Condenado a 37 anos de prisão como operador do mensalão, esquema que levou à prisão os principais nomes da cúpula petista durante o governo Lula, Marcos Valério produziu cerca de 30 anexos para entregar às autoridades mineiras. Réu nesse processo, Valério narra um episódio diferente para cada um dos trechos da delação, em narrativa sobre esquema de corrupção que consistia, segundo o delator, em desvio de recursos públicos de estatais mineiras com o objetivo de reeleger o então governador Eduardo Azevedo (PSDB), em 1998. O tucano recorre em liberdade de uma sentença de 20 anos de prisão e nega recorrentemente ter sido beneficiado por ações ilícitas.
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Valério confirmará, segundo o jornal O Tempo, uma rede de corrupção instalada em Furnas, empresa mineira do setor elétrico, para beneficiar candidatos do PSDB. Segundo a delação, o esquema consistiu na subtração de recursos da subsidiária da Eletrobras, estatal federal sediada no Rio de Janeiro, para reforçar os cofres eleitorais de tucanos via caixa dois. Além do caixa de políticos do PSDB, contas de partidos aliados também foram alimentadas com dinheiro não declarado à Justiça Eleitoral.
Fator Delcídio
A Justiça já investiga tais denúncias de corrupção e lavagem de dinheiro em Furnas, e não só em Minas Gerais. No judiciário do Rio de Janeiro, o ex-deputado e presidente de honra do PTB, Roberto Jefferson, além de outras seis pessoas viraram réus devido a denúncias de participação no esquema – cujo investigação atinge o presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves (MG), em desdobramento da Operação Lava Jato. A esse respeito, um inquérito conduzido pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes contém relatos do senador cassado Delcídio do Amaral (PT-MS) sobre Aécio, como beneficiário de desvios. Segundo Delcídio, Aécio recebeu propina de Furnas e agiu para maquiar dados.
Governador de Minas entre 2003 e 2010, o tucano também tem negado repetidamente que participou de esquema de corrupção. O Congresso em Foco tentou falar por telefone com o senador e chegou a falar com sua assessoria, mas a ligação foi interrompida. Por meio de nota (leia abaixo), o PSDB de Minas Gerais diz que Valério mente e não tem credibilidade para fazer acusações.
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“As negociações para a delação premiada entre Marcos Valério e o Ministério Público de Minas estão em curso desde junho do ano passado, quando a defesa protocolou o interesse de um acordo. Hoje, quase 20 dias após o MP receber os documentos, ainda não foi marcado o próximo passo, que seria o depoimento e a homologação do acordo. Procurada, a defesa do operador dos mensalões petista e tucano não foi encontrada para comentar a informação. A assessoria do MP informou que não há novidades no caso”, diz trecho da matéria assinada pela repórter Tâmara Teixeira.
“Valério também tem interesse em fazer uma delação em âmbito nacional. Conforme O Tempo já noticiou, o empresário redige denúncias em que cita 50 autoridades e políticos do Legislativo, do Judiciário e do Executivo com atuações em Minas, Rio, São Paulo e Brasília. […] No nível nacional, segundo apurou a reportagem, Valério teria documentos que poderiam comprovar irregularidades envolvendo tucanos e alguns aliados. O principal deles é um conjunto de arquivos e extratos bancários que mostrariam o real cenário dos empréstimos feitos no Banco Rural e que teriam sido maquiados antes de serem entregues à CPI dos Correios em 2005, como já disse o ex-senador Delcídio do Amaral. A suposta fraude está em investigação no STF”, acrescenta a reportagem.
Valério recebeu a maior punição entre todos os réus da histórica Ação Penal 470, que durou quase dois e resultou em mais de 20 condenados. Foi condenado a 37 anos, cinco meses e seis dias de prisão em regime fechado, além de pagamento de multa fixado em R$ 4,4 milhões. No julgamento de um recurso, o STF o absolveu do crime de formação de quadrilha.
Leia a íntegra da nota do PSDB mineiro sobre o assunto:
“Marcos Valério não tem nenhuma credibilidade, como atesta a própria Justiça.
Condenado criminalmente a uma pena de quase 40 anos de reclusão em regime fechado, ele é conhecido pelas inverdades que propala.
Basta dizer que, recentemente, mesmo preso, chegou a apresentar documento falso à justiça com objetivo de conseguir uma transferência prisional. O próprio juiz responsável pelo caso atestou que ele teria forjado um contrato de aluguel fictício para enganar autoridades e conseguir benefícios da justiça. O que esperar de alguém que mesmo preso, não se intimida e continua mentindo e enganando a Justiça?
Em tentativas desesperadas nos últimos meses, Valério vem se oferecendo para fazer uma delação premiada que até hoje não foi aceita pelo Ministério Público Federal.
Circula [sic] no meio político informações de que, para se valorizar, chamar atenção da imprensa e enganar autoridades com objetivo de angariar vantagens pessoais, Valério estaria misturando relatos falsos entre antigas revelações verdadeiras já feitas.
Mesmo porque, fica a pergunta: se ele dispunha de informações verdadeiras sobre fatos incorretos, por que os escondeu da Justiça durante todos esses anos?
Caso Valério efetivamente faça falsas acusações contra o partido que, justamente por serem falsas, não serão provadas, o PSDB atuará juridicamente para que a lei seja cumprida e, como previsto no texto legal, Valério seja impedido de obter qualquer benefício penal ou pessoal às custas de fraudes processuais e do uso da mentira, da calunia e da difamação de terceiros.”
Leia a íntegra da reportagem do jornal O Tempo
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