Os brancos de Boa Vista consideram que os índios estão em situação de miséria ou mesmo condições sub-humanas. Maria Galé afirma que não é nada disso. “Ninguém está passando situação difícil demais, não. A gente trabalha pra poder se alimentar. O mais difícil, negócio de sal e sabão, a gente vai comprar pra lá. Mas farinha a gente faz”, explica Maria Galé, sogra do twxawa – espécie de cacique – do local.
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Na viagem pela Raposa, a reportagem cruzou com várias caminhonetes da Secretaria de Saúde Indígena (Sesai) do Ministério da Saúde. O trabalho é elogiado pelos índios, que recebem vacinação na própria aldeia. Mas, para Maria Galé, é preciso obter obter máquinas para fazer a plantação de mandioca de forma mecanizada.
O que ela comemora é paz depois da demarcação é a paz. Maria Galé acusa os fazendeiros de, no auge dos conflitos, incendiarem as casas durante a madruga. E exibe a foto de um cunhado, que foi baleado nas muitas brigas envolvendo índios e arrozeiros.
Hortaliças, bolo e refrigerante
Na comunidade da Vila Contão, Otacílio Gustavo, 49 anos, quatro filhos, reclama da infraestrutura do lugar. Pra sobreviver, ele faz de tudo: planta hortaliças no fundo de casa, vende sucos, bolos, refrigerante e salgados no vilarejo. Quando não é ambulante na Raposa Serra do Sol, vai pra Boa Vista trabalhar como pedreiro autônomo.
“Precisa de asfalto. E energia 24 horas. Porque a gente só vai trabalhar quando tem energia”, afirmou seu Otacílio, em cima de sua motocicleta. Com ela, faz o trajeto Raposa-Boa Vista, uma distância de cerca de 200 quilômetros. Ele acabara de comprar pregos para fazer mais mesas e facilitar seu trabalho. Otacílio morou sete anos no norte do Mato Grosso, onde os brancos pagavam para explorar as terras indígenas. “Aqui, eles não davam um centavo pra gente”, afirmou.
No local onde antes funcionava a fazenda Providência, o próprio deputado Quartieiro destruiu as construções ele edificou em 20 anos de trabalho depois que soube que teria mesmo que sair da região. Mas o abandono não ficou restrito ao momento da retirada dos arrozeiros.
Ao lado de uma ponte queimada na região, encontramos um tamanduá morto. O cadáver do animal ainda fedia. Junto com ele, uma folha de papel recente com tinta de caneta azul indicava: “Te amo, beiby (sic)”.
*O repórter viajou a convite da Comissão da Amazônia da Câmara
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