Além de incluir o nome do presidente Luiz Inácio Lula da Silva pela primeira vez em uma de suas denúncias, o deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) conseguiu inverter os papéis no Conselho de Ética da Câmara. Denunciado por quebra de decoro parlamentar por acusar deputados de terem recebido dinheiro para votar com o governo, o petebista sentou-se na primeira fila do plenário para atacar aquele que seria uma testemunha do processo, o deputado José Dirceu.
Durante os 55 minutos em que se comunicaram, Jefferson e Dirceu trocaram acusações, tentando, cada qual, desqualificar o discurso do outro. O petebista voltou a acusar o ex-ministro da Casa Civil de comandar “o maior esquema de corrupção da história da República” e ironizou a declaração de Dirceu de que não teria conhecimento das irregularidades cometidas pela antiga Executiva Nacional do PT.
Fiel ao estilo teatral que caracterizou o seu depoimento ao Conselho de Ética em junho, Jefferson arrancou risos da platéia ao dizer, ironicamente, que temia o petista. "Ele (o enfrentamento) gera em mim uma grande satisfação. Tenho medo de vossa excelência, pois Vossa Excelência provoca em mim os instintos mais primitivos."
Veja os principais trechos da intervenção de Dirceu no Conselho de Ética da Câmara:
A inocência de Dirceu
"Depois de ouvir o ex-ministro, chego à conclusão que foi ele que treinou o Silvinho e o Delúbio. Quer dizer que não tem mensalão no Brasil, todos mentem, todo o povo brasileiro prejulga e o ministro Zé Dirceu é um pobre inocente?”
“Eu reitero que ele (Dirceu) sabia. Inocentes são os militantes do PT, esses são inocentes. A Agência Brasileira de Inteligência nunca contou isso para ele… O general-ministro de questões institucionais também não informou. Ninguém informou o ministro José Dirceu…”
A humildade de Dirceu
"O ministro José Dirceu, despido daquela arrogância que sempre teve, vem a esse Conselho dizer humildemente que não sabia dos empréstimos obtidos pelo sr. Marcos Valério, não sabia da movimentação financeira do PT, não sabia de nada. Não sabia de milhões de reais viajando dentro de malas – e a Polícia Federal não informava ao ministro mais importante do governo sobre nada disso. Vocês acreditam nisso?”
A ignorância de Dirceu
"Você, que está em casa, acredita nisso? A Polícia Federal não contava para o homem mais importante do governo. O Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras), que controla essas movimentações financeiras, não informou. O general (Jorge) Felix (Segurança Institucional), o delegado Mauro Marcelo (ex-diretor-geral da Abin), amigo pessoal dele, não diziam."
Crime de responsabilidade
“Os crimes que ele cometeu foram crimes de responsabilidade como ministro de Estado. Não foram crimes como deputado que ele não era. Reitero tudo que disse. O acordo feito pelo PTB com o PT para as eleições municipais do ano passado na Bahia foram fechados com ele na Casa Civil. O acordo fechado para as eleições no Paraná, em São Paulo, foram fechados com ele, sim, na Casa Civil. Como ele diz que não participou de acordos?”
Medo e “instintos mais primitivos”
"Pelo contrário, ele (o enfrentamento) gera em mim uma grande satisfação. Tenho medo de vossa excelência, pois Vossa Excelência provoca em mim os instintos mais primitivos"
O poder de Dirceu
"O José Genoino (ex-presidente petista) era vice-presidente do PT. O presidente de fato era o ministro José Dirceu. Tudo o que nós tratávamos na sede nacional do PT tinha que ser fechado e homologado depois na Casa Civil pelo ministro José Dirceu."
“Vossa excelência não estava sozinho, não tinha esse poder todo."
Furnas
“Vossa Excelência falseia a verdade no episódio de Furnas. O assunto foi tratado no gabinete do presidente Lula entre mim, Vossa Excelência, o ministro Walfrido (Mares Guia, do Turismo) e o presidente Lula ouvindo.”
Acerto com a Portugal Telecom
“No fim de 2004, o ministro Dirceu tratou da aproximação da Portugal Telecom com Lula. Ele ordenou que PTB e PT mandassem emissários a Portugal. Eles viajaram nos dias 24, 25 e 26 de janeiro deste ano e a CPI vai checar. O objetivo era negociar com o grupo um acordo que pusesse em dia as contas dos dois partidos.”
Deixe um comentário