Um bom governo consegue fazer a transição entre modelos políticos que estão caminhando para o esgotamento para modelos que de fato promovam a governabilidade. Já discorri há anos sobre a falácia da governabilidade nos moldes em que a ideia foi cunhada no Brasil. A entrega indiscriminada de órgãos inteiros e cargos relevantes para aliados, na verdade, gerou o desgoverno no país! E, olhando hoje para as composições que são feitas em nível nacional, para a disputa da Presidência da República, nota-se que esse modelo está mais vivo do que nunca. São diversas as siglas que se juntaram sob a liderança do PT, passaram a apoiar o PMDB e agora correm para os braços abertos do PSDB. O problema aqui é a pouca probabilidade de que um futuro Governo por esta coligação seja capaz de sinalizar algo de novo na política nacional.
Por outro lado, duvido também da possibilidade de que um rompimento brusco (e isso vale até para os quase extintos sonhos revolucionários) seja capaz de promover uma mudança positiva. São inúmeros os problemas a serem enfrentados, tarefa quase impossível para quem não detém conhecimento e competência para administrar o dia a dia da gestão pública. Além disso, compor uma equipe de Governo não é tarefa fácil. A proposta messiânica de renovação até hoje não produziu bons resultados. Foi só promessa não cumprida, o mesmo modelo sobre nova roupagem. Até porque não existe um estoque de políticos puros e competentes que possa substituir “tudo o que está aí”, e assim fazer a transição de um Estado corrompido para um modelo purificado.
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Essa transição há de ser feita como quem troca o pneu com o carro em movimento. Muitos elementos, e mesmo agentes políticos, do modelo anterior ainda estarão presentes na caminhada de transição. O desafio é, mesmo nessa situação, já sinalizar de forma concreta a mudança que vai gradualmente sendo implementada. Nesse passo, muitos enfrentamentos são realizados por aqueles que perdem seus privilégios, e que passam a acusar o governo da forma que for possível, com um discurso vazio, recheado de provocações diversas que tentam na verdade dissimular sua agenda real e oculta. Na outra via, não sendo ainda possível usufruir de uma melhora generalizada na prestação dos serviços públicos, os cidadãos em geral se sentem perdidos na batalha da informação que se estabelece.
Quais são os sinais da transição de modelos no Distrito Federal?
Creio que um dos mais relevantes seja a blindagem que foi feita, contra as indicações políticas, em empresas como CEB e Caesb. Haverá quem advogue a privatização dessas empresas, o que não será objeto deste artigo. O que vale notar, nesse caso, foi o rompimento com a prática histórica de se lotear diretorias dessas empresas para preenchimento de vagas por correligionários políticos dos indicados. Esse modelo foi superado, com resultados absolutamente concretos, obviamente positivos.
No início do governo Rollemberg, a CEB havia sido considerada uma empresa sem possibilidade de recuperação, em trabalho realizado pelo TCU. Agora, aquele mesmo órgão de controle a apresenta como exemplo de boas práticas de gestão. A Caesb enfrentou com louvor a maior crise hídrica da história do DF, uma das maiores que já ocorreu em áreas urbanas no País, deixando um legado de garantia de abastecimento para as próximas gerações em um prazo de vinte anos. Modelo de gestão semelhante foi adotado em empresas como BRB, Terracap e Metrô.
Além disso, diversos órgãos da administração direta foram ocupados por profissionais da área em questão, qualificando assim a gestão pública do DF, ao mesmo tempo em que houve a realização de acordos para obtenção de apoios por meio da composição política em outros órgãos. No geral, todavia, há uma clara sinalização de superação do modelo antigo que gerou o desgoverno.
São diversas as informações que nos chegam acerca de coligações que hoje pleiteiam o GDF a respeito da “partilha” das empresas e de diversos órgãos que já estaria sacramentada – retornando assim a um modelo falido de gestão pública. Cabe ao eleitor avaliar com cuidado se prefere continuar aprofundando o novo modelo já sinalizado de maneira concreta e com ótimos resultados a apresentar, ou voltar ao velho loteamento e utilização da máquina pública para obtenção de interesses privados.
Do mesmo autor:
Se realmente o foco for parar de servir de ¨cabide eleitoral¨ e que se possa tornar uma regra sem exceção vale, sem dúvida alguma, que se mantenha e se irradie aos demais estados e principalmente aquelas sob comando federal. O melhor, defendo sempre, é que não fique em mãos de governo algum (municipal, estadual ou federal), caso não seja de necessidade básica tais como educação, saúde e segurança. Grato por compartilhar, syn!