O presidente Lula disse hoje (8), em declaração conjunta com o presidente da Alemanha, Horst Köhler, que o governo brasileiro está empenhando em retomar as negociações da rodada de Doha da Organização Mundial do Comércio (OMC), suspensas em julho. Lula aproveitou para criticar os subsídios agrícolas dos Estados Unidos e pediu maior flexibilidade para a União Européia (UE).
“Se não houver acordo que signifique dar uma chance para os países mais pobres se desenvolver com um comércio mais justo, não poderemos combater a pobreza, a fome e o terrorismo”, disse Lula.
“O Brasil está disposto a construir uma engenharia comercial para que nos próximos três ou quatro semanas nós possamos anunciar que os países mais pobres terão a chance para se desenvolver”, disse Lula ao colega alemão.
O líder brasileiro declarou que o Brasil e os países que integram o G20 estão dispostos a permitir uma flexibilização da entrada de produtos industrializados e dos serviços, desde que a UE abra seu mercado agrícola e os EUA acabem com os subsídios aos produtores agrícolas.
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“Nós queremos que a União Européia flexibilize o mercado agrícola para os países pobres e não estou falando, necessariamente do Brasil que é bastante competitivo nessa área”, afirmou. “E queremos que os EUA reduzam os subsídios que são tão importantes para os produtores internos, mas tão nefastos ao livre comércio”, complementou.
O presidente alemão afirmou estar otimista em relação à retomada das negociações da OMC, e comprometeu-se em ajudar no diálogo. “Tenho certeza de que levaremos as negociações num bom termo porque os vencedores não serão as nações industrializadas e o Brasil, mas todo mundo, em especial as nações pobres”, afirmou.
Publicidade"O presidente Lula me convenceu quanto é importante os biocombustíveis. É importante a liderança do Brasil nesse segmento. Somos quase parceiros naturais e temos que olhar para a experiência do Brasil na eficiência energética”, disse o presidente alemão.
Lula ressaltou a necessidade de investimentos no Programa de Aceleração de Crescimento (PAC). “Os homens de negócios alemães sabem investir e queremos que eles invistam no PAC em infra-estrutura e energia”, disse Lula.
Meio-ambiente é tema de encontro com alemão
Em visita ao Congresso, o presidente da Alemanha, Horst Köhler, manifestou preocupação com as mudanças climáticas e ressaltou a importância de ações para proteger a Amazônia e evitar desmatamentos. Köler foi recebido pelos presidentes da Câmara, Arlindo Chinaglia, e do Senado, Renan Calheiros.
Köhler afirmou que tem conhecimento das ações do governo brasileiro na área de meio ambiente e acredita que essas iniciativas devem constituir prioridade dos governos de todos os países. O presidente da Alemanha ressaltou a importância do parlamentos na manutenção da democracia.
Garcia quer o fim dos subsídios agrícolas nos EUA
O assessor da Presidência da República para Assuntos Internacionais, Marco Aurélio Garcia, disse hoje (8) que o Brasil prefere que os Estados Unidos acabem com os subsídios aos seus produtos agrícolas a um pacote de ajuda proposto pelo presidente norte-americano, George W. Bush.
“É claro que ninguém vai recusar qualquer ajuda que os EUA tenham a oferecer. Mas a verdadeira ajuda virá do fim dos subsídios agrícolas que prejudicam o comércio internacional”, disse Garcia, após almoço de recepção ao presidente alemão Horst Köhler.
O presidente Lula, em declaração conjunta com o líder alemão, já havia criticado o protecionismo americano.
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Bush chega a São Paulo
O avião Air Force One, aeronave presidencial norte-americana, pousou hoje (8), por volta das 20h, no Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos. O presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, foi recepcionado no aeroporto pelo chefe do cerimonial do Itamaraty, Ruy Casaes.
A passagem do líder americano pelo Brasil deve durar menos do que 24 horas. Durante a sua estadia no país, Bush visitará amanhã (9) a Transpetro, almoçará com o presidente Lula e assistirá a uma apresentação da ONG Meninos do Morumbi. Não há atividades previstas na agenda de Bush para hoje (8).
Protestos e críticas antecedem chegada de Bush
Divergências diplomáticas e protestos de movimentos sociais e partidos políticos marcaram a véspera da chegada ao Brasil do presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, que desembarca esta tarde em São Paulo.
A ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, destacou ontem que a aproximação do governo brasileiro com os Estados Unidos não fará o país rever seu relacionamento com a Venezuela. O país “não tem relações excludentes”, disse a ministra.
Em nota, o Ministério das Relações Exteriores protestou contra o relatório divulgado nesta semana pelo Departamento de Estado americano a respeito da situação dos direitos humanos no país e no mundo. O relatório menciona a tentativa de compra de um dossiê por integrantes do PT contra políticos tucanos e diz que os envolvidos tinham relações estreitas com Lula.
O Itamaraty disse ontem que não reconhece a legitimidade do documento e que o governo não "aceita relatórios elaborados unilateralmente por países, segundo critérios domésticos, muitas vezes de inspiração política".
O governador de São Paulo, José Serra (PSDB), também protestou contra o relatório, que apontou supostos abusos da Polícia Militar de São Paulo. Serra afirmou que gostaria de ver no relatório informações sobre Guantánamo, base norte-americana em Cuba acusada de maltratar prisioneiros.
O governo americano sinalizou que não atenderá ao desejo do presidente Lula de rever a tarifa do álcool combustível. No Brasil, Bush pretende iniciar parceria para produção de etanol em escala continental para diminuir a dependência do Oriente Médio e criar uma barreira econômica ao venezuelano Hugo Chávez.
Entidades ligadas aos sem-terra e aos partidos de esquerda promoveram protestos por todo o país ontem. Foram registradas invasões em Alagoas, em Minas, na sede do Banco de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), no Rio, e em uma usina comandada por uma empresa americana no interior de São Paulo.
Em Brasília, cerca de 50 militantes do Psol protestaram no gramado em frente ao Congresso e incendiaram um boneco que representava o presidente dos Estados Unidos. O presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), mandou retirar do plenário uma faixa estendida por deputados do Psol com a frase "Bush não é bem-vindo".
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