Ronaldo Brasiliense * |
Nesta terça-feira, 21, a CPI Mista dos Correios começa para valer. O governo inicia o jogo com um a zero no placar após ter conseguido emplacar o presidente, senador Delcídio Amaral (PT-MS), e o relator, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), ambos alinhados com o Palácio do Planalto. Mas, mais do que nunca, o que estará em questão – como bem alertou o senador Jefferson Peres (PDT-AM) – é o bom nome do Parlamento. Qualquer tentativa de assar pizza terá o repúdio da opinião pública, que exige que sejam apurados à exaustão os escândalos de corrupção explícita nos Correios e o “mensalão” – ou seja, a denúncia feita pelo presidente do PTB, deputado Roberto Jefferson (RJ), de que deputados do PP e do PL recebiam R$ 30 mil por mês para dar apoio ao governo no Congresso. A imprensa que “investiga, julga e condena em uma semana”, como disse o troglodita Roberto Jefferson, terá papel fundamental nessa CPI. Até para que não se repita o que já ocorreu em outras CPIs que monopolizaram as atenções dos brasileiros e acabaram em pizza. Publicidade
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Ao recordar outras CPIs que ganharam destaque na mídia nas últimas décadas, lembramos o que aconteceu após a conclusão da CPI do PC. O então presidente Fernando Collor perdeu o mandato, mas daquelas toneladas de volumes, resultado dos mais de 100 inquéritos instaurados pelo delegado Paulo Lacerda, hoje diretor-geral da Polícia Federal, não saiu nenhuma prisão. Muitos dos que receberam propina estão milionários até hoje. Quantos daqueles empresários que pagaram propinas a PC e seu fiel assecla, o comandante Jorge Bandeira, acabaram na prisão? Nenhum! Paulo Lacerda me disse à época que PC já podia se aposentar: havia coletado mais de R$ 1 bilhão nas “consultorias” que dava para empreiteiros continuarem a mamar nas tetas do governo, irrigando com dinheiro os jardins da Casa da Dinda – com suas monumentais cascatas – e as contas de um sem-número de assessores de Collor. PublicidadeNa CPI do Orçamento, que investigou os deputados-anões que há anos se locupletavam com verbas do orçamento da União, houve meia dúzia de cassações. O peixe mais gordo foi o deputado Ibsen Pinheiro, que presidia a Câmara dos Deputados durante o impeachment de Collor. Ele há alguns meses recebeu um atestado de idoneidade do repórter Luís Costa Pinto, que o massacrou em matéria da Veja. Também foram pescados peixes menores, como Genebaldo Correia e o próprio deputado João Alves, já falecido, chefe da gangue dos anões, aquele que ganhou mais de 100 vezes na loteria esportiva “com a ajuda de Deus”. Só quem acabou na cadeia, mas pelo assassinato da esposa, foi o funcionário do Senado José Carlos Alves dos Santos, que denunciou a máfia do orçamento. A CPI do Judiciário pegou o juiz Nicolau – Lalau – dos Santos Neto e cassou o mandato do senador Luiz Estevão, do Distrito Federal. Lalau, com idade avançada e problemas de saúde, cumpre prisão domiciliar. Nesse episódio, envolvendo a construção do prédio do TRT de São Paulo, vale registrar a atuação da Advocacia-Geral da União, que conseguiu tornar indisponíveis os bens do juiz Nicolau dos Santos Neto nos Estados Unidos. Em 1992, em matéria publicada no Jornal do Brasil, mostrei que os criminosos do colarinho branco” representavam um pífio 0,01% da população carcerária brasileira, que àquela altura somava mais de 100 mil almas. Hoje, o percentual desses criminosos deve ser menor ainda. Salvatore Cacciola, dono do banco Marka, que quebrou deixando um prejuízo superior a R$ 1 bilhão para os cofres da nação, fugiu do Brasil. Está livre e solto na Itália. E rico, obviamente. Jader Barbalho, hoje deputado federal, responde a processo no Supremo Tribunal Federal por ter surrupiado dos cofres do Banco do Estado do Pará, quando era governador do Estado (1982-1986), algo em torno de US$ 1 milhão. E assim se passaram 20 anos sem que Jader, hoje um milionário da comunicação, sentasse no banco dos réus. A advogada Jorgina de Freitas, tida como maior fraudadora da Previdência Social do Brasil, é uma das poucas criminosas do “colarinho branco” do país que conheceram a cadeia. Como tem curso superior, ficou em cela especial. Ela integrou uma quadrilha que desviou US$ 500 milhões do INSS nos anos de 1990 e 1991. Cumpre pena em regime semi-aberto na Companhia Especial de Trânsito, no Rio de Janeiro. A fraudadora Jorgina ficou foragida durante cinco anos. Fugiu para os Estados Unidos em 1992 e de lá para a Costa Rica, onde se entregou às autoridades brasileiras, em 1997. Extraditada para o Brasil em fevereiro do ano seguinte, foi presa logo ao desembarcar. Como já cumpriu um sexto da pena a que foi condenada, brevemente estará livre para torrar o dinheiro surrupiado da nossa pátria-mãe tão distraída, dinheiro que nunca voltou aos cofres do Tesouro Nacional. Que não se esperem façanhas da CPI dos Correios e do “mensalão”. Quando muito, haverá a cassação de alguns deputados bagrinhos, do baixo clero, parte daqueles 300 picaretas que o presidente Lula, ainda como deputado constituinte, identificou no Congresso, más companhias que o sapo barbudo acabou tendo que engolir ao chegar ao poder. É também provável que outros ministros, além de José Dirceu, percam o emprego. Mais do que isso, é querer demais. Os pizzaiolos que se preparem para a resposta nas urnas de 2006. * Ronaldo Brasiliense, jornalista paraense, foi chefe da sucursal da Veja na Amazônia, repórter especial do Jornal do Brasil, O Estado de São Paulo e IstoÉ e colunista do Correio Braziliense. Ganhou o Prêmio Esso em 1998 e 2003. |
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