Centenas de políticos e outras autoridades fizeram fila na entrada de uma elegante casa no Lago Sul, região mais nobre de Brasília, na noite desta quarta-feira (14). Na porta principal da residência, um senhor prestes a completar 78 anos de idade cumprimentava os convidados com efusivos abraços e agradecimentos pela presença, e ali mesmo – anfitrião e convidados – posaram para fotos. José Dirceu de Oliveira e Silva comemorava não apenas o aniversário, mas sua volta por cima na cena política nacional. Ao menos essa era a impressão de quem acompanhava toda a movimentação. Depois de complicações políticas e judiciais e alguns problemas de saúde, o ex-líder estudantil, ex-guerrilheiro, ex-ministro da Casa Civil e ex-deputado federal esbanjava vitalidade.
Por algumas horas, certamente nenhum lugar de Brasília reuniu tantos políticos importantes. Ao todo, cerca de 500 pessoas passaram pela festa, que começou às 20h e avançou pela madrugada. Inicialmente, aguardava-se a presença de cerca de 200 convidados. Por lá, passaram autoridades como o vice-presidente da República, Geraldo Alckmin, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, uma dezena de ministros, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), os principais candidatos à sucessão dele, os presidentes da Petrobras e dos Correios e os três líderes do governo no Congresso (veja lista mais abaixo), entre outros.
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Colunista do Congresso em Foco, Dirceu fará aniversário no próximo sábado (16), mas antecipou a comemoração para que a data coincidisse com o número 13 do PT. A festa foi organizada por um grupo de advogados amigos do ex-ministro. Um deles, Marcos Meira, cedeu a própria casa. Conforme constava do convite, cada um deveria levar o seu próprio vinho. O cardápio incluía costela, mandioca, salmão com molho de maracujá, entre outras iguarias, com direito a sorvete de sobremesa. Ao lado da piscina, uma banda animava a confraternização com músicas do “rock Brasil” dos anos 80.
Assista aqui ao discurso de Dirceu:
Pouco antes da meia-noite, o ex-ministro da Casa Civil foi chamado ao palco sob os gritos de “Dirceu, guerreiro do povo brasileiro”. Ao lado da filha Maria Antônia, de 14 anos, e do filho Zeca Dirceu, deputado federal pelo PT do Paraná e ex-líder do partido na Câmara, fez um discurso pontuado por uma avaliação histórica e alguns alertas velados à esquerda. A reunião das pessoas ali presentes, resumiu ele, era uma “reafirmação de nossos laços e sonhos”. O ex-ministro defendeu a composição política do PT com partidos de centro e de direita para permitir ao país retomar o crescimento, o desenvolvimento econômico e o combate aos problemas sociais.
Em tom de advertência, ressaltou que a volta de Lula ao poder só foi possível por causa da aliança criada em torno da candidatura petista contra a extrema-direita, o bolsonarismo, o obscurantismo, o fundamentalismo religioso e o risco de uma ditadura”. “Não chegamos ao governo com maioria no parlamento, no país, mas pelas circunstâncias históricas do bolsonarismo, o que possibilitou aliança da frente ampla que levou à vitória do Lula”, afirmou. “Criaram-se condições para a volta do Lula ao governo, mas a volta do Lula ao governo é só o começo dessa retomada do ciclo histórico”, ponderou.
Segundo Dirceu, o Brasil precisa retomar o ciclo de desenvolvimento experimentado em governos como os de Getúlio Vargas, Juscelino Kubistchek e Lula, interrompido nas gestões Michel Temer e Jair Bolsonaro. “Não há nada mais importante que o terceiro governo Lula ser sucedido pelo quarto governo de Lula”, disse. Lembrando de movimentos históricos, como o processo de industrialização e de formação dos sindicatos e do próprio PT no Brasil, o ex-ministro afirmou que há esperança de que o país possa promover as transformações estruturais exigidas, mas ressaltou que o desafio agora é mais urgente que nas vezes anteriores. “O desafio é que daqui a dez anos o mundo será tão outro mundo que nosso tempo é muito curto. Não temos mais 30 anos. Temos dez anos para fazer as mudanças nas condições em que estamos vivendo”, destacou.
José Dirceu apontou que, além do tempo exíguo imposto pelas mudanças mundiais, o país também precisa vencer problemas estruturais como a falta de independência tecnológica e industrial. “Se olharmos bem para o Brasil, nós temos duas condições que poucos países têm, que é a soberania de alimentos e a climática, energética. Mas não temos a tecnológica. Se o Brasil não supera a questão da tecnologia, da educação, da industrialização do país, o Brasil vai ser sempre dependente”, disse.
Ele lembrou que o agronegócio brasileiro, responsável pela puxada da economia no último ano, depende da importação de chips, fertilizantes, agrotóxicos, produtos químicos e farmacêuticos, máquinas e equipamentos. No caso de uma guerra que impeça a importação de produtos como esses, ressaltou, a economia brasileira poderia simplesmente “parar”. “Para que não seja só uma noite de festa, de alegria, afeto e carinho, quero deixar um pouco essas interrogantes. Espero viver como minha mãe até 97 anos. Tenho, portanto, mais 17. Meu sonho é ver outro Brasil. Espero estar vivo para ver isso acontecer”, afirmou.
O aniversário de Dirceu também expôs as articulações em torno da presidência da Câmara. Um dos últimos a passar pela festa – por volta das 23h25 -, o presidente da Câmara, Arthur Lira, juntou-se ao deputado Elmar Nascimento (União-BA), considerado seu candidato à sucessão. Também passaram pela casa outros três postulantes ao cargo: os deputados Antônio Brito (PSD-BA), Isnaldo Bulhões (MDB-AL) e Marcos Pereira (Republicanos-SP).
Desde que foi apeado da Casa Civil do primeiro governo Lula, em 2005, em meio ao escândalo do mensalão, José Dirceu acumulou diversos problemas políticos e na Justiça. Considerado o ministro mais poderoso da República até então, depois de ter sido fundamental na chegada de Lula ao Planalto, Dirceu foi cassado pelos colegas na Câmara, acusado de ser o mentor de um esquema de compra de apoio político no Congresso.
Condenado pelo Supremo Tribunal Federal, em 2012, a sete anos e 11 meses de reclusão no caso do mensalão, Dirceu estava em prisão em regime domiciliar quando foi preso novamente, em novembro de 2013, na Operação Lava Jato. Sua pena relacionada ao mensalão foi declarada extinta em 2016 pelo ministro Luís Roberto Barroso. Ele, no entanto, continuou preso preventivamente pela Lava Jato até 2017. O ex-deputado foi condenado duas vezes na Lava Jato, mas recorre das decisões.
Na posse de Lula, em janeiro do ano passado, José Dirceu acompanhou a cerimônia do meio do público que lotou a Esplanada dos Ministérios. Foi visto pelo público como um anônimo, com óculos escuros e boné. Ainda em 2023, no entanto, o ex-deputado voltou a circular com maior desenvoltura pelos palcos políticos em Brasília. Dirceu tem sido um aliado do ministro Fernando Haddad nas divergências com a presidente do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PR). Gleisi foi uma das ausências notadas da festa.
Veja algumas das principais autoridades presentes à festa de Dirceu:
Geraldo Alckmin – vice-presidente da República e ministro da Indústria
Alexandre Padilha – ministro das Relações Institucionais
Antônio Brito (PSD-BA) – deputado federal e pré-candidato à presidência da Câmara
Arlindo Chinaglia (PT-SP) – deputado federal e ex-presidente da Câmara
Arthur Lira (PP-AL) – presidente da Câmara
Beto Faro (PT-PA) – líder do PT no Senado
Celso Sabino – ministro do Turismo
Danilo Forte (União-CE) – deputado federal
Elmar Nascimento (União-BA) – deputado e pré-candidato à presidência da Câmara
Erika Kokay (PT-DF) – deputada federal
Fabiano Silva Santos – presidente dos Correios
Felipe Carreras (PSB-PE) – deputado federal
Fernando Haddad – ministro da Fazenda
Gabriel Galípolo – diretor de Política Monetária do Banco Central
Guilherme Boulos (Psol-SP) – deputado federal e pré-candidato a prefeito de São Paulo
Guilherme Mello – secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda
Humberto Costa (PT-PE) – senador
Isnaldo Bulhões (MDB-AL) – líder do MDB e pré-candidato à presidência da Câmara
Jandira Feghali (PCdoB-RJ) – deputada federal
Jaques Wagner (PT-BA) – líder do Governo no Senado
Jean Paul Prates – presidente da Petrobras
João Carlos Bacelar (PL-BA) – deputado federal
João Paulo Cunha (PT-SP), ex-presidente da Câmara
José Múcio – ministro da Defesa
Juscelino Filho – ministro das Comunicações
Luciana Santos – ministra da Ciência e Tecnologia
Luiz Estevão – ex-senador, empresário e fundador do portal Metrópoles
Márcio Macêdo – ministro da Secretaria Geral
Marco Maia (PT-RS) – ex-deputado e ex-presidente d aCâmara
Marcos Pereira (Republicanos-SP) – deputado federal, presidente do Republicanos e pré-candidato à presidência da Câmara
Nísia Trindade – ministra da Saúde
Odair Cunha (PT-MG) – líder do PT na Câmara
Paulo Rocha (PT-PA) – ex-senador
Randolfe Rodrigues (sem partido-AP) – senador e líder do Governo no Congresso
Reginaldo Lopes (PT-MG) – deputado e vice-líder do Governo no Congresso
Rubens Júnior (PT-MA) – deputado federal
Rui Falcão (PT-SP) – deputado federal e ex-presidente do PT
Sidônio Palmeira – marqueteiro da campanha de Lula em 2022
Silvio Costa (Republicanos-PE) – 1° suplente da senadora Teresa Leitão (PT-PE)
Silvio Costa Filho (Republicanos) – ministro de Portos e Aeroportos
Talíria Petrone (Psol-RJ) – deputada federal
Tarcísio Motta (Psol-RJ) – deputado federal
Vinicius de Carvalho – ministro da CGU (Controladoria Geral da União)
Weverton Rocha (PDT-MA) – senador
Por Edson Sardinha.
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