A ideia em um segundo A análise baseada na técnica do nominate mostra a influência da pauta ambiental na clivagem governo-oposição na Câmara dos Deputados. A radicalização no tema apresenta-se superior àquela do conjunto das votações e a pauta ambiental, especificamente sua defesa, não se encontra monopolizada em poucos partidos. Em suma, meio ambiente é um tema transversal e central para o Legislativo hoje. |
Em edição passada do Farol, apresentamos a técnica do nominate para analisar o Legislativo. Assim como distribuímos os legisladores na famosa escala “esquerda-direita”, o nominate permite posicionar os parlamentares a partir de dimensões latentes nas votações nominais, como governismo ou mesmo alguma temática – meio ambiente, direitos humanos, liberalismo econômico, etc.
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Para o cidadão que acompanha de longe as principais notícias da política, a grande divisão governo-oposição basta para compreender muitos assuntos. Contudo, a análise acurada do Poder Legislativo precisa capturar as nuances do comportamento dos parlamentares. A identificação de padrões não muito aparentes importa sobretudo aos profissionais e grupos que atuam junto ao Congresso na defesa de pautas específicas.
PublicidadeNesta edição do Farol, exploramos uma temática importante e que vem ganhando destaque sobretudo pelo alto nível de embate e contestação entre os grupos envolvidos, a defesa do meio ambiente.
No visual, a radicalização
A análise considerou todas as votações nominais da Câmara dos Deputados no período 2019-2021 e tomou como filiação partidária a do final do ano passado, antes da “janela partidária” e da criação do União Brasil.
Votações nominais permitem conhecer a posição do parlamentar, se favorável ou contrário à matéria. No período, registramos 1.469 votações e a análise considerou 1.256 delas.
A técnica do nominate agrupa os parlamentares a partir de seus votos. Assim, dois deputados com números próximos ou iguais na escala (que varia de -1 a +1) votaram na grande maioria das vezes da mesma forma, do que se conclui que votam a partir de valores ou influências similares.
Para o caso brasileiro, a literatura reconhece que a grande divisão dos parlamentares se dá na dimensão governo-oposição. Contudo, aqui exploramos a influência de uma pauta específica, a de meio ambiente, nesse grande alinhamento.
A análise gráfica dos indicadores mostra a radicalização da temática do meio ambiente. O primeiro gráfico, que considera proposições de Todos os Temas, mostra oposição e governo em campos bastante distintos. Contudo, quando se consideram apenas as Matérias de Meio Ambiente, ao mesmo tempo em que há visualmente uma interpenetração maior dos grupos, vê-se também o avanço das posições para os extremos do gráfico (valores -1 e +1 na escala horizontal)¹.
¹ Considerou-se oposição: PT, PSB, PSOL, REDE, PDT, PCdoB. Governo são todos os outros.
A Disputa nos Extremos
Na tabela de Todas as Votações os deputados foram alinhados pelo indicador nominate e têm-se as posições de 1º↨ a 581º. O número positivo ou negativo é uma definição arbitrária. O que importa de fato é a proximidade e o agrupamento dos parlamentares.
Quando consideradas todas as matérias analisadas, os extremos da distribuição são muito interessantes. De um lado temos 9 parlamentares do PSL mais um do PP e do outro 10 deputados do Psol. No caso de todas as matérias o aspecto partidário é então central, ressaltada a homogeneidade desses grupos.
TODAS AS VOTAÇÕES
Posição | Deputado% | Partido | Nominate
1º dimensão |
1º | Ricardo Pericar | PSL | -0,9058 |
2º | Chris Tonietto | PSL | -0,8828 |
3º | Junio Amaral | PSL | -0,8742 |
4º | Luiz Philippe de Orleans e Bragança | PSL | -0,8605 |
5º | Guiga Peixoto | PSL | -0,8589 |
6º | Capitão Derrite | PP | -0,8435 |
7º | Caroline de Toni | PSL | -0,8421 |
8º | Daniel Freitas | PSL | -0,8375 |
9º | Bia Kicis | PSL | -0,8364 |
10º | Carla Zambelli | PSL | -0,8351 |
… | … | … | … |
572º | Luiza Erundina | PSOL | 0,7585 |
573º | Talíria Petrone | PSOL | 0,7759 |
574º | Fernanda Melchionna | PSOL | 0,7987 |
575º | Vivi Reis | PSOL | 0,7993 |
576º | Ivan Valente | PSOL | 0,8048 |
577º | Sâmia Bomfim | PSOL | 0,8134 |
578º | Áurea Carolina | PSOL | 0,8139 |
579º | Glauber Braga | PSOL | 0,8141 |
580º | David Miranda | PSOL | 0,8201 |
581º | Edmilson Rodrigues | PSOL | 0,8286 |
Quando consideradas apenas as matérias relacionadas a meio ambiente (91 votações no total, analisadas 71), vê-se que a composição dos extremos muda bastante.
Os polos antagonistas definem-se de um lado por um agrupamento de PSL, PP, PR, Solidariedade e MDB e de outro por PROS, PT, PMN, PSB e PV.
Há duas constatações importantes. A primeira mostra que a temática ambiental consegue romper em parte a homogeneidade partidária dos extremos. Em outras palavras, a questão ambiental, seja de que lado se esteja, espraia-se por uma variedade de siglas.
A segunda mostra que, enquanto PSL e Psol expressaram os extremos do governismo e oposição entre 2019 e 2021, a pauta ambiental foi protagonizada, sobretudo no eixo oposicionista, por outros partidos, com destaque para PV e PT.
Matérias relacionadas a Meio Ambiente
Posição | Deputado | Partido | Nominate
1ª dimensão |
1º | Coronel Tadeu | PSL | -0,9993 |
2º | Vitor Hugo | PSL | -0,9987 |
3º | Ricardo Barros | PP | -0,9985 |
4º | Filipe Barros | PSL | -0,9974 |
5º | Vinicius Gurgel | PR | -0,9973 |
6º | Hiran Gonçalves | PP | -0,9972 |
7º | Delegado Waldir | PSL | -0,9971 |
8º | Aureo Ribeiro | SOLIDARIEDADE | -0,9956 |
9º | Márcio Biolchi | MDB | -0,9947 |
10º | Newton Cardoso Jr | MDB | -0,9903 |
… | … | … | … |
485º | Clarissa Garotinho | PROS | 0,9127 |
486º | Nilto Tatto | PT | 0,9127 |
487º | Eduardo Braide | PMN | 0,9130 |
488º | Elias Vaz | PSB | 0,9133 |
489º | Gonzaga Patriota | PSB | 0,9166 |
490º | Airton Faleiro | PT | 0,9349 |
491º | Joseildo Ramos | PT | 0,9582 |
492º | Célio Studart | PV | 0,9754 |
493º | Jorge Solla | PT | 0,9949 |
494º | Professor Israel Batista | PV | 0,9997 |
Ao longo dos últimos três anos, assistiu-se no Legislativo ao recrudescimento do embate na causa ambiental. Os dados trazidos aqui no Farol permitem dar concretude às impressões e mesmo mensurar o nível de radicalidade dessa temática específica.
Termômetro
CHAPA QUENTE | GELADEIRA |
O anúncio da pré-candidatura de Luciano Bivar pelo União Brasil é parte de um movimento da chamada terceira via que vale ser acompanhado. No fundo, o que se comenta é que se trata de uma reserva de posição. Os partidos da terceira via combinaram que até o dia 18 de maio fecharão um nome único que venha a ser apoiado por União, MDB, PSDB e Cidadania (o União agora fala em procurar também Ciro Gomes, do PDT). O União é o dono da maior verba do fundo partidário e do maior tempo de TV entre todos os partidos. Esse é o cacife de Bivar. O que se comenta é que o desejo do União é tê-lo como candidato a vice numa chapa encabeçada pela senadora Simone Tebet (MDB-MS). | O problema desse desejo e conseguir emplacá-lo dentro do próprio MDB de Simone Tebet. Como se viu no jantar que houve esta semana para o candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, na casa do ex-senador Eunício Oliveira, há uma parte do partido que deseja desistir de Simone e embarcar já no primeiro na candidatura petista. Há quem considera que o MDB poderá acabar repetindo o que aconteceu em 1998, quando o pré-candidato do partido era o ex-presidente Itamar Franco. A candidatura de Itamar foi levada até a convenção e, nela, sua pretensão acabou traída: a maioria do partido colocou-se contra a candidatura, e o MDB nem teve candidato próprio nem apoiou oficialmente ninguém, liberando as bancadas estaduais a apoiarem a reeleição de Fernando Henrique Cardoso. |
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