A ideia em um segundo A terceira via parece avançar para seu desafio derradeiro. Ciro terá de avaliar seus rumos, Moro testará até onde consegue avançar no campo da política, em que é neófito. Dória parece ter obtido uma vitória de Pirro caso deseje realmente a cabeça de chapa presidencial. E Simone Tebet está fazendo o que os políticos fazem: testando a fortuna. Lula se move ainda apartado das lutas do grupo enquanto Bolsonaro precisa se engalfinhar nelas para ter espaço em 2022. |
As especulações vão tomando forma, carne e imagem na corrida presidencial de 2022. A discutida terceira via testa sua viabilidade com Moro, Ciro e Dória. Mandetta e Rodrigo Pacheco titubeiam. Simone Tebet apresenta-se como a única mulher no páreo, dependente do sempre fugidio MDB. Outros, como Felipe d’Ávila do Novo, são testes de testes político-eleitorais.
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Diante dos movimentos das últimas semanas, Lula continua navegando de olho nos concorrentes, mas sem dar conversa ao adversário. O distanciamento convém à sua posição de liderança nas pesquisas e na esquerda.
Bolsonaro, por sua vez, sabe que a chance da terceira via, se acontecer, virá pela desconstrução de sua candidatura. Para a terceira via, Bolsonaro é o alvo preferencial, e ele tem procurado proteger-se atacando principalmente Sérgio Moro.
Voto – Da Complexidade à Simplificação
Uma das descobertas importantes da Ciência Política nas últimas décadas refere-se ao processo de tomada de decisões. Trata-se, de fato, de um movimento conjunto também da economia, da psicologia e de outras ciências dedicadas a compreender como o ser humano se comporta.
Embora o mundo que nos rodeia seja multicausal, isto é, a imensa maioria dos fenômenos decorre de uma massa anterior de acontecimentos, o que torna tudo bastante complexo, nós seres humanos tomamos decisões simplificando o que vemos.
Uma eleição consiste num grande exemplo desse processo de simplificação. Embora Bolsonaro tenha um governo em que ocorreram milhares de ações que impactaram a sociedade, Lula tenha uma história pública de quase 50 anos e os outros candidatos tenham história, ações e promessas diversas, o eleitor foca em poucas características ou marcas na hora de decidir o voto. E no momento atual ainda estão em discussão quais serão as dimensões centrais em relação às quais os eleitores decidirão na hora de escolher em quem confiar nas urnas.
Podem ser as condições de vida, como renda e emprego. Nesse caso, o eleitor vai comparar o como viveu ao como está vivendo e às promessas para o futuro.
Outro possível eixo para as eleições, mas que deverá enfraquecer em relação a hoje, é a pandemia. Como o governo agiu? Quanto sofrimento e qual impacto cada eleitor sentiu, tanto em perdas afetivas quanto econômicas? Nas eleições municipais do ano passado essa variável foi importante.
Alguns temas específicos também podem surgir, como serviços públicos que contam particularmente para determinados segmentos da sociedade, por exemplo educação, transporte, segurança pública, etc.
Bandeiras também podem ser hasteadas e buscar catalisar as discussões públicas, como combate à corrupção, o antipetismo, o combate ao comunismo, o neoliberalismo, etc.
O que se tem até o momento, trazido por algumas sondagens de opinião, mostra que as preocupações do eleitor se situam fortemente no plano econômico. Temas como emprego/desemprego, inflação, renda e outros, juntos formam um núcleo econômico que tem ganhado centralidade nas preocupações gerais.
Em termos históricos, parece fazer muito sentido que seja assim, pois 2018 foi uma eleição com temática totalmente atípica e desde então promessas de melhoria de qualidade de vida infelizmente não se concretizaram para a maioria da população.
O eixo esquerda-direita
No mundo das simplificações, uma das principais no campo político é a esquerda-direita.
Classicamente, os pólos esquerda-direita aglutinam posições em dois campos distintos: economia e costumes. De forma generalizadora, pode-se dizer que a esquerda aglutina ideias em que a ordem econômica pró-mercado é criticada e que a variedade nos costumes é mais tolerada. Já a direita advoga um sistema econômico mais livre da intervenção do estado e tolera menos a variedade de costumes que avança nas sociedades atuais.
Um parêntesis. No Brasil a discussão sobre a liberdade econômica é manca e engana aos mais desavisados. Na prática aqui não temos, e nunca tivemos, uma ação claramente pró ou antimercado. Muito mais prevalente no controle do Estado é o sempre presente patrimonialismo, visto nas variadas formas nas quais grupos privilegiados apropriam-se da riqueza pública sob formas de subsídios tributários, fiscais e monetários, salários e vantagens indefensáveis, corrupção, roubo puro e simples, etc. Nesta perspectiva, o antagonismo que se vê no Brasil não é entre esquerda e direita, mas entre república e patrimonialismo. |
Considerados então os pólos de economia e costumes, vê-se que Lula está postado mais à esquerda, assim como Ciro Gomes em boa medida – o que torna seus ataques ao ex-presidente uma estratégia com claro significado estratégico e limitada ao momento eleitoral.
Os demais concorrentes postam-se mais à direita. Este grupo, poder-se-ia dizer, tem como extremos Simone Tebet mais ao centro, e Bolsonaro, Moro e Felipe D´Ávila mais à direita. Bolsonaro, Moro e D´Ávila são claramente diferentes entre si, e assumem a posição de extrema na direita por razões diversas: Bolsonaro pela radicalização dos costumes, inclusive com o apelo religioso; D´Ávila pela sua visão de Estado e economia, e Moro pelo foco praticamente exclusivo na ordem pública, especificamente corrupção, com marcado corte militarizado.
Os Espaços no Espectro Político
Antever qual será a simplificação que o eleitor fará ano que vem ao decidir seu candidato ao Planalto é a famosa pergunta de um milhão de dólares. Tão importante é descobrir isso que de fato o que os candidatos procuram fazer é moldar os termos dessa ordenação das preferências públicas. Cada um tenta construir os termos do debate de acordo com o que lhe favoreça mais.
Lula certamente ganha em ressaltar a situação econômica difícil por que passa o cidadão brasileiro hoje. Se os termos do debate contrastarem as condições de vida gerais hoje e o passado lulista, isso lhe é favorável. Corrupção e reformas econômicas, por outro lado, lhe fragilizam.
Bolsonaro deve manter-se na linha dos discursos de costumes e fiel à representação que ele faz de um tipo brasileiro que se deu a conhecer nos últimos tempos: o conservador – tecnicamente reacionário, pois deseja voltar a sociedade 50 anos ao passado – que se preocupa com a manutenção da família e dos costumes tradicionais. Salpica seus discursos com os ataques à corrupção do passado e a ameaça comunista.
Ciro tenta espremer-se entre Lula e Bolsonaro. O Ciro “raiz” tem a visão de mundo provavelmente mais complexa e refletida de todos os candidatos, concordemos ou não com ela. Entende a geopolítica global e o papel que estados nação ainda podem exercer, o que lhe custa algumas brigas com a globalização. Contudo, seu desafio e seu plano no pleito de 2022 tem sido diferenciar-se dos dois pólos do debate e mostrar-se como alternativa. Nisso Ciro tem dificuldade de convencer a direita devido ao seu passado. Já os ataques a Lula, necessários em sua estratégia, desgastam-no com seu eleitorado mais provável de esquerda. Ciro patina em um jogo de difícil sucesso.
Moro também busca um lugar viável entre Bolsonaro e Lula. Sua ladeira é menos acidentada que a de Ciro. Moro é direita como Bolsonaro, traz a imagem da luta por valores tradicionais. Contudo, o ex-juiz é despido dos arroubos anti-civilizatórios do atual presidente e tem credenciais anti-corrupção. O que lhe parece faltar é a habilidade política para construir alianças, sobretudo uma rede necessária de apoios em todo o Brasil. Ainda não se sabe quanto o Podemos poderá ajudar nisso.
Dória provavelmente teve uma vitória de Pirro. O processo de construção de sua candidatura dentro do PSDB foi bastante traumático. Em certa medida, lembra-nos Cristiano Machado, em 1950, que deu origem ao termo “cristianização”. Concorrendo contra Getúlio, foi abandonado pelo PSD que apoiou informalmente “o pai dos pobres”. Machado venceu apenas em sua Minas Gerais. O que difere Dória de Cristiano Machado seria, talvez, os danos que sofrerá o próprio PSDB, que parecem grandes caso Dória alce voo como cabeça de chapa, e que o PSD de 70 anos atrás não sofreu. Em termos populares, ainda se necessita descobrir que imagem Dória pode passar ao eleitorado que o difira de Bolsonaro e Lula ao mesmo tempo, sem se parecer com Moro.
Já Simone Tebet, alinhada à Lava Jato, de imagem ativa, conta com a exclusividade de ser a única mulher na corrida. Embora tenha virtudes políticas, Tebet corre contra o tempo para se mostrar ao povo de todo o país e construir viabilidade. Seu MDB é useiro e vezeiro em abandonos de candidatos majoritários, é organização em que o pragmatismo das campanhas individuais sempre fala mais alto. Simone Tebet não carece de mais virtude política, mas seu projeto é claramente um teste da fortuna.
A campanha eleitoral de 2022 avança. Hoje ainda nos parece que há concorrentes em excesso na raia. Provavelmente alguns repensarão a meta, outros miraram alto para atingir um cargo de vice, e outros insistirão até o final, pois a política também se faz de coragem e teimosia. Um vencerá. Aguardemos.
TERMÔMETRO
CHAPA QUENTE | GELADEIRA |
Rejeição é uma palavra importante na definição da corrida eleitoral do ano que vem. De acordo com a pesquisa da Consultoria Quaest para a Genial Investimentos, divulgada na quarta-feira (8), há quatro candidatos com rejeição de mais de 50%: Jair Bolsonaro (64%), Sergio Moro (61%), João Doria (59%) e Ciro Gomes (55%). Mesmo com relação a Lula, que tem uma rejeição de 43%, alguns setores, como o MBL, já discutem o voto nulo caso de fato mantenha-se consolidada a atual polarização entre ele e Bolsonaro. Na atual balada, a decisão de 2022 poderá tender mais a ser pelo menos rejeitado do que exatamente pelo mais querido. |
Depois de toda a bagunça da prévia, com adiamentos provocados pelas falhas no aplicativo de votação virtual, o resultado da pesquisa da Quaest é um tremendo banho de água gelada no PSDB e no seu candidato à Presidência, João Doria, mesmo com toda a exposição das prévias. Doria vem ensaiando conversas com Sergio Moro, mas a pesquisa também não mostra muito no que uma união entre os dois possa vir a ser muito útil. Em um cenário com ambos na disputa, Moro tem 10% e ele 2%. Se Doria sai da disputa, Moro ganha só mais um ponto percentual, vai a 11%. E num cenário sem Moro, Doria chega a somente 5%.
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