Um dos fundadores do PSDB, o sociólogo, jurista e escritor Hélio Jaguaribe morreu na noite deste domingo (9) em sua casa em Copacabana (RJ), após falência múltipla de órgãos. Membro da Academia Brasileira de Letras (ABL) na cadeira de número 11 – a mesma que outrora acomodou Darcy Ribeiro e Celso Furtado, entre outros –, Hélio deixa a viúva, Maria Lucia Charnaux Jaguaribe, e cinco filhos, Anna, Beatriz, Claudia e Isabel e Roberto.
Nascido no Rio de Janeiro em 23 de abril de 1923, o acadêmico terá seu corpo velado na próxima quarta-feira (12), a partir das 10h, na Sala dos Poetas Românticos, no Petit Trianon – como se chama o palacete que a França doou ao Brasil para abrigar a ABL. Para o mesmo dia está previsto o sepultamento de Hélio, a partir das 15h, no Mausoléu da ABL no Cemitério São João Batista, em Botafogo.
A notícia da morte foi veiculada no site da ABL nesta segunda-feira (10). Presidente da ABL, Marco Lucchesi determinou que a bandeira da instituição fosse hasteada a meio mastro em sinal de luto e em homenagem à memória do confrade. “Helio Jaguaribe foi um dos últimos grandes intérpretes de nosso país. Estudou o Brasil para transformá-lo, mediante uma abordagem desenvolvimentista, com a fundação do Iseb (Instituto Superior de Estudos Brasileiros), nos anos cinquenta”, escreveu o dirigente.
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“[…] para Helio Jaguaribe, ação e pensamento permanecem indissociáveis, como Darcy Ribeiro e Celso Furtado, que o precederam na cadeira 11 da Academia Brasileira de Letras. Cientista político de alta erudição e consciência vigilante, deixou obra vasta e criativa. Cito apenas dois títulos: A dependência político-econômica da América Latina, verdadeiro clássico na área, e Um estudo crítico da história, divisor de águas da interpretação do processo histórico publicado em nosso país. Homem de gestos largos e entusiasmado, Helio continua vivo pelas virtudes de sua obra, saudosa do futuro”, acrescentou Marco Lucchesi.
Hélio foi um dos opositores do golpe militar de 1964. Sua postura político-ideológica o forçou ao exílio nos Estados Unidos, país onde lecionou nas Universidades de Harvard, Stanford e Massachusetts Institute of Technology. Como homem público, integrou os governos José Sarney (1985-1990) e Fernando Collor (1990-1992), já na condição de fundador do PSDB (junho de 1988), partido que nasceu de uma dissidência interna no MDB.
“Por sua contribuição às Ciências Sociais, aos estudos latino-americanos e à análise das Relações Internacionais, recebeu o grau de Doutor Honoris Causa da Universidade de Johannes Gutenberg, de Mainz, RFA (em 1983); da Universidade Federal da Paraíba (em 1992); da Universidade de Buenos Aires (em 2001). Em 1996 foi agraciado, por sua contribuição às Ciências Sociais, com a Grã-Cruz da Ordem Nacional do Mérito Científico. Em 1999, o Ministério da Cultura conferiu-lhe, por sua contribuição ao desenvolvimento cultural do país, a Ordem do Mérito Cultural”, destaca ainda o site da ABL.
O Congresso em Foco entrevistou Hélio Jaguaribe em julho de 2006. Assinada pelo atual editor-executivo do site, Edson Sardinha, a entrevista lembrava àquela época que ele “deixou a vida partidária em 1992 para ser secretário de Ciência e Tecnologia do governo Collor”. “Após o impeachment do presidente, decidiu dedicar-se exclusivamente à vida acadêmica. Atuando como pesquisador e decano emérito do Instituto de Estudos Políticos e Sociais (Iepes), cuja sede fica no Rio de Janeiro, o sociólogo continua um observador atento da cena política”, diz trecho do texto introdutório, encimado pelo título em que o acadêmico vislumbrava um país de fato desenvolvido em 20 anos.
Leia a íntegra da entrevista intitulada “Consenso por um país mais justo”