Uma quadrilha que contrabandeava produtos importados, como perfumes e caixas de uísque, foi desmantelada ontem por uma ação conjunta da Polícia Federal e da Receita. Faziam parte do esquema, diretamente, 20 autoridades diplomáticas de cinco países com representação no Brasil. Batizada de Operação Safári, resultou na prisão de seis brasileiros, entre os quais, Hamilton Ferreira dos Reis, servidor do Ministério das Relações Exteriores.
O esquema envolvia a compra de aparelhos eletrônicos e outros produtos na loja Brasif (responsável pelo free shop nos aeroportos do país), em Brasília. A loja tem autorização para servir com exclusividade o corpo diplomático estrangeiro na capital. A mercadoria era comprada oficialmente pelas embaixadas, com a conivência de funcionários, a preços inferiores que os de mercado, por causa da isenção de impostos. Depois, era revendida mais caro para clientes dos contrabandistas brasileiros em Brasília e Goiás.
Matéria publicada hoje no jornal O Globo revela que a Polícia Federal suspeita, ainda, do envolvimento de pelo menos um diplomata brasileiro, ligado à Coordenação Geral de Privilégios e Imunidades do Itamaraty. Hamilton, o servidor preso, trabalhava nesse setor, onde são emitidas as notas autorizando as embaixadas a adquirir produtos na Brasif.
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Além de Hamilton, também estão presos na Superintendência da PF em Brasília outros três contrabandistas e dois funcionários da Brasif. Todos eles irão responder por formação de quadrilha, contrabando, corrupção passiva e corrupção ativa e podem pegar até dez anos de cadeia.
Segundo reportagem exibida no Jornal Nacional, as representações estrangeiras eram de Angola, Congo, Senegal, Gabão, Síria e Iraque. Os estrangeiros não foram atingidos pela operação policial, porque gozam de imunidade penal no Brasil. O Itamaraty pedirá aos governos desses países que tomem providências em relação aos funcionários.
Dose excessiva
Chamou a atenção da PF e da Receita um acréscimo exagerado no volume de mercadorias compradas pelas cinco embaixadas. Uma pequena embaixada africana chegou a comprar 900 litros de uísque em um mês, quando o consumo médio de uma embaixada maior é de 90. Só no período acompanhado pela PF, as vendas chegaram a US$ 500 mil e US$ 100 mil em impostos que deixaram de ser recolhidos.
Na residência de um dos contrabandistas foram encontrados mil vidros de perfume vendidos a R$ 300 cada um. Segundo a PF, uma garrafa de uísque era comprada a US$ 9 (cerca de R$ 19) e vendida a R$ 45. A clientela dos contrabandistas era formada por altos funcionários públicos, empresários e políticos de Distrito Federal e Goiás.
Uma das contrabandistas presas, Ângela Rodrigues, era conhecida nos corredores dos ministérios, do Congresso Nacional e de outras repartições públicas em Brasília. Para justificar a venda a preços mais baixos, ela dizia que era mulher de um funcionário da Brasif, na loja do free shop do Aeroporto de Brasília.
As investigações começaram no início de 2005. Para chegar aos responsáveis, a Polícia filmou as ações dos criminosos.
A Brasif divulgou nota informando que todas as suas operações comerciais são realizadas sob a fiscalização da Receita Federal.
“A direção da empresa aguarda a conclusão das investigações, colaborando com as autoridades na busca do completo e total esclarecimento do assunto. Se confirmado o envolvimento de qualquer de seus funcionários, a empresa adotará todas as medidas legais e administrativas cabíveis”, diz a nota.
O Itamaraty também divulgou nota afirmando que ordenou providências para que as denúncias sejam rigorosamente apuradas, incluindo a colaboração com a Polícia Federal e a Receita Federal.
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