No fim de semana, a editora do Congresso em Foco Julia Schiaffarino fez um irretocável panorama da situação do MDB com relação à candidatura própria da senadora Simone Tebet (MS). Mostrou que em diversos estados, no Norte e no Nordeste, já estão sendo montados palanques que contemplam a aliança com o PT. Daí, as dificuldades de Simone e a pressão interna que há para que o partido abandone sua candidatura e apoie Luiz Inácio Lula da Silva, do PT, já no primeiro turno. É um quadro que pode irritar quem defende outro caminho. Mas o quadro está aí.
Na entrevista que concedeu a Julia, a própria Simone Tebet demonstrou total tranquilidade com a situação. Ela tenta construir a unidade. Acredita ter a maioria do partido. Mas sabe que não tem a unidade. Até porque unidade nunca foi uma palavra muito relacionada com o MDB, desde as suas origens. Até mesmo antes dele mesmo existir, nas suas raízes mais profundas.
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Na árvore genealógica da política brasileira, o MDB é filho dileto do antigo PSD. Não o atual, de Gilberto Kassab, mas aquele que foi o maior partido brasileiro no período democrático pré-golpe militar, de 1945 a 1964, o riquíssimo período que definiu a lógica político-partidária brasileira.
O PSD também era uma constelação de caciques regionais. Também era um partido de centro, definidor da governabilidade. Como conta Lúcia Hippolito no seu “PSD: De Raposas e Reformistas”, o partido foi o grande fiel da balança; quando esteve fora da aliança de poder com Jânio Quadros, o caldo desandou e veio dar no golpe e na ditadura.
Então, não foi por acaso que tenha nascido no antigo PSD o verbo que entrou na cultura política brasileira: “cristianizar”. Em 1950, o PSD lançou Cristiano Machado à Presidência da República. Enquanto isso, Getúlio Vargas era o candidato do PTB. A grande maioria do PSD acabou abandonando Cristiano Machado pelo caminho e ajudou a “botar o retrato do velho de novo” nos gabinetes da República brasileira. Cristiano Machado foi de tal forma abandonado que o gesto virou verbo na política.
PublicidadeNa redemocratização, o MDB tornou-se muito parecido com o velho PSD. Constelação de caciques, fiel da balança de centro a dar governabilidade a diversos governos de outros partidos. E, assim, cristianizando muitos dos seus. Incluindo aí seu grande líder, Ulysses Guimarães, em 1989.
Integrante do velho PSD e do novo MDB, Tancredo Neves tinha uma frase a respeito de votos secretos. Segundo ele, “dá uma vontade danada de trair”…
Nas peculiaridades da atual eleição presidencial, esse é o grande desafio de Simone Tebet. Convencer seus colegas de partido que ainda é possível furar a bolha da polarização entre Lula e o presidente Jair Bolsonaro. Nas suas argumentações, é isso o que ela trabalha. Em tese, ela insiste que há ainda um grupo grande de indecisos e de pessoas que não estariam dispostas a votar nem em Lula nem em Bolsonaro. O problema seria que essas pessoas ou estariam dispersas entre as várias candidaturas postas ou não teriam se animado ainda com nenhuma delas. É nessa linha que Simone vai precisar atuar. Começando dentro do seu próprio partido.
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