Em tese, o mesmo deveria ocorrer com Paulo Bernardo. Mas os fatos que o envolvem têm a ver com a captação de recursos para a campanha da sua mulher, a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR), que só pode ser julgada pelo STF. O Congresso em Foco não conseguiu apurar se isso levou o MPF a centralizar essa parte da investigação no Supremo.
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Além de Paulo Bernardo e Palocci, pelo menos três ex-ministros de Dilma deverão responder a inquéritos por envolvimento com as roubalheiras na Petrobras: a própria Gleisi, o senador e ex-ministro de Minas e Energia Edison Lobão (PMDB-MA) e o ex-ministro das Cidades Mário Negromonte (PP-BA). Lobão e Negromonte foram apontados na lista de beneficiários do esquema, segundo publicou em setembro a revista Veja. Por ser hoje conselheiro do Tribunal de Contas dos Municípios (TCU) da Bahia, Negromonte tem foro no Superior Tribunal de Justiça (STJ), o mesmo dos governadores.
Palocci
Durante as investigações, o doleiro Alberto Youssef, tido como líder do esquema de corrupção na Petrobras, afirmou que Palocci era uma espécie de elo entre o PT e o executivo Júlio Camargo, da Toyo Setal.
Pelas declarações de Youssef, o ex-ministro funcionava como uma espécie de arrecadador informal do partido, uma função semelhante à atribuída ao tesoureiro do PT João Vaccari Neto. Os depoimentos em que Palocci foi citado ocorreram no dia 14 de outubro do ano passado.
Segundo reportagem publicada em janeiro pela revista Veja, o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa disse aos investigadores que o ex-ministro pediu a ele R$ 2 milhões para a campanha presidencial de Dilma Rousseff (PT) em 2010. De acordo com a revista, o dinheiro sairia da “cota do PP” no esquema de desvios da Petrobras. O ex-diretor contou que acionou o doleiro Alberto Youssef para providenciar o repasse, mas ressaltou que não tinha certeza se o dinheiro havia sido transferido.
Um dos coordenadores da campanha de Dilma em 2010, Palocci respondeu à revista, na época, que conhecia Paulo Roberto, mas que jamais fez qualquer pedido ao ex-diretor da Petrobras. Em nota, a assessoria da presidenta informou que o tesoureiro de sua primeira eleição foi o ex-deputado José de Filippi (PT-SP) e que todas as doações eleitorais foram declaradas na prestação de contas registrada no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Paulo Bernardo
Já as investigações relacionadas ao ministro das Comunicações Paulo Bernardo estão ligadas diretamente ao recebimento de R$ 1 milhão para a campanha de 2010, de sua esposa, a ex-ministra da Casa Civil e senadora Gleisi Hoffmann. O doleiro Alberto Youssef disse que fez as doações à senadora. Ela sempre negou qualquer relação com o doleiro.
Ainda em sua delação premiada, Paulo Roberto Costa contou que o pedido de doação para a ex-ministra da Casa Civil foi feito por Paulo Bernardo. Em entrevista à Folha de S.Paulo, em outubro, o então ministro rechaçou qualquer envolvimento dele e de Gleisi com o esquema de corrupção na Petrobras. “Chance zero de Youssef pedir para fazer uma doação para Gleisi”, afirmou o então ministro das Comunicações. “Ele não a conhece e não me conhece. A troco de quê vai fazer isso?”
Decisão é de Teori
Caberá ao ministro do STF Teori Zavascki, relator das investigações da Lava Jato, definir se o inquérito correrá no Supremo ou em outro foro. Dois políticos que tinham foro privilegiado até o início do ano passaram a ser investigados pela Justiça Federal do Paraná: o ex-deputado federal André Vargas (sem partido-PR) e o ex-parlamentar Luiz Argolo (SD-BA). Os dois são citados como beneficiários do esquema. Vargas é acusado de ter mediado acordos entre o Ministério da Saúde e o laboratório Lagoben, uma empresa controlada pelo doleiro Alberto Youssef.
Já Argolo foi flagrado em grampos telefônicos e em troca de mensagens diretas com o doleiro Alberto Youssef e também, conforme as investigações, foi beneficiado com o depósito de dinheiro do Posto da Torre, um posto de gasolina de Brasília tido como uma espécie de caixa eletrônico de políticos envolvidos no escândalo de corrupção da Petrobras.
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