Entre políticos brasileiros o dia 31 de março de 2019 foi, em sua maioria, uma data para relembrar os horrores da ditadura militar, iniciado em 1964. Enquanto as redes sociais são dominadas com trechos do discurso de Ulysses Guimarães na promulgação de 1988, citando “ódio e nojo” à ditadura, são poucos os políticos eleitos que vieram a público declarar apoio ao golpe antidemocrático de 1964.
Um deles foi o vice-presidente da República, Hamilton Mourão. O general publicou nesta quarta-feira uma homenagem aos militares que depuseram João Goulart. Para o vice-presidente brasileiro, a ação impediu que comunistas “fincassem suas tenazes” no país.
Neste dia, há 57 anos, a população brasileira, com apoio das Forças Armadas, impediu que o Movimento Comunista Internacional fincasse suas tenazes no Brasil. Força e Honra!
📸FGV/CPDOC pic.twitter.com/j1SmtHwd93
— General Hamilton Mourão (@GeneralMourao) March 31, 2021
No Congresso Nacional, que foi fechado por três vezes pelos generais da ditadura, ao menos três parlamentares deram apoio público ao golpe. Filho do presidente e deputado federal, Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) também disse que o golpe “ocorreu dentro da lei, com apoio da população e garantiu um Brasil livre”. Para o parlamentar, os louros deveriam se manter com as Forças Armadas, “embora a história [seja] contada pelos mesmos bandidos da esquerda.”
Outro a aludir a data de maneira positiva foi o deputado Otoni de Paula (PSC-RJ), que chamou o dia 31 de março como “Dia de Relembrar os Heróis da Pátria.“. Já Guiga Peixoto (PSL-SP) buscou argumento na luta contra o comunismo para justificar a quebra da democracia. “Talvez hoje, seríamos uma Venezuela piorada.”, escreveu
A manifestação, no entanto, ficou restrita a este núcleo duro do governo de Jair Bolsonaro, que ganhou há duas semanas o direito de comemorar o golpe militar. Nem mesmo nomes expressivos do bolsonarismo, como o ex-ministro Abraham Weintraub, a presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara, Bia Kicis (PSL-DF) e o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) se manifestaram sobre a data.
Para os políticos eleitos que lembraram a data, o tom adotado foi de que não há nada a se comemorar. “Hoje faz 57 anos que o Brasil vivenciou o golpe de 64 e o início de uma ditadura militar cruel”, escreveu o líder do PCdoB, Renildo Calheiros (AL). “Essa tragédia manchou a história nacional com perseguições, mortes e sepultamento de liberdades”
Já o ex-presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ) ressaltou que a data passa por uma sobrevida no governo de Jair Bolsonaro. “Vamos nos lembrar da data de hoje para que ela nunca mais volte a acontecer no país. Liberdade e democracia, sempre”, anotou.
É muito sintomático que membros deste governo tentem reinterpretar os fatos históricos para dar um verniz democrático a um golpe de Estado. É aí que eles revelam o ódio que sentem do regime democrático e das liberdades.
— Rodrigo Maia (@RodrigoMaia) March 31, 2021
O senador Fabiano Contarato (Rede-ES) também se manifestou contra a possibilidade de celebrar tal data.
O Golpe de 1º de abril de 1964 faz parte da História, assim como muitas outras infâmias, a exemplo dos horrores da 2ª Guerra Mundial. A História das misérias humanas deve servir como advertência para que não repitamos os mesmos erros, jamais para celebração! #DitaduraNuncaMais
— Fabiano Contarato (@ContaratoSenado) March 31, 2021
O repúdio à data contou com apoio público de dois ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). Gilmar Mendes disse que o 31 de março “não comporta a exaltação de um golpe que lançou o país em anos de uma ditadura violenta e autoritária”. Luís Roberto Barroso, que preside o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), também defendeu a democracia. “Apesar da crise dos últimos anos, o período democrático trouxe muito mais progresso social que a ditadura, com o maior aumento de IDH da América Latina”, escreveu.
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