Amanda Vettorazzo*
radicalismo das narrativas ideológicas vai tão longe que meros desenhos infantis tornam-se pautas para “lacrar” ou “mitar” na internet. Influenciadores e colunas de grandes veículos da internet fazem um malabarismo narrativo vergonhoso em busca de likes e visualizações.
Do lado da esquerda lacradora, destaca-se o tragicômico vídeo da ex-BBB, Manu Gavassi. Trágico na análise do perfil de cada personagem feminino da Disney – como se o fato de Cinderela buscar um príncipe fosse influenciar uma menina a achar que só existe felicidade ao lado de um companheiro.
Mas também é cômico, pois parece um stand-up de tão tosco que é querer problematizar cada personagem. Não bastasse, o Portal UOL deu luz à coluna com o título “Homem meio bicha: o sonho da mulher moderna”, como se homens heterossexuais fossem avessos à empatia, carinho e sentimentalismos.
Na patota bolsonarista, a parte hilária fica por conta da influenciadora Pietra Bertolazzi que revelou num podcast ter proibido o filme da Frozen para sua filha. Segundo ela, o fato da princesa do filme não ter ou buscar um marido poderia influenciar negativamente meninas a não quererem casar.
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As narrativas são tão surreais que fica difícil saber se ambos acreditam no que dizem ou se é pelo impacto da crítica que pode gerar algum tipo de repercussão. No meio disso tudo, fiquei pensando o que uma menina de 13, 14 anos seguiria se tivesse visto ambas as narrativas: na linha da independente Frozen ou da conservadora Cinderela?
Se hoje aos 34 anos estou solteira e ao mesmo tempo não estou em busca, nem na recusa de um relacionamento, serei cancelada por ambos os lados?
Problematizar personagens, ou acreditar que desenhos podem influenciar e condenar uma jovem à infelicidade é só mais uma das mazelas que resultam deste radicalismo ideológico que separa nosso país entre nós e eles.
Enquanto os extremistas de esquerda e direita estão muito preocupados se os desenhos vão transformar a criança em feminista ou conservadora, o verdadeiros problemas da infância ficam em último plano.
Em abril deste ano, fiz uma arrecadação para uma organização 1+1 Faz a Diferença. Conseguimos mais de 600 ovos de chocolate para crianças felizes passarem a Páscoa. Quando fui ler um conto para as crianças, mostrei o livro para uma menina de 10 anos o título. Ela não sabia ler “Branca de Neve”… 10 anos.
Outro exemplo da falta de noção dos verdadeiros problemas que atingem a educação básica vem até de quanto há investimento na área, mas falta gestão. Recentemente, o presidente da Comissão de Educação da Câmara Federal, dep. Kim Kataguiri, expôs uma escola pública que recebeu kits de robótica caríssimos, mas não possuia rede de saneamento básico, ou seja, para dar descarga os alunos precisam usar baldes.
No país em que o analfabestimo funcional atinge 28% da população, antes de aprender sobre esquerda ou direita, se vai buscar um companheiro ou ser independente, o aluno precisa saber o óbvio e exclamante : ler e escrever.
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