Antes que eu comece a levar pedradas dos leitores petistas, explico o título. Certamente, não estamos falando aqui das investigações e imputações que foram feitas pelo ex-juiz Sergio Moro e pelos procuradores. Nem estamos falando exatamente apenas do que saiu da chamada República de Curitiba, mas de todo o ambiente político que se construiu a partir da famosa operação que chegou a virar filme e série da Netflix.
As investigações e denúncias de corrupção até respingaram em alguns tucanos e comprometeram suas biografias. O caso mais notório é o do deputado Aécio Neves (PSDB-MG) no episódio da JBS. Sem entrar aqui no mérito das denúncias, o fato é que depois delas Aécio nunca mais foi o mesmo, e tenta de forma agressiva recuperar a liderança que já teve no passado.
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Mas, partindo do desespero de Aécio em recuperar essa liderança, podemos entender a ideia de como o PSDB politicamente sofreu com esse estado de coisas. A Lava Jato e todo esse ambiente de negação e crítica da política tradicional como corrupta abriu uma caixa de Pandora. Em certo momento, o PSDB ajudou que essa caixa de Pandora fosse aberta. Mas nem de longe se beneficiou com ela.
Da caixa de Pandora da Lava Jato, o que saiu foi o presidente Jair Bolsonaro e toda a ideia em torno dele de renovação da política. Ele próprio, Bolsonaro, estaria longe de representar isso, deputado com décadas de mandato em diversos partidos conservadores. Mas na esteira da sua eleição surgiram diversos nomes que nunca tinham disputado eleição, como Ibaneis Rocha, governador do Distrito Federal, e Romeu Zema, de Minas Gerais.
Vítima grande das imputações vindas da Lava Jato e desse ambiente, o PT parece ter se cristalizado na crença de boa parte dos seus eleitores de que era vítima de tudo isso. E assim parece ter se preservado para esses eleitores. Uma situação que hoje polariza o país e gera mais rejeições que apoios. Mas Luiz Inácio Lula da Silva lidera as pesquisas e tem boa chance de se eleger presidente e tentar limpar sua biografia.
Mas, e o PSDB? Desde então, foi caindo numa espiral de decadência, depois de chegar bem perto de vencer as eleições, com Aécio Neves, perdendo por uma cabeça no segundo turno para Dilma Rousseff em 2014.
Desde então, o partido perdeu-se. Avançou para uma posição conservadora que nunca antes tinha sido a sua. Conserva seu poder em São Paulo, mas perde força em todos os demais lugares. O vexame chega ao ápice com a frustração do que seria uma demonstração de modernidade: as prévias que não conseguiu concluir no domingo.
Já era complicado para o partido ter que reverter com qualquer um dos seus dois candidatos realmente com chances o fato de que teria que explicar a seus eleitores que ambos erraram feio em 2018. Tanto o governador de São Paulo, João Doria, como o do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, abandonaram a candidatura própria do partido, Geraldo Alckmin, para fazer dobradinhas nos seus estados com Jair Bolsonaro.
Agora, qualquer um que vença terá que lidar com a profunda desconfiança que foi criada a partir da ideia de um instrumento democrático de disputa interna prévia. O tal aplicativo de votação não funcionou. Foi criado pela Universidade do Rio Grande do Sul, estado governado por Eduardo Leite, o que levantou suspeitas sobre ele. Qualquer que seja o resultado, o vencedor terá imensas dificuldades de superar as desconfianças do derrotado. O que já ficou claro no domingo quando Doria e o ex-prefeito de Manaus Arthur Virgílio, o outro pré-candidato, já não demonstravam qualquer disposição de dialogar com Eduardo Leite.
Só um profundo milagre de tolerância interna parece ser capaz agora de fazer com que o PSDB não parta para as eleições de 2022 como coadjuvante. É nesse sentido que a Lava Jato fez muito mal ao ninho dos tucanos.
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