Soraia Costa
Os depoimentos de dirigentes de entidades da sociedade civil e de pesquisadores de comunicação ajudam a explicar o sucesso do Prêmio Congresso em Foco, que às 4h28 desta segunda-feira, sexto dia de votação, já contabiliza mais de 650 mil votos para os 40 parlamentares concorrentes.
Para os entrevistados, a boa receptividade se deve ao fato de a iniciativa atender a demandas que já existiam no que se refere à necessidade de avaliar com mais cuidado o trabalho dos congressistas.
“É claro que no Congresso tem muita baixaria, mas tem também muita coisa boa e importante e muita gente séria, e isso precisa ser divulgado”, defende o professor de jornalismo Luiz Gonzaga Motta, coordenador do Núcleo de Estudos de Mídia e Política da Universidade de Brasília. “A iniciativa do Congresso em Foco ajuda a popularizar o nome a as ações dos parlamentares que desempenham bem seu papel, amplia o acesso às atividades do Congresso e faz com que os parlamentares sejam mais conhecidos do grande público”, elogia, acrescentando que, ao votar, o eleitor necessariamente fará uma reflexão sobre a ação dos parlamentares.
O presidente em exercício da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Aristoteles Atheniense, acrescenta: “Sobretudo nesta fase de desgaste que o Legislativo vem passando, é importante que a população brasileira saiba que lá no Congresso há pessoas dedicadas e que estão preocupadas com o desenvolvimento do país”, afirma. “Eu acho que esse trabalho é muito louvável e deve ser exaltado. Na medida em que não valorizamos os bons, estamos contribuindo para que os maus políticos se tornem mais ousados e valentes”.
Leia também
O diretor-executivo da ONG Transparência Brasil, Cláudio Weber Abramo, também deu sua opinião sobre o prêmio. “Acho importante que se focalize o estabelecimento de contrastes, o que aliás o Congresso em Foco já faz em sua cobertura normal”, diz ele. “É importante para não se transmitir a idéia de que todos os parlamentares são picaretas”, completa Abramo.
Bom para a democracia
O cientista político Octaciano Nogueira entende que o prêmio fortalece a democracia na medida em que estimula a interatividade e a discussão sobre o desempenho dos parlamentares. “Toda iniciativa que vise apurar a opinião pública é válida, primeiro porque ajuda a aprimorar a democracia e depois porque as pessoas que votarão vão perceber que no Congresso não há só bandidos, há pessoas que fazem um bom trabalho”, argumenta Octaciano. Ele reclama apenas que a votação seja restrita à internet, o que acaba limitando o público eleitor.
Responsáveis por organizações não-governamentais que têm como objetivo acompanhar o comportamento da mídia também aprovaram a idéia de se fazer um prêmio para destacar os congressistas que melhor exercem seu mandato.
"Iniciativas como esta do site Congresso em Foco sem dúvida são importantes para o processo de conscientização e informação política da sociedade”, comenta Kjeld Jakobsen, coordenador-executivo do Observatório Brasileiro de Mídia. “Afinal, mais que um reconhecimento pelo trabalho de nossos parlamentares, o Prêmio Congresso em Foco é, principalmente, um estímulo à sociedade para que desempenhe seu papel de acompanhar, discutir e avaliar a política nacional ou quaisquer outros temas que sejam de seu interesse”, acrescenta ele.
“Quando se dá à população a oportunidade de escolher o deputado ou senador com melhor atuação na atual legislatura, estamos criando um canal de discussão e avaliação política que não apenas é salutar como também necessário”, garante. Jakobsen finaliza dando seu estímulo para a continuidade do prêmio: “Com certeza, isso estimulará a busca por melhor informação e iniciativas assim vêm ao encontro do trabalho desenvolvido pelo Observatório Brasileiro de Mídia e merecem todo o apoio".
A seleção prévia de nomes
A idéia de fazer a pré-seleção dos nomes que podem ser votados pelos internautas com jornalistas que cobrem o Congresso Nacional também foi elogiada pelos entrevistados.
“Achei a pré-seleção interessante porque, sem dúvida, os jornalistas têm mais facilidade de fazer o pré-julgamento”, argumenta Luiz Gonzaga Motta. O professor explicou sua posição dizendo que os jornalistas “têm mais acesso às informações e ao dia-a-dia do Congresso”. Para ele, os nomes da lista colocada para a votação do público “correspondem realmente à presença dos parlamentares no cenário político brasileiro”.
“É muito difícil fazer uma lista que contemple a todos. A pré-seleção foi feita com quem está mais próximo: o jornalista”, diz Octaciano Nogueira. “A lista está muito boa e foi uma combinação feliz. O critério foi muito bom porque combinou o critério de seleção para um público e o de escolha para outro público”, acrescentou o cientista político.
Apesar de estar na torcida por alguns parlamentares, que receberam seu voto, Octaciano diz que, quaisquer que sejam os escolhidos, será um resultado justo. “Quaisquer que sejam os escolhidos, acho que fazem jus. Não vi ali mensaleiros, sanguessugas, ignorantes. Há gente com maior ou menor influência, maior ou menor relevância, de todos os partidos. É difícil dizer quem vai ganhar, seja por ser mais reconhecido, por ter mais militância ou mais importância dentro do partido, mas todos os que estão ali merecem ganhar”, avalia.
Apesar de ter gostado da idéia, Cláudio Weber Abramo, da Transparência Brasil, se ressente apenas do fato de que seja preciso premiar os bons políticos, pois cumprir com seus deveres deveria ser a regra. “É até uma pena que tenha que se premiar, mas é bom que pessoas sérias como [Fernando] Gabeira sejam homenageadas”, ressalta.
Deixe um comentário