Renata Camargo
A um ano das eleições, um quarto do Senado se movimenta nos bastidores para se lançar candidato a governos estaduais em 2010. Levantamento feito pelo Congresso em Foco mostra que 23 senadores, entre titulares, licenciados e suplentes, articulam candidatura para governador.
Desses, 17 estão numa situação confortável: poderão continuar no Senado mesmo que não tenham sucesso nas urnas, uma vez que seus mandatos só terminarão no início de 2015. Os outros seis admitem ir para o “tudo ou nada” na disputa estadual, abrindo mão da candidatura à reeleição. Em 2010, estarão em jogo 54 (dois terços) das 81 cadeiras da Casa.
Veja a lista dos senadores pré-candidatos a governador
O PSDB é o partido com maior número de senadores pré-candidatos: sete tucanos trabalham para entrar diretamente nas disputas estaduais. PT e PTB vêm logo atrás, com quatro senadores cada. Em seguida, aparecem o DEM, com três senadores, e o PMDB com dois. PSB, PDT e PR também têm representantes interessados em trocar o Senado pelo Executivo estadual.
Em pelo menos quatro estados, há possibilidade de disputa entre senadores na eleição para governador: Paraná, Rondônia, Tocantins e Santa Catarina. São as únicas unidades federativas que, até o momento, têm dois representantes no Senado articulando candidatura ao governo estadual (leia mais).
Cautela
Como as movimentações nos estados estão a pleno vapor, alguns parlamentares preferem adotar discurso cauteloso. Dos 23 que admitem entrar na corrida estadual do ano que vem, sete ainda evitam se apresentar como pré-candidatos. Eles assumem a intenção de comandar seus estados, mas dizem que ainda estudam o cenário para confirmar a entrada na disputa.
Nas eleições de 2006, 23 senadores concorreram a governador e três disputaram como vice-governador. Apenas quatro dos 26 tiveram sucesso: o atual governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral Filho (PMDB), a governadora do Pará, Ana Júlia (PT), e os vice-governadores do Distrito Federal, Paulo Octávio (DEM), e de Santa Catarina, Leonel Pavan (PSDB) (leia mais).
Outros dois senadores que saíram derrotados naquela oportunidade assumiram o mandato recentemente por causa da cassação do mandato dos governadores eleitos pela Justiça eleitoral: José Maranhão (PMDB), na Paraíba, que assumiu a cadeira antes ocupada por Cássio Cunha Lima (SDB); e Roseana Sarney (PMDB), no Maranhão, que entrou no lugar de Jackson Lago (PDT).
Ainda em 2006, três senadores entraram na corrida presidencial: Heloísa Helena (Psol-AL), Cristovam Buarque (PDT-DF), como candidatos a presidente da República; e Jefferson Péres (PDT-AM), morto no ano passado, que disputou a vice-presidência na chapa de Cristovam. Desses, apenas Heloísa ficou sem mandato na Casa após perder a disputa presidencial. Entre os atuais senadores, só Marina Silva (PV-AC) é cotada, no momento, para concorrer ao Planalto em 2010. O senador Cristovam gostaria de voltar a participar da disputa presidencial, mas não tem o apoio do seu partido para isso.
“Estação de baldeação”
A candidatura de senador ao governo estadual se torna atraente, sobretudo, porque o mandato no Senado tem duração de oito anos. Muitos parlamentares aproveitam as eleições para presidente da República, governador e prefeito para tentar mudar o alvo eleitoral sem correr o risco de ficar sem mandato no caso de uma eventual derrota.
Reeleito em 2006, o senador Alvaro Dias (PSDB-PR) diz que o Senado é uma espécie de “estação de baldeação” para o governo estadual. O tucano é pré-candidato ao governo do Paraná em 2010 e vê com naturalidade a candidatura de senadores no meio do mandato. “É normal os senadores quererem disputar o governo estadual. Nos Estados Unidos, a maioria dos candidatos do Partido Democrata e Partido Republicano aos governos estaduais são senadores”, diz Alvaro.
Para o cientista político Ricardo Caldas, da Universidade de Brasília (UnB), a candidatura dos senadores tem custo político zero. “Os senadores têm a vantagem de ter um mandato de oito anos e no meio desse mandato ter eleições intermediárias. E é uma oportunidade excelente com custo político zero. Ele concorre sem nenhum prejuízo de perder o mandato”, analisa Ricardo.
O cientista político Leonardo Barreto, também da UnB, concorda. Para Leonardo, a eleição para governador fica atraente, porque para muitos senadores ela não se coloca como “um jogo de tudo ou nada”. Outra vantagem, segundo o cientista, é a visibilidade que o Senado propicia no estado.
Entre os senadores que cogitam disputar o governo estadual, apenas seis – João Ribeiro (PR-TO), Sérgio Zambiasi (PTB-RS), Osmar Dias (PDT-PR), Fátima Cleide (PT-RO) e Ideli Salvatti (PT-SC) e o senador licenciado Hélio Costa (PMDB-MG), atual ministro das Comunicações – sinalizam que podem caminhar para o “tudo ou nada”. Seus mandatos acabam no início de 2011.
Casa vazia
“Os senadores têm uma atuação diferenciada quando comparada com a dos deputados, pois as bancadas no Senado são menores, o que permite que o senador tenha maior visibilidade e tenha uma massificação da sua imagem em seu reduto”, observa Leonardo Barreto.
Vantajosa para os parlamentares, a candidatura no meio do mandato se mostra prejudicial para o eleitor, na opinião do cientista político. Isso porque as atenções dos senadores passam a se concentrar nas disputas eleitorais. “A partir de agora, a menos de um ano das eleições, eles estarão dedicados a essas pré-candidaturas. É bem possível que as discussões no Senado fiquem de lado e a prioridade passe a ser os estados”, avalia Leonardo.
Alvaro Dias admite que o problema é real, mas transfere a culpa para o outro lado da Esplanada. “Realmente há um prejuízo quando há uma antecipação do processo. E já está havendo uma antecipação nos estados. Muito por culpa do presidente Lula, que antecipou a campanha da sua candidata à Presidência”, acusa o senador tucano.
A relação dos senadores que cogitam disputar o governo estadual inclui cinco ex-governadores e dois parlamentares que tentaram, sem sucesso, trocar o Senado pelo Executivo em 2006. Além de Alvaro Dias, Fernando Collor (PTB-AL), Marconi Perillo (PSDB-GO), Jayme Campos (DEM-MT) e Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) também já comandaram seus estados.
Osmar Dias (PDT-PR) e Fátima Cleide (PT-RO) foram derrotados na última disputa estadual para o governo de seus estados.
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