A carta enviada nesta sexta-feira (16) ao presidente Michel Temer pelo cineasta João Batista de Andrade (ver íntegra abaixo), para comunicar a decisão de deixar o governo ao qual servia como ministro interino da Cultura, é mais um capítulo nas divergências internas do PPS sobre a permanência ou não na administração federal. Com uma pequena mas influente bancada, o partido tem dez deputados liderados por Arnaldo Jordy (PA), que defende o desembarque do governo.
Cineasta premiado, autor de filmes como O homem que virou suco e militante histórico do PCB e do seu sucedâneo, o PPS, João Batista de Andrade ocupava provisoriamente o cargo que antes pertencia ao deputado federal Roberto Freire (SP). Freire pediu demissão após Temer ter sido acusado de avalizar a compra do silêncio do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Raul Jungmann, também do PPS, decidiu continuar ocupando a cadeira de ministro da Defesa “pela relevância de sua área de atuação de segurança do Estado brasileiro neste momento de crise e indefinições”.
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Jungmann, que é suplente de deputado federal (PE), é responsável por um ministério administrativamente muito mais complexo do que a pasta da Cultura e que correria o risco de colapso administrativo na relação com as Forças Armadas, que precisam de ordens objetivas no dia a dia para funcionarem.
Na condição de interino, João Batista de Andrade vinha acumulando atritos com Temer e outros ministros e sua substituição era dada como certa, mais cedo ou mais tarde. Desgastado com tais conflitos e sem engolir mais as desculpas do chefe Temer depois do caso JBS, ele desistiu de esperar que o presidente da República encontrasse um substituto para o cargo de ministro da Cultura.
Embora tenha saído do governo por causa da crise JBS, Freire defende os projetos de interesse do Palácio do Planalto e pressiona os colegas de bancada a seguirem essa orientação.
Parte da cúpula do PPS acredita que o país pode ser gerido por um governo de caráter congressual, onde o presidente faz tudo o que a maioria do Senado e da Câmara quer, concentrando-se na defesa das acusações.
O governo procura agora um nome com penetração no eixo cultural do Rio e São Paulo e, ao mesmo tempo, que possa ajudar a manter ou até ampliar sua base de apoio, principalmente entre os deputados federais.
Veja a íntegra da carta de João Batista de Andrade:
“Brasília, 16 de junho de 2017.
Ao Excelentíssimo Presidente da República Senhor Michel Temer:
Comunico a Vossa Excelência, respeitosamente, o meu desinteresse em ser efetivado como Ministro de Estado da Cultura, posto que venho exercendo interinamente, e por determinação legal do regimento interno, por ser o atual Secretário-Executivo do Ministério da Cultura.
Assim sendo, confirmo a minha disposição para contribuir da forma mais proativa possível com a transição de gestão do Ministério da Cultura, até a nomeação dos próximo Ministro do Estado da Cultura e seu respectivo Secretário-Executivo.
Respeitosamente,
João Batista de Andrade
Ministro de Estado”
Interino da Cultura”
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