Após a repercussão de uma entrevista e publicações em redes sociais, o morador de rua Givaldo Alves, de 48 anos, já foi procurado por, pelo menos, quatro partidos políticos. A intenção das legendas é lançá-lo candidato a deputado na Câmara Federal ou na Câmara Legislativa do Distrito Federal nas eleições deste ano. Gilvado Alves ficou conhecido nacionalmente em decorrência de um vídeo em que aparece sendo espancado pelo personal trainer Eduardo Alves de Souza, em Planaltina, no DF, após ter mantido relações com a mulher dele dentro de um carro.
À imprensa, Givaldo afirmou que não houve qualquer tipo de violência durante o ato sexual. O morador de rua disse que foi abordado na rodoviária da cidade e ambos seguiram no carro da mulher para um lugar menos movimentado – ele também afirmou que não sabia que se tratava de uma mulher casada. À polícia, ele ainda disse que a relação foi consensual: “Eu andava pela rua e ouvi um grito: ‘Moço, moço’. Olhei para trás e só tinha eu. E ela confirmou comigo dizendo: ‘Quer namorar comigo?’”.
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Essa prática dos partidos políticos em buscar nomes conhecidos em redes sociais, e até mesmo “celebridades”, já é comum. Nomes como o dele, que estão em alta, garantem votos para a eleição do maior número de candidatos em chapas proporcionais. Até o momento, não se tem informação de que Givaldo Alves aceitou algum dos convites. Por enquanto, o seu caso, além de ganhar as redes, está tramitando na justiça.
Nesta quinta-feira (24), a Vara Cível de Planaltina solicitou a apresentação de documentação que prove o atual quadro de saúde da mulher flagrada mantendo relações sexuais com ele. O juiz Eduardo da Rocha Lee fez a solicitação em virtude da ação que Eduardo Alves pede a suspensão de perfis fakes do casal nas redes sociais. O juiz afirmou que os documentos sobre a saúde da mulher são necessários para justificar a nomeação de uma outra pessoa para representá-la no processo judicial.
Cobertura é criticada por feministas
A repercussão do caso envolvendo Givaldo Alves e a mulher está sendo amplamente criticada por pesquisadoras feministas. A professora do curso de História da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), Alcileide Cabral, especialista em história do feminismo e em relações de gênero, disse que esse é um caso exemplar do componente machista da sociedade brasileira. “E se fosse um homem que tivesse tido relação com uma moradora de rua? Todos os dias, homens procuram travestis e prostitutas nas ruas e isso não é motivo de matéria e nem fabrica celebridades”.
A professora também questionou o silêncio da mulher: “Existem duas narrativas. A do marido e do morador de rua. A mulher está silenciada, sempre falam por ela e está sendo taxada de ‘louca’. E se fosse o fato dela desejar outro homem? Qual seria o problema disso?”, perguntou Alcileide.
A colunista do UOL Nina Lemos também criticou a repercussão do caso, questionando a exposição da mulher. Para ela, esse assunto poderia ser resolvido entre o casal. “E, cada vez que se fala no assunto, a mulher envolvida é mais exposta. O assunto poderia ter sido resolvido pelo casal. Mas não, logo o marido apareceu dando detalhes do ocorrido. Segundo ele, a mulher teria tido um episódio psiquiátrico”, comentou.
Nina Lemos criticou também a transformação de Givaldo em uma espécie de subcelebridade. “Para alguns, ele é uma espécie de ‘mito’, já que pegou “a gostosona”. E o que ele tem feito em cada entrevista que dá? (sim, ele está sendo requisitado). Conta supostos detalhes do sexo, com direito a muitos comentários sobre as ‘habilidades’ da mulher. E eles são publicados por aí sem dó, como se isso não fosse uma exposição absurda de uma mulher”, comentou.
A política no Brasil é uma piada, desse jeito nunca que o Brasil vai ser um país de primeiro mundo.