Antes o discurso em Libras da primeira-dama Michele Bolsonaro, como forma de cooptar a opinião brasileira para uma falsa empatia com a população surda no país. Bolsonaro é uma farsa e a máscara vai caindo aos poucos. Ficamos perplexos com o gesto autoritário de interromper o tradutor de Libras do evento que o lançou candidato a presidente, pegando-o pelo braço e grosseiramente empurrando o colega para atrás.
Para Bolsonaro o tradutor da Libras foi sem noção ao ousar ficar na frente daquele que se julga o próprio “Messias”. No exercício da função o intérprete atendeu a sua missão ética de se colocar ao lado do interlocutor, possibilitando a visibilidade e garantindo a acessibilidade. O presidente não entendeu isso e o seu gesto, além de constranger o profissional, desrespeitou todos nós tradutores, intérpretes e guiaintérpretes de Libras que atuamos diariamente em uma missão nobre de assegurar o acesso à comunicação dessa parcela significativa de brasileiros. Cada colega possui diversos relatos de situações vivenciadas, porém o gesto do mandatário tem impacto ainda maior e uma força pedagógica de naturalizar o comportamento assediador e desrespeitoso, não só com os profissionais, mas com toda a população surda e sua língua. Tem sido recorrente denúncias de situações de violações ao exercício profissional de intérpretes no âmbito do governo federal. Já assistimos tradutores serem retirados ao vivo de tradução simultânea de reunião no âmbito do governo por perseguição política.
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Como falei anteriormente, o apreço de Bolsonaro à comunidade surda é uma farsa. Não esquecemos do decreto 10.185/19, assinado por ele mesmo, que cancelou concursos para intérpretes da Libras nas universidades federais, distanciando as pessoas surdas do sonho de acessarem à universidade, entendendo que a educação é indutora para mudanças de realidades. Tão pouco esqueceremos a interferência na escolha da direção geral do Instituto Nacional de Educação de Surdos (INES), ignorando o processo eleitoral daquela comunidade escolar/universitária.
Até hoje o autoritarismo causa efeitos na primeira instituição de ensino do Brasil para pessoas surdas, não são poucos os movimentos do seu governo para retirar direitos de pessoas com deficiência. Em levantamento realizado pelo Centro Brasiliense de Defesa dos Direitos Humanos (CENTRODH), o governo federal atentou pelo menos quatro vezes contra a Lei nº. 8.213/91, a Lei de Cotas, onde tentou flexibilizar a legislação fundamental para o ingresso de pessoas com deficiência no mercado de trabalho, além de acabar com a política que financiava a criação de Centrais de Intérpretes de Libras em todo o país, na política Viver Sem Limites. O Conselho Nacional de Defesa dos Direitos das Pessoas com Deficiência (CONADE), também enfrenta uma crise de representação gravíssima, recentemente o Ministério de Direitos Humanos e Família alterou a forma de escolha de representantes da sociedade civil, retrocedendo drasticamente e implementando um processo de seleção e não eleição dos representantes do segmento de pessoas com deficiência.
Definitivamente Bolsonaro se perdeu no personagem e desnudou quem ele na verdade é e qual o lugar que a língua de sinais e a população surda tem no seu governo. Fundamental lembrar que isso tudo ocorreu nas vésperas do dia em que comemoramos mais um ano de oficialização da Libras no Brasil, data ainda fundamental para dialogar com a sociedade os entraves que se colocam para impedir a cidadania plena das pessoas surdas. Resistiremos, e resgataremos sempre que necessário o lema do movimento das pessoas com síndrome de down: “Ninguém fica para trás! Mesmo que essa força seja o Presidente da República.”
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