Em Brasília, entre os lindos pilotis com azulejos de Athos Bulcão e o show de cores dos ipês, a arquitetura exuberante dos prédios públicos se unem às obras magníficas de Oscar Niemeyer – deixando ainda mais evidente a nossa riqueza.
A beleza e a riqueza do Distrito Federal são notórias desde sua criação. Mas existe algo coberto por um véu da invisibilidade que não é visto nem lembrado pelos governantes: a desigualdade social.
Ao longo dos anos, o DF esteve no topo do ranking da desigualdade. Infelizmente, de acordo com pesquisas recentes sobre a situação da população na pandemia, esse lugar inglório só foi reforçado. Agora, no mês de agosto, o Correio Braziliense divulgou um estudo realizado pelo economista Daniel Duque. E revela, somos a unidade federativa que mais empobreceu entre o começo de 2019 e o início de 2021.
O Distrito Federal ostenta índices muito piores do que outros centros urbanos brasileiros. Segundo definição do Banco Mundial, a taxa de pobreza corresponde às pessoas com renda menor que R$ 28,49 por dia. Já na cotação atual do dólar, o aumento é de 7,9% e atinge cerca de 20% da população. As pessoas com renda menor do que R$ 9,84 por dia são consideradas da taxa de extrema pobreza, ou seja, de 3,2% para 7,3% dos habitantes.
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Fica claro que nosso problema não é só a pandemia, mas também da política aplicada pelo governo de Ibaneis Rocha. O caminho do atual governo confirma o quanto Ibaneis é pouco comprometido com a população mais vulnerável, um discurso contrário do que a narrativa que o elegeu na candidatura de 2018.
Vale lembrar que, em seu discurso proferido na cerimônia de posse, o governador esbravejava ter sido chamado pela população “[…] para mostrar como se faz política com P maiúsculo” e que conduziria seu mandato pensando nos mais pobres. O motivo adotado para enfatizar suas supostas prioridades era “Governo é para pobre, rico basta não atrapalhar“. Mas, rapidamente, Ibaneis mostrou que seu discurso era uma grande fraude eleitoral. Agora já pode se gabar de ser um dos governadores da história de Brasília que mais favoreceu as elites.
As marcas da sua gestão são escândalos de corrupção na área da saúde, beneficiando empresas com inúmeros contratos e pagamentos irregulares; auxílios emergenciais milionários para os donos das empresas de ônibus; privatização do fornecimento de energia elétrica; doações irregulares de materiais do DF para sua cidade natal; políticas de assistência social incompletas; patrocínios imorais do Banco de Brasília (BRB); e, por fim, uma política notória de favorecimento dos amigos do rei.
Nas poucas vezes que Rocha insinuou estar tomando atitudes para reduzir a desigualdade, nada mais era do que uma manobra para atender sua base política. A exemplo de um decreto que publicou no início do seu governo para a criação de três novas regiões administrativas: Arapoanga (afinal não efetivada), Arniqueira e Pôr do Sol ou Sol Nascente. Essas áreas foram desmembradas de Planaltina, Águas Claras e Ceilândia, respectivamente, com a promessa de mais autonomia e melhor atendimento das demandas locais sob a égide do Programa SOS DF.
No entanto, ao contrário do que foi prometido, o advento das administrações regionais não refletiu na maior presença do estado. Conforme dados da Secretaria de Desenvolvimento Social, divulgados em reportagem do Metrópoles em 2021, a vulnerabilidade social persiste nessas regiões. São 77.447 famílias que sobrevivem com renda per capita abaixo de R$ 89 por mês. A criação das novas regiões administrativas nada mais é do que alguns cabides de empregos para parlamentares da base, que promovem entregas pontuais, e em nada refletem na redução da pobreza sistêmica.
Esse assunto não se restringe à uma parcela da população do Distrito Federal. Considerando as outras faixas de pobreza mensuradas pela Secretaria de Desenvolvimento Social, somando todas as famílias com renda per capita mensal inferior a R$ 522,00, nossa situação é ainda mais alarmante.
O DF conta com 160.937 famílias em situação de vulnerabilidade. A expectativa é que a situação se agrave mais ao longo deste ano com o fim do auxílio emergencial, uma vez que esse recurso vem servindo de “colchão” para amortecer os impactos econômicos da crise sanitária.
No cenário pandêmico, para a contenção da pobreza e seus impactos, o GDF precisa ao menos garantir os direitos básicos à saúde, educação e infraestrutura. Mas, nessas áreas, o desastre já está consolidado.
No quesito saúde, a gestão tem sido de recorrentes operações de busca e apreensão, denúncias de falta de equipamentos e escândalos de corrupção. O IGES DF, criado originalmente para facilitar o gerenciamento dos aparelhos públicos de saúde, tornou-se uma grande bancada de negócios – chegando a ser denunciado como responsável por mortes no Hospital de Santa Maria.
Quanto à educação pública, a falta de ação integrada e permanente do GDF fez com que o número de crianças fora da escola saísse de 2,8% para 5,4% de acordo com o “Cenário da Exclusão Escolar no Brasil – um alerta sobre os impactos da pandemia da Covid-19 na Educação”. Esse estudo foi realizado pela UNICEF e divulgado em abril de 2021. São mais de 28 mil crianças e jovens que ficaram sem acesso às escolas no DF. Assim como em 2019, os indicadores da pesquisa apontam que o DF seguirá abaixo das metas do IDEB em todas as etapas da educação básica.
Já na infraestrutura, o GDF também vem colecionando problemas, especialmente na gestão de recursos energéticos com a privatização da CEB Distribuição. Após a empresa Neoenergia ter assumido o gerenciamento do fornecimento de energia, houve um aumento de 58% de reclamações feitas à ouvidoria da ANEEL entre março e julho.
Um levantamento recente da CBN mostra que a falta de energia é uma preocupação constante dos clientes. Resultado? Prejuízo para os pequenos negócios e maior aperto no orçamento das famílias de baixa renda, principalmente em meio às dificuldades de prestação do serviço e aumento de tarifas.
Diante de tudo isso, o aumento da pobreza no Distrito Federal revelado pelo estudo do IBGE-IBRE não é uma grande surpresa. O governo Ibaneis tem um projeto claro de beneficiar os ricos, os amigos do rei e os grupos privados, interessados em tomar para si fatias do orçamento distrital em detrimento da melhoria da qualidade de vida da população mais pobre do DF.
Enquanto a Capital estiver sob a liderança de aventureiros que enxergam o governo como mais um empreendimento, o Distrito Federal não terá a execução de boas políticas públicas voltadas às pessoas mais necessitadas. Brasília, com o atual GDF, representa um país marcado pela desigualdade. Somos uma população que esbanja o maior IDH do país e ao mesmo tempo tem o maior aumento da pobreza nos últimos anos. Enquanto Ibaneis Rocha estiver à frente do governo, conviveremos com os piores vícios políticos e nossa Brasília fará jus ao título deste artigo: Distrito rico, mas para poucos.
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