Fábio Góis e Rodolfo Torres
Se o plenário do Senado dá sinais de calmaria em plena crise, mesmo depois da descoberta de mais 468 atos administrativos clandestinos, nos arredores do recinto o clima é de guerra. Cerca de dez estudantes de várias instituições de ensino de Brasília foram recebidos há pouco com empurrões, “gravatas”, torções de braço e pontapés pelos seguranças da Casa, porque queriam repetir o manifesto a que chamam de “Ato Secreto Popular” – que, como o nome sugere, quer o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), fora do posto.
Estudantes fazem ato “fora Sarney” no Senado
“É um absurdo o povo ser impedido de entrar na Casa que é do povo. Vocês deveriam prender esses corruptos, ladrões que roubam milhões, e estão aqui dentro. E com a cumplicidade dos seguranças. É uma ditadura branca”, gritava o estudante de agronomia da Universidade de Brasília (UnB) Rodrigo Grassi, conhecido como “Pilha”, enquanto seguranças o prendiam pelo braço e tentavam levá-lo à Polícia Legislativa do Senado – mas o “muro” formado por repórteres, fotógrafos e cinegrafistas impedia a tentativa.
Filiado ao PT e integrante da Coletivo Individual de Mobilizações e Ativismo (Cima), Pilha não se intimidou. “Tem que sair não só Sarney, mas toda a Mesa Diretora. Esse é apenas mais um de nossos atos secretos populares”, avisou Pilha, que, antes de entrar na espécie de delegacia localizada no subsolo do prédio do Senado, disse ao Congresso em Foco temer mais agressões – desta vez a portas fechadas.
“Queiram ou não queiram, vamos continuar. Polícia é para ladrão, não para estudante”, emendava Marcelo Valente, estudante do Centro Universitário de Brasília (Ceub), que entoava palavras de ordem contra os “pizzaiolos safados” do Senado. No ápice do nervosismo, um dos agentes chegou a tomar os documentos de um dos manifestantes, depois de torcer com muita força o braço do rapaz, o estudante de ciências sociais da UnB Hugo Todde.
No manifesto havia inclusive estudantes do ensino fundamental, entre os quais dois menores de 18 anos, de instituições como Sigma e Colégio Ceub. O pai de um dos menores chegou ao Senado dizendo que nunca havia ido antes a uma delegacia de polícia. “Me congratulo com minha filha. Ela é menor juridicamente, mas não politicamente”, disse o farmacêutico Severino de Moraes, pai de um dos adolescentes.
No caso dos maiores, cogita-se até o encaminhamento do caso para a Justiça. Para entrar na Casa, um dos jovens se valeu de um crachá emprestado, o que configuraria falsidade ideológica.
Exagero
Logo depois da detenção, os senadores Arthur Virgílio (PSDB-AM), Eduardo Suplicy (PT-SP), Cristovam Buarque (PDT-DF) e José Nery (PSol-PA) foram à polícia do Senado tomar conhecimento da situação dos jovens.
Líder do PSDB, Virgílio disse que, graças ao excesso de truculência, o chefe da segurança poderia ser afastado do cargo. Para o tucano, o Senado está parecendo uma “delegacia de polícia” nos últimos dias. “Só um insensato acha que eles [os estudantes] vão parar”, destacou Virgílio, que, junto com Cristovam, formalizarão amanhã (14) um pedido de demissão do diretor da Polícia Legislativa, Pedro Ricardo Araújo Carvalho, junto à Diretoria Geral.
Para Suplicy, houve “exagero de procedimentos” por parte dos agentes de segurança. O petista disse que levaria o caso ao conhecimento de Sarney, que presidia a sessão no momento em que o manifesto começou.
Interferência
Durante o tumulto, fontes informaram à reportagem que a ordem para deter os estudantes partiu de Sarney. A assessoria de imprensa de Cristovam disse que foi sugerido pelo primeiro-secretário do Senado, Heráclito Fortes (DEM-PI), que os estudantes deixassem registro de identificação e fossem liberados. Mas, segundo a assessoria do pedetista, Sarney exigiu não só que a manifestação não fosse tolerada, mas que os estudantes só fosse liberados depois de prestar depoimento.
Já a assessoria de Sarney nega a informação, e disse que o senador apenas solicitou à polícia do Senado, “com muito respeito”, que liberasse os estudantes dentro das exigências regimentais. Segundo o porta-voz de Sarney, Chico Mendonça, o peemedebista lembrou que a polícia tem autonomia em relação à Presidência quando se trata de segurança institucional, e que caberia ao diretor Pedro Ricardo a decisão sobre os procedimentos no episódio.
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