Na última segunda-feira (7), enquanto era realizada a 6ª edição do Prêmio Congresso em Foco, a Secretaria de Segurança Pública do Rio de Janeiro dava os últimos passos para a ocupação da comunidade da Rocinha, a segunda maior favela do mundo incrustada na zona sul da região metropolitana (a maior fica na Rússia). No dia anterior, o cinegrafista da TV Bandeirantes Gelson Domingos, 46, registrou o momento da própria morte ao acompanhar uma ação do Bope, a “tropa de elite” fluminense, na Favela de Antares, do outro lado da cidade, na zona oeste.
No início da madrugada da quinta-feira (10), o “chefe” do tráfico na Rocinha, Antônio Francisco Lopes, o “Nem da Rocinha”, foi preso tentando deixar a comunidade no porta-malas de um carro, carregando consigo mais de R$ 100 mil em dinheiro vivo. A blitz policial que culminou na prisão de Nem, festejada a cada movimentação pelas delegacias da cidade, fazia parte dos preparativos para a instalação da 19ª unidade de polícia pacificadora, justamente aquela considerada a mais complexa, pelas dimensões da Rocinha – há décadas dominada pelo narcotráfico. As comunidades do Vidigal e da Chácara do Céu, localizadas em território contíguo ao da Rocinha, também foram ocupadas pelas forças de segurança, até o início desta tarde sem confronto a bala.
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Os dois episódios não são mais novidade quando se trata do tema da violência no Rio de Janeiro – registros diários que ganham mais repercussão em algumas ocasiões, como o assassinato do jornalista da TV Globo Tim Lopes, em 2002, descoberto por bandidos quando fazia reportagem sobre exploração sexual infantil no Complexo do Alemão, comunidade já “pacificada” na zona norte do Rio. Hoje (domingo, 13), passadas algumas horas desde o início da operação de tomada da Rocinha (os trabalhos começaram às 4h), o Congresso em Foco registra a entrevista feita durante a cerimônia de premiação mencionada acima com alguém que, representante do Rio no Parlamento, conhece bem a criminalidade na Cidade Maravilhosa.
“[A circunstância da morte do cinegrafista] é um sinal ruim, que mostra que o problema da violência e da segurança pública no Rio de Janeiro ainda é um problema grave, tirando agora a vida de um cinegrafista que acompanhava uma equipe filmando uma ação da polícia. Por isso, é necessário, fundamental, mais esforço do governo estadual para, de fato, resolver o problema, e não apenas encontrar paliativos”, declarou à reportagem o deputado Alessandro Molon (PT-RJ), eleito o parlamentar que mais se destacou na categoria “defesa da segurança jurídica e da qualidade de vida”, uma das novidades de edição 2011 do Prêmio Congresso em Foco.
Molon: defender segurança jurídica é lutar por qualidade de vida
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Membro das comissões de Segurança Pública e Combate ao Crime Organizado e de Constituição e Justiça, entre outras, Molon não quis arriscar um prognóstico sobre o potencial do Rio de Janeiro em sediar, com segurança, megaeventos como os que estão por vir. O deputado, que é advogado por formação e também integra a Subcomissão Especial de Controle de Armas e Munições, prefere por os pés no chão e apostar no que pode ser feito no médio e longo prazos. Ele diz que, para além da segurança durante as competições, o importante é o retorno ao cidadão que pagou os impostos que custearão os eventos.
“Eu propus à Câmara a criação de uma comissão externa para acompanhar e analisar o legado da Copa e das Olimpíadas para a cidade do Rio de Janeiro e a região metropolitana. Nosso foco, nessa comissão, não é tanto a preparação da cidade para a Copa. É, sobretudo, o que vai ficar depois da Copa. Ou seja, nós queremos verificar se esses megaeventos vão servir para a qualidade de vida da população ou se vão apenas servir para a realização de um grande evento. Se não deixar nenhum legado, prejudica a população, porque gastou o dinheiro dos impostos sem modificar a vida das pessoas”, acrescentou Molon, no primeiro mandato de deputado federal, dizendo-se “muito feliz” por ter sido escolhido por jornalistas especializados, em um primeiro momento, e internautas de todo o país logo na sua estreia.
“O fundamental é que a preparação da cidade e do estado para a Copa e para as Olimpíadas – tanto do ponto de vista da infraestrutura quanto da organização, por exemplo, dos serviços públicos de segurança – seja feita de uma forma permanente. Ou seja, que se tenha uma situação de exceção para garantir durante 15, 20 dias apenas a segurança dos turistas, e depois a população fique, mais uma vez, relegada às dificuldades que encontram no dia-a-dia. E que foram barbaramente explicitadas com essa morte do cinegrafista. É fundamental um projeto que dure, que permaneça, que garanta mais segurança para toda a população, e também para os turistas que virão, que merecem segurança no Rio de Janeiro”, concluiu o deputado, para quem a “seriedade” da parceria entre governos estadual e municipais, “em especial o da capital”, serão determinantes para o legado dos jogos ao Rio de Janeiro.