A procuradora da República Ana Carolina Roman, que investiga denúncias de nepotismo no Senado, vai convocar as pessoas envolvidas com a terceirização da taquigrafia e a contratação de parentes de servidores da Casa pela empresa responsável pelo serviço, caso revelado ontem (6) com exclusividade pelo Congresso em Foco.
Como mostrou este site, o MPF também quer anular a terceirização do serviço de taquigrafia nas comissões do Senado. Em ação civil pública, o procurador da República Rômulo Moreira Conrado pede o cancelamento do contrato de R$ 2,2 milhões assinado em janeiro de 2006 com a Steno do Brasil. O processo, que tramita na 4ª Vara Federal em Brasília desde 30 de maio deste ano, foi proposto a partir de uma denúncia anônima de nepotismo enviada à Procuradoria da República no Distrito Federal (PRDF).
Trata-se da contratação, após a assinatura do contrato, de Mariana Cruz como gerente comercial da Steno. Ela é filha da diretora da Secretaria de Comissões do Senado, Cleide Cruz, e de outro servidor do setor, José Roberto Assumpção Cruz. É a mãe de Mariana que gerencia o contrato. Seu gabinete é que checa as planilhas do serviço prestado pela empresa Steno. E o pai, segundo apurou o site, centraliza desde 2007 os pedidos de transcrições feitos pelos secretários das comissões na Subsecretaria de Apoio as Comissões.
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Antes mesmo da publicação da reportagem, o diretor-geral do Senado, Agaciel Maia, decidiu retirar o contrato entre o Senado e a Steno do Brasil da supervisão da diretora da Secretaria de Comissões. O serviço de estenotipia das comissões, que também insere legendas na programação da TV Senado, segundo a assessoria de imprensa do Senado, será agora supervisionado pelo chefe da Secretaria Técnica de Eletrônica, Agnaldo Scárdula.
"Ficou claro que a pessoa foi contratada porque é filha de servidores do Senado. A interferência é muito óbvia neste caso. Vamos convocar essas pessoas envolvidas o mais rápido possível", afirmou a procuradora ao site. A procuradora também quer esclarecer se Mariana Cruz tem qualificação para ser contratada como gerente comercial da empresa e como ela pode acumular essa função de revisar as transcrições das notas, conforme suas declarações dadas ontem ao Congresso em Foco.
A procuradora também vai apurar as denúncias feitas pelos envolvidos de que há nepotismo generalizado no Senado. “Tem milhares de pessoas que eu conheço lá dentro que são filhos de diretor do Senado, entendeu? Várias nem mesmo trabalham. Em cargos de confiança que nem lá vão. Eu, graças a Deus, trabalho muito. Não tem nenhuma diferenciação por eu ser funcionária da empresa, ser filha disso ou filha daquilo. Não tem nada a ver isso”, afirmou Mariana ao site.
"Pisando em ovos"
PublicidadeO presidente do Senado, Garibaldi Alves (PMDB-RN), foi pressionado por parlamentares e repórteres a dar uma resposta firme às acusações (leia mais). Mas evitou dar declarações polêmicas para não desagradar ao primeiro-secretário, Efraim Morais (DEM-PB), responsável pela assinatura do contrato de terceirização da taquigrafia e autor de um pedido de parecer a Cleide Cruz, documento que viabilizou a contratação da Steno.
Ontem, dentro de seu gabinete, Garibaldi elevou a voz algumas vezes com assessores e líderes. Lá fora, porém, amenizou as denúncias ao responder aos jornalistas.
Nos bastidores, o site apurou que Garibaldi Alves "pisa em ovos" justamente por querer preservar a proximidade e a amizade que mantém com Efraim. Os dois senadores ficaram próximos durante as investigações da CPI dos Bingos em 2005.
Desde o Fim do Mundo
A dupla trabalhou afinada nas investigações da comissão de inquérito apelidada de CPI do Fim do Mundo, por causa da quantidade de frentes de investigações abertas pela comissão. Foram apuradas desde a morte do prefeito de Santo André (SP), o petista Celso Daniel, até as acusações contra o então ministro da Fazenda e hoje deputado, Antonio Palocci (PT-SP).
Foi nessa CPI que os dois colocaram o caso da quebra do sigilo do caseiro Francenildo em evidência. O episódio culminou na saída de Palocci do governo. Desde então, os senadores mantiveram uma relação muito próxima, principalmente depois que Garibaldi assumiu a presidência do Senado.
Por isso, o presidente da Casa pretende manter o máximo de cautela antes de promover o afastamento do diretor-geral do Senado, Agaciel Maia, e do 1º secretário, ambos alvos das denúncias que envolvem contratos irregulares e com suspeitas de fraudes desde a deflagração da Operação Mão-de-Obra em 2007.
Fontes ouvidas pelo site também disseram que Garibaldi não sabe se a recíproca é verdadeira, ou seja, se Efraim ainda preserva a amizade ou acredita que o presidente do Senado está por trás das denúncias que o atingem.
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