Os governadores apostam que o presidente Jair Bolsonaro não irá marcar a reunião pedida por eles na segunda-feira (23). Mas, no fundo, essa recusa do presidente já era algo previsível no momento mesmo em que tal proposta foi formulada no encontro do Fórum de Governadores. Bastidores da reunião, apurados pelo Congresso em Foco, mostram que a possibilidade foi discutida pelos governantes dos estados. E a conclusão a que chegaram é que isso acentuaria o isolamento político de Bolsonaro, uma resposta mais veemente do que qualquer nota de repúdio.
Nesta terça-feira (24), ao contrário de Bolsonaro, os demais presidentes de poderes, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), do Congresso, e Luiz Fux, do Supremo Tribunal Federal (STF), já sinalizaram que receberão o Fórum de Governadores na próxima semana. Pacheco confirmou oficialmente o encontro, e Fux também deverá fazê-lo.
Assim, ficará clara uma vontade de busca de diálogo e entendimento pelos demais poderes da República, não compartilhada pelo presidente da República, chefe do Poder Executivo. “O que pensamos é que era importante dar um sinal claro de pacificação. Se Bolsonaro prefere pescar em águas turvas, que fique sozinho nessa posição”, disse ao Insider o governador do Espírito Santo, Renato Casagrande.
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A ideia da proposta de reunião foi sendo construída ao longo da reunião. Os governadores debatiam como deveriam se posicionar diante da crise, agravada na sexta-feira (20), quando Bolsonaro protocolou no Senado um pedido de impeachment do ministro Alexandre de Moraes, do STF. Concluíram que a divulgação de mais uma nota de repúdio poderia ter um efeito inócuo. Primeiro, haveria entre eles uma discussão quanto ao tom da nota. Os mais oposicionistas querendo algo mais agressivo, e os que se alinham ao governo algo mais moderado. Era possível que nem todos os governadores ao final acabassem assinando a nota. A ideia do pedido de reunião ganhou a adesão de todos, governistas e oposicionistas.
Se Bolsonaro reagir como os governadores esperam, ficará ainda mais demarcado o seu isolamento político e sua opção de se alinhar somente a um grupo mais radical, que deseja o conflito em lugar do diálogo. Se ele aceitar o encontro, entendem os governadores que não perderão da mesma forma, uma vez que o gesto de diálogo partiu deles.
“O que nós não podemos é seguir nesse clima de beligerância, seguir numa agenda que não contribui para nada nem interessa a ninguém”, diz Casagrande. O país está em crise, com inflação beirando a casa dos 9%, desemprego, ainda sob os efeitos da pandemia, e toda a agenda está parada diante dos embates escolhidos pelo presidente.
Casagrande aponta, por exemplo, para a alta no preço dos combustíveis, cuja culpa Bolsonaro tenta jogar sobre os governadores, pela cobrança do ICMS. “Ninguém aumentou a alíquota do ICMS. Então, fica claro que são os demais prejuízos na economia que impactam o preço dos combustíveis. É a insistência nesse tipo de embate que está nos travando”, comenta.
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