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Em meio a uma reunião tumultuada, marcada por bate-bocas, trocas de acusações e vaias, a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Correios aprovou ontem a convocação do tesoureiro licenciado do PT, Delúbio Soares, e de Renilda Maria Santiago Fernandes de Souza, mulher do publicitário Marcos Valério Fernandes. A data dos depoimentos ainda não foi marcada. Os parlamentares também aprovaram o pedido de quebra dos sigilos fiscal, bancário e telefônico do deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ). A CPI ouviu ontem Fernanda Karina Somaggio, ex-secretária do publicitário. Ela reforçou as denúncias contra o ex-patrão e apontou contradições no depoimento dele. A temperatura se elevou quando a oposição tentou votar a quebra do sigilo do ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, do presidente do PT, José Genoino, do secretário-geral licenciado do partido, Sílvio Pereira, e de Delúbio. Aos gritos, oposicionistas e petistas trocaram acusações de violar as regras estabelecidas pela CPI. A situação só se acalmou quando os quatro petistas, convencidos pelo senador Sibá Machado (PT-AC), autorizaram, por fax, a quebra dos seus dados bancário, fiscal e telefônico. Publicidade
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Mal-entendido Os ânimos voltaram a se acirrar com a leitura de uma nota encaminhada por Jefferson à CPI. Os membros da comissão haviam pedido a ele que esclarecesse a afirmação, feita no Programa do Jô, na TV Globo, de que integrantes da CPI teriam recebido o mensalão. No ofício, o deputado se retratou, dizendo que se referira ao Conselho de Ética da Câmara. Ao questionar a autoridade moral dos petistas, Jefferson acusou a senadora Ideli Salvatti (SC), que integra a executiva do PT, de não ter isenção para julgá-lo. Dúbio, o texto deu a entender que a senadora seria uma das pagadoras do mensalão. Publicidade“É inadmissível que essa nota seja lida em plenário e coloque sob suspeição todos os parlamentares do PT. A CPI vai admitir essa acusação feita contra mim? Exijo uma acareação imediata com o deputado Roberto Jefferson! Ele não pode continuar achincalhando o Congresso Nacional sem apresentar uma única prova”, protestou Ideli. Em meio à confusão, a assessoria do deputado esclareceu que Jefferson não acusara a senadora, mas a executiva do partido. Ex-secretária aponta contradições Acalmados os ânimos, a CPI ouviu a ex-secretária do publicitário Marcos Valério. Durante quase seis horas, Fernanda Karina reiterou que o empresário mantinha relações escusas com dirigentes petistas para impulsionar os seus negócios e apontou contradições no depoimento do ex-chefe. Diante das diferentes versões apresentadas pelos dois, o presidente da CPI, senador Delcídio Amaral (PT-MS), disse que a comissão fará uma acareação. Segundo ela, funcionários da SMP&B e da DNA, agências de Valério, faziam vultosos saques em agências do Banco Rural para pagar deputados. "Ele (Valério) falava algumas vezes com o Delúbio (Soares) e depois ligava para outras pessoas falando ‘olá deputado, amanhã vou estar em Brasília’. Um dia que eu o ouvi falando isso teve um saque e ele viajou no dia seguinte", afirmou. Intimidade com Mentor Fernanda Karina disse que o publicitário mantinha contato com um doleiro preso, em Belo Horizonte, pela operação Farol da Colina da Polícia Federal, e o deputado José Mentor (PT-SP), relator da CPI do Banestado. A CPI identificou remessas suspeitas de dinheiro para o exterior de duas empresas de Valério. A ex-secretária declarou que o publicitário acompanhava de perto as investigações da comissão de inquérito que apurou denúncia de evasão de divisas. "Uma vez, quando Mentor telefonou com uma notícia sobre a CPI do Banestado, o senhor Marcos Valério mandou que eu pegasse as 25 pastas suspensas em que ele guardava notas fiscais e de investimentos e picotasse tudo", contou. "Foram feitos quatro sacos de papel picado. O Marcos Valério só saiu da minha frente quando eu tinha picado tudo", detalhou. Em seu depoimento à CPI dos Correios, Valério disse que se encontrara com Mentor apenas para discutir o destino de campanhas eleitorais no interior paulista. A DNA Publicidade é suspeita de ter enviado US$ 1 milhão para bancos no estrangeiro, por intermédio de doleiros ou da conta Beacon Hill, off-shore apontada pela CPI do Banestado como um dos postos da lavanderia de dinheiro. Transação bilionária Dados da Receita Federal em poder da CPI dos Correios indicam que o publicitário e a mulher dele movimentaram, em suas contas pessoais, R$ 46 milhões entre 2000 e junho de 2005. Nesse mesmo período, seis das empresas de Valério fizeram transações no valor de R$ 1,66 bilhão. Segundo a Receita, o patrimônio do publicitário foi multiplicado por 60 nos últimos sete anos. Em 1997, os bens dele estavam avaliados em R$ 230 mil. No ano passado, a declaração indicava um patrimônio de R$ 14 milhões. |
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