“Determinarei à Procuradoria Parlamentar da Câmara que ingresse com a interpelação judicial semana que vem, independente da CPI. A sua acusação atinge a CPI como um todo e a Câmara como um todo, devendo ela esclarecer ou ser responsabilizada por isso”, escreveu Eduardo Cunha em sua conta no Twitter esta manhã. “A Mesa Diretora da Câmara tem a obrigação de interpelá-la judicialmente para que diga quais ameaças sofreu e de quem sofreu as ameaças”, reforçou.
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Responsável por nove dos 22 acordos de delação premiada da Operação Lava Jato, Beatriz disse, em entrevista ao Jornal Nacional na última quinta-feira (30), que decidiu abandonar a carreira de advogada e deixar o país em razão das ameaças dirigidas contra ela e sua família. “Não recebi ameaças de morte. Não recebi ameaças diretas, mas elas vêm de forma velada. Elas vêm cifradas”, disse a advogada.
Em seu Facebook, ainda na noite de quinta-feira, Eduardo Cunha afirmou que não tinha nada a ver com a convocação de Beatriz Catta Preta pela CPI da Petrobras para explicar a origem de seus honorários. “Não tenho qualquer interferência na CPI, desconhecia a sua convocação que se deu com certeza antes do delator mudar a sua versão”, escreveu.
O advogado do presidente da Câmara, Antonio Fernando de Souza, disse que a “mentira salta aos olhos” na entrevista da advogada à TV Globo. “As declarações da advogada dão a impressão de uma coisa montada. A mentira salta aos olhos. Nego com veemência o envolvimento do presidente da Câmara nas fraudes e tenho certeza de que Júlio Camargo não tem nenhum documento que ligue Eduardo Cunha às irregularidades.”
Beatriz declarou que sua decisão de abandonar a advocacia está diretamente relacionada a um dos depoimentos de Júlio Camargo. Um dos presos que colaboram com a Justiça em regime de delação premiada, o lobista que trabalhava para a empresa Toyo Setal acusou o presidente da Câmara de receber US$ 5 milhões em propina no esquema de corrupção na estatal. Em seus primeiros relatos, o delator não havia denunciado Cunha por “medo”, diz a advogada.
“Receio. Ele tinha medo de chegar ao presidente da Câmara”, afirmou Beatriz Catta Preta, instada a comentar o que o teria feito mudar de ideia. “A colaboração dele, a fidelidade, a fidedignidade da colaboração. O fato de que um colaborador não pode omitir fatos, não pode mentir, o levaram então a assumir o risco. Aquele risco que ele temia, em levar todos os fatos à Procuradoria-Geral da República”, acrescentou a advogada. Em sua delação premiada, o doleiro Alberto Youssef disse que Cunha se valia de aliados políticos para pressionar Júlio Camargo a pagar propina para o PMDB. A pressão era feita por meio da apresentação de requerimentos em comissões, segundo ele.
Em ação paralela à decisão de Beatriz Catta Preta, a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) ajuizou pedido de habeas corpus no Supremo Tribunal Federal (STF) para que a advogada não seja obrigada a prestar esclarecimentos à CPI da Petrobras. Com críticas à CPI, o presidente do STF, ministro Ricardo Lewandowski, já aceitou a solicitação da OAB. “É inadmissível que autoridades com poderes investigativos desbordem de suas atribuições para transformar defensores em investigados, subvertendo a ordem jurídica. São, pois, ilegais quaisquer incursões investigativas sobre a origem de honorários advocatícios, quando, no exercício regular da profissão, houver efetiva prestação do serviço”, justificou o magistrado.
Como revelou o jornal O Estado de S. Paulo, os aliados de Eduardo Cunha na CPI da Petrobras solicitaram ao grupo de espionagem Kroll que priorize as investigações justamente sobre o lobista Júlio Camargo. A ideia dos pares do peemedebista é desqualificar a versão apresentada por Camargo aos investigadores da Lava Jato de forma a demonstrar que ele descumpriu, ao omitir fatos, seu acordo de delação premiada, o que poderia levar à anulação do acordo.
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