A campanha de desqualificação da política já faz muito mal ao Brasil. A pregação da descrença nos processos coletivos — na democracia, enfim — trouxe o País pela mão até essa encruzilhada sinistra onde nos encontramos.
Sob um governo incapaz e indiferente ao sofrimento da maioria, um Brasil exausto vela seus quase 100 mil mortos pela pandemia, enquanto mais da metade da população em idade de trabalhar está desempregada, pela primeira vez na nossa história, como aponta o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
A cada dia mais claro o processo que nos conduziu a esse descalabro. A repetição despudorada de mentiras, a alimentação cotidiana do ódio e o uso escancarado de instituições de fiscalização e controle e do Judiciário foram elementos-chave numa cruzada para construir o descrédito nas soluções coletivas, na organização, do debate — na democracia, enfim.
A superação dessa crise exige esforço. Cabe a todos os democratas reagir e afirmar um fato incontornável: não existe democracia sem a política. É pela política que equacionamos as demandas, necessidades e interesses de cada um para encontrar respostas coletivas.
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Mas é preciso fazer mais do que a defesa conceitual da política. Temos que ir além do abstrato.
Vou citar um exemplo singelo — e tem que ser singelo mesmo, porque a política não é grandiloquência, ela faz parte da vida das pessoas.
Há mais de seis anos, os 24 mil habitantes de São Miguel, no Rio Grande do Norte, labutavam com falta d’água no município.
O reservatório Bonito II, que deveria abastecer a cidade, não vinha recebendo recarga hídrica. Imaginem o que é a vida de uma população sem água.
Partiu do meu mandato a iniciativa de reunir a comunidade de São Miguel com os órgãos estaduais responsáveis pelo abastecimento para buscar uma solução de curto prazo para aquela situação.
Foram mais de 10 reuniões envolvendo moradores, entidades locais, o Governo do Estado do Rio Grande do Norte e órgãos ligados à questão.
O resultado foi uma obra entregue agora, em 18 de julho, que custou apenas três milhões de reais, trazendo água do Açude de Pau dos Ferros para o Reservatório Bonito II.
Foi consensuado que a prioridade do abastecimento para atender o consumo humano e a dessedentação animal e, ainda, a agricultura familiar.
Tudo isso vai ser acompanhado por representantes da comunidade e dos órgãos estaduais, organizados em uma comissão.
Claro que a solução só foi possível porque nossa companhia de água e saneamento, a Caern, é uma empresa pública, que funciona com a lógica de prestar o serviço a quem precisa, e não apenas a quem pode pagar.
Mas foi a política a ferramenta usada para resolver o problema. Havia uma demanda urgente da população, havia capacidade técnica dos órgãos públicos. Mas foi a política que fez a liga desses elementos.
Quando a comunidade de São Miguel se mobilizou para debater e cobrar soluções, estava fazendo política. Meu mandato contribuiu reunindo os diversos atores, mediando interesses e viabilizando uma solução de consenso.
Isso é política, boa política, essencial à vida em sociedade. A pior forma de se “fazer política” é própria daquele ou daquela que fala com “convicção” que detesta a política. Esse comportamento só promove o caos social, já que a luta pela democracia é que promove energia social positiva capaz de mover o país em direção a um futuro melhor.
O descredito das instiuições e o compromisso dos politicos com a proxima eleicao é historico. A informação descentralizada promovida pelas redes sociais/tecnologia estourou essa bolha. O povo não acredita mais em qualquer informação sem comprovação emitida por esses meios parciais de informação.