Complicado o momento que vive o planeta. Crise climática. Emergência de governos e grupos políticos totalitários, em todos os continentes. Guerras na Europa e no Oriente Médio trazendo de volta a ameaça nuclear. E os problemas de sempre: grandes desigualdades sociais e econômicas; vastas populações afetadas pela fome, pela miséria e pelo desemprego; além do complexo desafio de garantir direitos iguais independentemente de gênero, raça, etnia e identidade sexual.
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Nos últimos dias e nos próximos Nova York foi e será o centro global para debate desses temas. É a chamada Semana do Clima, ou Climate Week no inglês. Começou semana passada com a 5ª Conferência Global SDG, cujo quilométrico nome oficial encurto aqui. SDG é a sigla em inglês para Objetivos do Desenvolvimento Sustentável, ODS. O encontro foi realizado nos dias 19 e 20, com o apoio do governo brasileiro, pelo Pacto Global da ONU, uma iniciativa que busca congregar e incentivar o setor privado a avançar no cumprimento dos ODS.
Gestores públicos e privados discutiram o papel que o Brasil, dono da maior área de florestas tropicais e das maiores reservas de água doce do mundo, pode desempenhar nos próximos anos e décadas no enfrentamento dos maiores desafios globais.
Os debates, que culminarão na Assembleia Geral da ONU nesta terça-feira (24), seguiram pelo fim de semana com a Cúpula do Futuro, iniciada ontem e que encerrará hoje (23), reunindo mais de 120 chefes de Estado e de governo.
Um dos documentos preparatórios para o evento propõe o entendimento dos países em torno de seis mudanças: restauração da confiança no multilateralismo; recuperação do equilíbrio com a natureza; garantia de recursos financeiros sustentáveis em favor de toda a população global; “transição digital justa, que destrave o valor dos dados e ofereça proteção contra ameaças digitais”; articulação de “arranjos de segurança coletiva equitativos e eficazes”; e um novo sistema de governança entre as nações para fazer face aos riscos transnacionais atuais e emergentes.
Há várias razões para o Brasil estar em evidência nas discussões em Nova York, sem contar o tradicional direito de abrir a assembleia anual das Nações Unidas. Um deles é a boa avaliação nos fóruns internacionais das medidas adotadas por aqui em reação aos abusos da extrema direita, seja para processar e punir os envolvidos no 8 de janeiro, seja para frear a recusa de Elon Musk, dublê de bilionário e ativista do populismo radical de direita, a respeitar as leis e o Judiciário nacionais.
Também aumenta o peso brasileiro no cenário externo o fato de Lula ocupar atualmente a presidência do G-20, grupo que reúne as economias mais fortes do mundo.
Mas é o papel estratégico do Brasil no campo climático que nos assegura inescapável protagonismo, sobretudo neste momento em que somos cenário de enchentes e de queimadas, entre outros desastres.
Aí que o bicho pega. Nós, que deveríamos ser um ativo precioso na guerra contra o aquecimento global, nos tornamos uma das maiores vítimas dele, jogando carga portanto no passivo. Há os fatores climáticos: a seca extrema, batendo recordes sucessivos; o regime de chuvas totalmente alterado, com escassez mais longa e também enchentes cada vez mais catastróficas. Há os fatores culturais: botar fogo, como parte do processo de cultivo ou mesmo para limpeza de terreno, é uma prática comum de boa parte da população rural e silvestre, mas muita gente ainda não entendeu que é preciso abrir mão dela, no mínimo quando estivermos no auge da estiagem.
Para variar, porém, está na política o aspecto mais crítico da questão. Como sabemos, no governo anterior, o então presidente e o seu ambientalista preferido, o atual deputado Ricardo Salles (PL-SP), desmantelaram criminosamente os órgãos ambientais para “passar a boiada”. A atual ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, e sua equipe têm trabalhado na direção correta para fazer cumprir — e aprimorar — as normas legais que possibilitam minorar os estragos e avançar no cumprimento das metas de desmatamento.
Ficou óbvio, no entanto, que há em curso uma ação deliberada para produzir incêndios criminosos, com o auxílio de administradores irresponsáveis como o governador Mauro Mendes (MT-União Brasil) e de legisladores que ainda não entenderam o tamanho da encrenca que enfrentamos. Notícias sobre prisões de quem bota fogo em mata pipocam aqui e ali, contam-se às muitas dezenas os inquéritos já abertos pela Polícia Federal para investigar tais ações, mas os órgãos de segurança e de controle ambiental — federais, estaduais e municipais — parecem débeis para dar conta do problema.
Em meio a tanta tristeza, destaquemos uma coisa bem legal. Trata-se da Casa Amazônia Nova York, que volta a dar as caras a partir desta segunda-feira (23) em Nova York, após estrear na Semana do Clima no ano passado. Em vez de ficar no chororô, Ana Claudia Costa, Célia Barbosa e Caroline Rocha — as três responsáveis pela Casa Amazônia — estão em busca de soluções. Ou seja, de saídas sustentáveis para o desenvolvimento da Amazônia, em benefício da região, do seu povo e da natureza.
Dão uma espécie de cartão de visitas para a 30ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças do Clima, mais conhecida como COP-30. Ela transformará Belém no palco mundial dos debates climáticos entre 10 e 21 de novembro de 2025.
Voltemos à Casa da Amazônia, porém. Além de mostrar como técnicas ancestrais e inovações contemporâneas possibilitam manejar o território amazônico de modo sustentável, o local servirá de ponto de convergência de ambientalistas, lideranças indígenas, empresários, líderes comunitários, autoridades, acadêmicos, intelectuais e artistas unidos pelo objetivo comum de salvar o planeta — não é brincadeira, gente, não deem ouvidos aos negacionistas — da autodestruição. Infelizmente, a imbecilidade, encabeçada pelo mesmo neofascismo que nos põe diante de aberrações como bolsonaros, trumps e outros marcais, nos deixa a cada minuto mais perto disso.
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Congresso contribui para a crise climática
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