O resultado das eleições 2018, mesmo ainda faltando o segundo turno, foi extremamente interessante. Sobretudo para a Câmara dos Deputados, que apresentou renovação de mais de 50%, e para o Senado Federal, que teve renovação de 85%, os índices mais altos da história. A bancada conservadora se ampliou, teremos mais policiais, mais militares e mais religiosos representando a população, além de alguns nomes que se notabilizaram durante os protestos populares que tomaram as ruas a partir de 2013. Serão 22 partidos políticos com representação no Congresso Nacional.
“Contraditoriamente” ao Congresso mais conservador da história, teremos, a partir de fevereiro de 2019, mais deputados jovens, mais mulheres, mais índios, mais gays, mais negros. É o congresso mais diverso da história.
E teremos menos milionários como deputados. Aliás, metade dos candidatos que investiram mais de R$ 1 milhão para a própria campanha não se elegeu. Pode ser um sinal de amadurecimento do eleitor, que começa a perceber que o conteúdo do candidato é mais importante do que a forma e a quantidade de material distribuído.
Caciques da política tradicional, nos mais diferentes estados, ficarão sem mandato, no mais importante recado das urnas. Aí está o principal tempero do banquete eleitoral. A população está mais atenta e preparada para identificar o político profissional. Enfim, a população se manifestou e a democracia agradeceu.
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Agora, enquanto o debate no país se concentra nas disputas em segundo turno – particularmente a presidencial, entre Bolsonaro e Haddad – vale a pena colocar na mesa dois desafios: reduzir os ainda altos índices de abstenção, nulos e brancos, e a importância de o eleitor fiscalizar a atuação dos eleitos desde já e até o último dia de mandato.
Quase 30 milhões de brasileiros não exerceram seu direito ao voto. Parte deles pode ter deixado de comparecer por razões justificáveis, mas muitos tomaram a decisão de forma consciente, tamanha a desilusão e a desesperança em relação ao país. Esse eleitor não se dá conta de que essa postura de “lavar as mãos” talvez seja a mais egoísta de todas, pois submete a escolha à vontade de todos os outros que participam do pleito e ajuda a enfraquecer o sistema democrático.
Somos 147,3 milhões eleitores, mas 117,3 milhões compareceram às urnas (79,67%) e 29,9 milhões não foram votar (20,33%), o maior índice desde 1998. Os votos nulos somaram 7,2 milhões, o equivalente a 6,14%, e os votos brancos, 3,1 milhões (2,65%).
Somando abstenções, nulos e brancos, são mais de 40 milhões de brasileiros que reduziram o número de votos válidos a 107 milhões. Ou seja, os eleitos representam a escolha de apenas dois terços dos brasileiros aptos a votar.
Quanto maior for a participação, mais bem representados estaremos. E melhor fiscalizados serão os eleitos, que representam a todos, não apenas os que confiaram a eles seus votos.
Ainda temos um longo caminho a trilhar para tornar nossa democracia mais robusta e resistente, menos vulnerável a eventuais aproximações com regimes totalitários. Com uma representação mais justa, solidária, honesta, racional, humanista. E com menos corrupção, ódio ou desesperança.
A participação do maior número de eleitores nas eleições deve ser uma meta permanente de qualquer país, em todas as esferas de poder, e em todos os níveis. Mais participação resultará em mais fiscalização, ação fundamental para garantir o bom funcionamento das instituições públicas.
Somos todos agentes da política, eleitores e eleitos. Somos nós que determinamos os rumos do país. É uma responsabilidade gigantesca, mas negligenciada na mesma proporção da desilusão.
Mesmo que nossos candidatos não tenham conseguido se eleger, ainda temos o direito e o dever de cobrar, sugerir, reclamar e denunciar, se for o caso, os que conseguiram. Só assim a cidadania e a democracia serão exercidas.
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