A ideia em um segundo Os dados de avaliação do governo, na percepção dos parlamentares, levantados em rodada do Painel do Poder, mostram um governo com avaliação abaixo da média e ministros também na mesma situação. Contudo, há uma estabilidade na avaliação, revelando a resiliência desenvolvida pelo governo a partir da sustentação que logrou construir no Congresso Nacional. |
O governo chega ao seu último ano, já cem por cento envolvido com o processo eleitoral. Sustentado por uma robusta base de apoio no parlamento, construída a partir da decisão de se aliar ao grupo de partidos comumente chamado de Centrão, Bolsonaro escapou de processos de impeachment e logrou ver algumas agendas ainda aprovadas. Tendo em vista o estilo de confronto adotado pelo governo e a consequente agudização da polarização, ambos os lados (governo e oposição) desenvolvem vieses de avaliação – quem é a favor do governo tende a enxergá-lo mais favoravelmente, enquanto os contrários tendem a enxergá-lo pior do que é.
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No caso dos parlamentares, esse fenômeno também é real, porém há uma amenização, provocada, talvez, pelo lado pragmático dos congressistas.
Um governo mediano
Quando perguntados sobre sua avaliação do governo em algumas áreas, com possibilidade de dar uma nota de 1 a 5 (o que faz com que a média, nesse caso, seja 3), os parlamentares deram as seguintes respostas:
Em nenhuma área o governo consegue nota acima de 3. Contudo, as notas também não demonstram um fracasso total.
A área em que o governo é mais bem avaliado, na percepção dos parlamentares, é o combate à corrupção. Um ponto a demandar mais reflexão, dado o varejo de denúncias feitas ao governo cotidianamente. De fato, não houve um grande escândalo que colasse em Bolsonaro de forma similar ao que aconteceu com escândalos de governos anteriores. Tampouco a avaliação positiva pessoal do presidente caiu abaixo de dois dígitos, como aconteceu com Michel Temer e Dilma Rousseff.
As avaliações conjugadas da relação com o Congresso e da relação com o Judiciário apresentam uma face bem conhecida do governo. A relação com o Congresso, que em março de 2019 era o item mais mal avaliado, agora é o segundo melhor avaliado. A relação com o Judiciário, que nunca esteve bem, segue como o item de pior avaliaçao. Como já repetimos várias vezes no Farol: no âmbito do presidencialismo de coalizão, a aliança com o Centrão foi decisão estratégica para o presidente e lhe assegurou grande tranquilidade no Parlamento. No âmbito da divisão dos poderes, o Judiciário, mais acionado, acabou figurando como um “antagonista” do governo. Esse fato também aparece quando se vê que o presidente do Supremo Tribunal Federal, Ministro Luis Fux, foi a autoridade mais mal avaliada pelos parlamentares da base do governo.
O Gráfico a seguir mostra a evolução das avaliações, por área.
Como argumentado, verifica-se uma convergência de notas entre 2 e 2,5, revelando um governo abaixo da média (que no caso é 3) em todas as áreas, porém não um governo catastrófico, ao menos na percepção dos parlamentares.
Um ministério sem mistérios
A avaliação dos ministros também mostra grande estabilidade ao longo das sucessivas sondagens do Painel do Poder que levantam o dado. O discurso inicial de um ministério dividido entre “técnicos” e “ideológicos” manteve-se, de certa forma, na visão dos congressistas. Tereza Cristina (Agricultura), Tarcísio Freitas (Infraestrutura) e Rogério Marinho (Desenvolvimento Regional) alternaram-se como os mais bem avaliados.
Seu perfil converge: experiência parlamentar (Tarcísio tem experiência com a Câmara dos Deputados), ligação partidária sólida, conhecimento técnico da área de atuação e vínculo com setores da sociedade civil alcançados pela atuação de seus ministérios. De fato, são um ministério técnico.
Os ministros que ingressaram para cuidar da articulação da coalizão, Ciro Nogueira (Casa Civil) e Flávia Arruda (Secretária Geral), são relativamente bem avaliados. Os ministros mais ideológicos caíram (Weintraub, Salles). Damares Alves seguiu mal avaliada, porém acima de alguns de seus pares, como o ex-ministro Milton Ribeiro (Educação), que, logo que assumiu, teve avaliações melhores (baseadas, talvez, na expectativa de que não pudesse vir algo pior do que Weintraub), mas, desde então, veio caindo nas avaliações.
Chama a atenção o declínio de Paulo Guedes. Para os parlamentares, o Ministro da Economia já chegou a estar entre os melhores avaliados, podendo-se dizer que faria parte do chamado núcleo técnico. O desempenho pífio da Economia, contudo, somado às declarações sempre desastrosas do ministro, fizeram com que apareça agora como o segundo mais mal avaliado.
O General Augusto Heleno é, talvez, o caso mais emblemático. Reconhecido por seu trabalho nas Forças Armadas, particularmente sua atuação no Haiti e o exercício do Comando Militar da Amazônia, era uma esperança de pertencer ao núcleo “técnico-militar”. Em março de 2019, o ministro teve nota 3. Contudo, suas intervenções sempre desastrosas e fora de hora fizeram com que apareça, agora, como o ministro com a pior avaliação de todos.
Esse é o quadro, portanto, na avaliação dos parlamentares ouvidos pelo Painel do Poder. Um governo que, se não logrou estar acima da média em nenhuma área de atuação, também não foi uma catástrofe total. Naquilo que lhe era mais importante para a sobrevivência, o relacionamento com o Congresso Nacional, soube ceder e compor com o multipartidário grupo do Centrão. Manteve os ministros técnicos que, sem muito alarde, deram sequência à uma atuação razoável de suas pastas e livrou-se dos ministros ideológicos sempre que a pressão deu indícios de subir muito por conta de suas doidices.
Termômetro
CHAPA QUENTE | GELADEIRA |
A “graça” concedida por Jair Bolsonaro ao deputado Daniel Silveira (PTB-RJ) eleva a crise entre os poderes a temperaturas que só estiveram tão altas nos atos de Sete de Setembro do ano passado, antes do recuo feito pelo presidente na carta ditada pelo ex-presidente Michel Temer. Qualquer que seja o desfecho do episódio, as relações entre o Executivo e o Judiciário piorarão. Bolsonaro instiga sua militância contra o STF, que reage. Nada disso é bom. | Nova rodada da pesquisa Exame/Ideia aponta para um cenário de polarização da disputa entre Luiz Inácio Lula da Silva, do PT, e o presidente Jair Bolsonaro (PL) na sua tentativa de reeleição. Não parece haver muito espaço para um outro nome na corrida, a tal terceira via. Quem aparece mais próximo disso é Ciro Gomes, com 10% das intenções de voto. Ciro agora até tenta se aproximar do grupo que constrói a candidatura alternativa. Mas é visto ali com desconfiança. Outros nomes ficam em faixa bem mais baixa. |
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