Na conversa de 1h15 min, Sérgio Machado demonstra preocupação com a possibilidade de sua investigação “descer” (de instância) do Supremo Tribunal Federal (STF) para as mãos do juiz federal Sérgio Moro, em Curitiba: “Então eu estou preocupado com o quê? Comigo e com vocês. A gente tem que encontrar uma saída”, declarou. De acordo com ele, as novas delações da Lava Jato não deixariam “pedra sobre pedra”. Ainda no exercício do mandato de senador, do qual se licenciou para assumir o ministério, Jucá concordou que o caso de Machado “não pode ficar na mão desse [Moro]“.
Jucá, então, orientou Machado a se reunir com Renan e o ex-presidente do Senado José Sarney (PMDB-AP) para articular uma “ação política”. O senador disse que o governo Michel Temer construiria um pacto nacional “com o Supremo, com tudo”. Machado disse: “Aí parava tudo”. “É. Delimitava onde está, pronto”, emendou Jucá, a respeito das investigações.
Embora não deixe claro que se refere às articulações relatadas na conversa entre Jucá e Sérgio Machado, Joaquim Barbosa já havia feito postagens com críticas ao processo de impeachment, que diz considerar equivocado. Além disso, segundo o ex-presidente do STF, Michel Temer não tem legitimidade para capitanear o país.
Leia trechos do diálogo entre Romero Jucá e Sérgio Machado
O senador contou ainda que mantinha conversas com ministros do Supremo e que eles associavam a saída de Dilma ao fim das pressões da imprensa e de outros setores pela continuidade das investigações da Lava Jato. Depois do vazamento dos diálogos, Jucá justificou que conversou com Sérgio Machado não como ministro, mas como senador. “Não há na conversa nenhum posicionamento diferente do que tive em entrevistas e em questões públicas”, explicou o senador. “Vou pedir licença do cargo a partir de hoje a noite, quando vou pedir ao Ministério Público Federal que se manifeste e diga se há ou não irregularidade na minha conversa com o ex-senador Sérgio [Machado]“, afirmou.
Ao tentar explicar a conversa, Jucá alegou: “Quando disse em estancar sangria não me referi à Lava Jato. Falava sobre a economia do país, e entendia que o governo Dilma tinha se exaurido”, disse Jucá. E acrescentou: “Entendia que o governo Temer teria condição de construir outro eixo na política econômica e social para o país mudar de pauta”.
Enquanto estiver afastado do cargo de ministro do Planejamento, Jucá assume suas funções no Senado, onde disse que vai trabalhar pela rápida aprovação da nova meta fiscal do Executivo. Entretanto, a saída dele do cargo também não aplaca a crise no Executivo. Seu substituto no Planejamento, Dyogo Oliveira, é um dos citados na Operação Zelotes, da Polícia Federal, que investiga o pagamento de propina a membros do Conselho Administrativo de recursos Fiscais (Carf). Uma CPI do Congresso também investiga o envolvimento de políticos nas fraudes do Carf. O novo ministro deve ser convocado a depor na comissão.
Acusações
Sérgio Machado responde a inquérito no Supremo ao lado de Renan Calheiros, considerado responsável por sua indicação à Transpetro, subsidiária a Petrobras que presidiu entre 2003 e 2014 na cota do PMDB. Ele é apontado como beneficiário do esquema de corrupção na estatal por dois delatores. Um deles, o ex-diretor da companhia Paulo Roberto Costa contou que recebeu R$ 500 mil dele.
Já Romero Jucá responde a quatro inquéritos no STF. Pela Lava Jato (3989), o senador é suspeito de ter recebido propina. O dono da UTC, Ricardo Pessoa, disse que o peemedebista lhe pediu R$ 1,5 milhão para financiar a campanha do filho, candidato a vice-governador de Roraima em 2014. Ele também é investigado nos inquéritos 3297, 2116, 2963 por crimes eleitorais, de responsabilidade e contra a ordem tributária, apropriação indébita previdenciária e falsidade ideológica. Um dos procedimentos diz respeito à origem e ao destino de R$ 100 mil jogados para fora de um carro por um de seus auxiliares momentos antes de ser abordado pela polícia. O ato ocorreu durante a campanha eleitoral de 2010. O assessor disse que o dinheiro seria usado na campanha de Jucá.
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