A ideia em um segundo A reforma tributária esteve em pauta desde o início do governo Bolsonaro, anunciada para logo após a reforma da previdência, aprovada no início do mandato. A um ano das eleições, a improbabilidade de sua aprovação, porém, aumenta. A última rodada do Painel do Poder mostra que, apesar de o tema ser considerado necessário e relevante pela maioria dos parlamentares e para muitos agentes da sociedade, as propostas teriam mais chances de aprovação se houvesse mais e empenho e organização do governo na coordenação da tramitação. |
Esta edição do Farol dá continuidade à exploração do Painel do Poder, pesquisa realizada pelo Congresso em Foco Análise trimestralmente junto às principais lideranças do Congresso.
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Pequena história de um grande desafio
Uma das primeiras edições do Farol Político tratou das possibilidades da reforma tributária, quando foi lembrado que a última do gênero, no Brasil, só aconteceu no período da ditadura. É um tema que concentra muitos interesses (qualquer ponto passível de mudança de tributos e cargas) e pouca defesa dos benefícios difusos (melhoria do ambiente de negócios, mais racionalidade ao planejamento empresarial, etc.). Ou seja, tema de difícil aprovação parlamentar por sua própria natureza.
Na última rodada do Painel do Poder, sondamos mais uma vez a percepção dos congressistas quanto ao seu nível de concordância com a proposta e quanto às suas chances de aprovação. Os resultados demonstram que a reforma poderia vir a ser aprovada, caso houvesse maior coordenação e esforço por parte do Executivo, que deveria ser protagonista na proposição e tramitação do tema.
As três possibilidades de reforma tributária ampla
No início do mandato, existiam duas boas propostas de reforma tributária – uma no Senado Federal, a PEC 110/2019; e outra na Câmara dos Deputados, a PEC 45/2019. Com diferenças pontuais, ambas partiam de uma reformulação ampla do sistema, com base no redesenho dos impostos sobre consumo, a partir da concepção do Imposto sobre Valor Agregado (IVA). Ambas são propostas eminentemente técnicas. A PEC 110/2019 tinha a vantagem de já ter sido amplamente discutida na legislatura anterior.
O poder Executivo, no entanto, em nenhum momento sinalizou apoio ou preferência por alguma delas. Antes, ao contrário, falou em enviar uma proposta própria, que seria fracionada em diversos momentos.
Ainda sob as presidências de Rodrigo Maia (sem partido-RJ) na Câmara dos Deputados e Davi Alcolumbre (DEM-AP) no Senado Federal, foi criada uma Comissão Mista, com a incumbência de produzir uma proposta conciliatória entre os textos da Câmara dos Deputados e do Senado Federal. A comissão teve como Relator o deputado Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), que chegou a apresentar seu relatório, cujo texto foi bastante elogiado pela mídia especializada.
Contudo, Arthur Lira (PP-AL), novo presidente da Câmara dos Deputados, decidiu ignorar esse texto. A decisão de Lira teve como pano de fundo rusgas deixadas pela disputa ao comando da Casa, quando Aguinaldo Ribeiro apoiou a candidatura de Baleia Rossi (MDB-SP) em detrimento do colega de partido.
Enquanto isso, o Ministério da Economia trabalhou pela aprovação do PL 2337/2020, que foca somente a legislação do imposto de renda, aumenta a faixa de isenção para pessoa física, recria a taxação sobre lucros e dividendos, entre outros dispositivos. A proposição, polêmica por suas falhas técnicas e pela evidente queda de arrecadação que representa, segue parada no Senado Federal.
O qual, por sua vez, nas últimas semanas, anunciou um resgate do texto da PEC 110/2019, com a apresentação de seu relatório pelo senador Roberto Rocha (PSDB-MA) e a retomada da tramitação. No presente, portanto, quando se pensa em uma reforma tributária ampla, a proposta com mais possibilidades, ainda que remotas, passou a ser justamente a PEC 110/2019.
A evolução do assunto na percepção dos parlamentares
O quadro a seguir apresenta o nível de concordância dos parlamentares com uma reforma tributária ampla (apenas a soma das notas 4 e 5, indicativas de alta concordância).
Set/20 4 + 5 |
Dez/20 4 + 5 |
Julho/21 4+5 |
Set/21 4+5 |
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Reforma Tributária – nível de concordância | 15% | 20% | 63,89% | 55,56% |
Fazendo-se um exercício especulativo e transformando esse porcentual de concordância em votos no plenário da Câmara dos Deputados, percebe-se que o apoio constatado em setembro daria à proposta 285 votos. Em julho de 2021, seriam 327, suficientes para sua aprovação.
Já o próximo Quadro demonstra a improbabilidade de que a Reforma Tributária ampla venha a ser aprovada até o final do presente governo.
Set/20 4 + 5 |
Dez/20 4 + 5 |
Julho/21 4+5 |
Set/21 4+5 |
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Reforma Tributária – chances de aprovação | 24% | 35,7% | 27,78% | 16,67% |
Na percepção dos parlamentares, as chances de aprovação (notas 4 e 5, indicativas de percepção de altas chances de aprovação) reduziram-se – agora apenas 16,67% dos parlamentares consideram boas as chances de aprovação, ante 35,7% em dezembro de 2020. O assunto não conta com o apoio da Presidência da Câmara e do governo; enfim, não dá para esperar outra coisa.
A reforma e a posição dos parlamentares
O gráfico na sequência apresenta os resultados do nível de concordância considerando o posicionamento político dos parlamentares entre base, independentes e oposição.
O assunto não é tão polarizado como algumas outras questões. Os membros da base são mais favoráveis (o que de certa forma deve causar algum incômodo ao governo, pela sua falta de engajamento com o assunto); mas os parlamentares autodeclarados independentes também se inclinam mais favoravelmente à reforma. E mesmo entre a oposição, a mediana está em 3, o que indica uma aceitação razoável.
Quando se analisam as respostas sobre chances de aprovação, também tomando por base o posicionamento dos parlamentares (gráfico a seguir), percebe-se a base um pouco mais confiante, porém as diferenças são menos visíveis. Pragmaticamente, os parlamentares percebem que o tema deixou de ser relevante no momento e computam ainda o pouco tempo restante até que o ano eleitoral torne completamente inviável a aprovação de propostas de maior complexidade.
Senadores x Deputados
No tocante ao nível de concordância com uma reforma tributária ampla, deputados/as e senadores/as apresentam posicionamento bastante similar, conforme o próximo gráfico.
Já em termos de percepção de chances de aprovação, os/as senadores/as são levemente mais otimistas do que os membros da Câmara Baixa. Talvez esse fato ajude a compreender a tentativa do presidente do Senado Federal, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), de ressuscitar a PEC 110/2019.
Quando um não quer, ninguém brinca
De um ponto de vista da mídia, particularmente aquela especializada, a reforma tributária logrou obter praticamente um consenso. Para se ficar somente no campo do ICMS, são 27 legislações diferentes aplicadas a uma miríade de produtos e serviços, ocasionando a necessidade de exércitos de contadores nas empresas apenas para alcançarem conformidade mínima à legislação. Não por coincidência, o contencioso referente a impostos é elevado e de alto custo processual.
No âmbito do parlamento, em virtude particularmente da composição da atual Legislatura, de perfil mais reformista-liberal, o tema alcançou receptividade suficiente para cogitar-se de sua aprovação. No entanto, em virtude do desinteresse do governo (ou até mesmo um certo antagonismo do governo com relação às propostas), o tema deverá permanecer sem solução, ao menos na presente Legislatura.
TERMÔMETRO
CHAPA QUENTE | GELADEIRA |
Na terça-feira (26), o relatório de mais de mil páginas do senador Renan Calheiros (MDB-AL) com as conclusões da CPI da Covid será votado. O que ficou claro durante a sua leitura nesta quarta-feira (20), é que o texto terá o voto da maioria da comissão. Mas talvez com algumas correções a partir de emendas que serão apresentadas. O relatório, pela gravidade das suas acusações, certamente trará consequências e dissabores ao governo do presidente Jair Bolsonaro. Se não exatamente concretas no sentido da responsabilização, mas pelo menos políticas. |
Na linha do que já demonstra este Painel do Poder, o projeto que altera o Imposto de Renda, de fato, demonstra muito pequena chance de caminhar no Senado. O senador Ângelo Coronel (PSD-BA), relator da proposta no Senado, tem dado diversas declarações no sentido de que não aprova o texto da forma como veio da Câmara. Numa conversa com grupos contrários ao projeto, Coronel chegou a dizer que nunca tinha visto proposta tão ruim. A oposição ao texto só cresce. O advogado tributarista Gustavo Brigagão, presidente do Centro de Estudos das Sociedades de Advogados (Cesa), organiza o movimento contrário ao projeto, que já conta com a adesão de diversos segmentos do empresariado, estados e municípios.
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