia e isenção, sem interferência da Direção Geral.
Acompanho e acompanharei com o cuidado e a atenção exigida todos aqueles casos que possam ter grande repercussão social, é meu dever, é o que caracteriza o cargo de direção máxima desta instituição, é o que farei.
Foi com este espírito que, em articulação com 13a Vara da Justiça Federal em Curitiba, reforçamos a equipe à disposição da Lava-Jato, dobramos o número de policiais à disposição do Grupo de Inquérito Especiais, dotamos a unidade de meios, reservando quase integralmente uma ala do Edifício Sede. Assim também agimos, providenciando meios, em muitas investigações que ainda correm em fase velada. Também assim procedemos quando com altivez lutamos e conseguimos a definitiva implementação do adicional de fronteira, demanda histórica de nossos colegas lotados em alguns casos nas inóspitas e carentes regiões fronteiriças.
Reafirmo minha confiança nas equipes que cumprem com independência as mais diversas missões. É meu compromisso na gestão da PF resguardar os princípios republicanos. Asseguro a todos os colegas e à sociedade que estou vigilante com a qualidade das investigações que a Polícia Federal realiza, sempre em respeito ao legado de atuações imparciais que caracterizam a PF ao longo de sua história.
Fernando Queiroz Segovia Oliveira
Diretor-Geral da Polícia Federal”
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