A extrema direita brasileira, para sobreviver politicamente, precisa de um álibi que disfarce sua verdadeira agenda e os interesses que representa. Esse álibi é construído mediante uma estratégia que consiste em acusar a esquerda e os setores progressistas de serem os responsáveis pelas mazelas que afetam a população. A partir dessa premissa, utilizam o populismo digital, disseminando fake news e ameaças, inclusive físicas, para deslegitimar os agentes políticos progressistas, além de questionar a legitimidade do sistema político e de suas instituições. Essa abordagem visa ganhar a simpatia de pessoas com menor acesso à educação e a informações críticas, muitas vezes apelando para sentimentos e emoções ao invés de fatos.
A estratégia da extrema direita não se limita à manipulação da opinião pública entre os menos informados. Ela também se apoia em segmentos da classe média e do mercado que, por razões distintas, encontram motivos para se aliar a essa corrente política. A classe média, muitas vezes guiada por valores moralistas e conservadores, vê na agenda progressista uma ameaça aos seus princípios e modo de vida. Já os setores do mercado se opõem à esquerda e aos governos progressistas por razões econômicas. Estes setores, nos governos ditos “liberais” e os de extrema-direita, frequentemente se beneficiam de privilégios como a ausência de fiscalização trabalhista, ambiental e tributária, além de renúncias e incentivos fiscais desnecessários, que são questionados e combatidos por governos de orientação progressista.
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Assim, a extrema direita brasileira se fortalece ao formar uma coalizão que inclui tanto pessoas de baixa cognição, influenciadas pelo populismo digital e fake news, quanto segmentos da classe média e do mercado, movidos por razões moralistas e econômicas. Juntos, esses grupos criam uma frente unificada contra os governos progressistas, dificultando a implementação de políticas que visem reduzir desigualdades e promover justiça social.
Essa dinâmica é sustentada por uma constante campanha de desinformação, onde a verdade é frequentemente distorcida para servir aos interesses da extrema direita. Embora destinada a trazer benefícios aos líderes desses movimentos, a narrativa criada busca pintar a esquerda e os progressistas como inimigos do povo, desviando a atenção das verdadeiras causas das mazelas sociais e econômicas do país. Em um ambiente político polarizado e marcado pela desconfiança nas instituições, essa tática se mostra eficaz para manter a base de apoio da extrema-direita mobilizada e engajada, perpetuando um ciclo de desinformação e resistência às mudanças progressistas.
A mistura de política e religião tem sido utilizada pela extrema direita no mundo ocidental para evitar políticas públicas em favor das minorias sociais e dos menos favorecidos. Eles criam um ambiente favorável à sucessão desse tipo de pensamento, sempre em nome da liberdade, da família, da propriedade e da moralidade e dos bons costumes. Esse álibi apela aos instintos primitivos em lugar de valorizar avaliações baseadas em evidências e, portanto, em racionalidade. Esse uso instrumental da religião fortalece a narrativa de que os inimigos são os progressistas, que são pintados como ameaças à ordem moral e aos valores tradicionais. É uma estratégia que, se não for contida, pode levar a uma erosão contínua das bases democráticas e ao fortalecimento de regimes autoritários.
Além disso, o engajamento da extrema direita também proporciona lucro para seus operadores. Os principais influenciadores e líderes desse tipo pregação são financiados e monetizam seus sites com anúncios, publicidade direta, solicitam doações (quem não se lembra dos Pix de Bolsonaro?), recebem por “likes” e vendem produtos e serviços destinados a reforçar a defesa do ideário da extrema direita. Virou um grande negócio.
Foi esse tipo de estratégia que levou ao impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. Esse mesmo modus operandi está em curso no terceiro governo Lula. Ou setores da classe média, o mercado e a mídia agem racionalmente, ou essas forças voltam ao governo e desta vez conseguem implementar a ditadura que Bolsonaro não conseguiu estabelecer devido a erros que não irão repetir, instaurando uma ditadura duradoura, com repressão das liberdades, inclusive de imprensa e de mercado, além de massacre dos mais pobres, das minorias sociais e sufocamento da classe média. A polarização política e a desinformação constante amplificam o risco, promovendo um cenário onde o radicalismo ganha terreno. É imperativo que a sociedade civil se una em defesa dos princípios democráticos, garantindo um ambiente de diálogo e resistência às ameaças autoritárias.
Por fim, a selvageria dessa gente pode ser medida pela tentativa de golpe de 8 de janeiro de 2023, pelas agressões verbais nas redes sociais e pela falta de decoro no exercício de mandato no Parlamento, onde promovem gritaria e tumultuam o funcionamento das comissões e ameaçam de agressão física os adversários, inclusive autoridades do Poder Executivo e do Judiciário. Ou põem um freio nisso ou aqueles que indiretamente apoiam essas ações acabarão por legitimar um cenário de autoritarismo e repressão.
Diante desse cenário alarmante, é crucial que a sociedade brasileira se conscientize dos mecanismos de manipulação e desinformação utilizados pela extrema direita. A valorização da educação crítica, o fortalecimento das instituições democráticas e a promoção de um diálogo baseado em fatos são essenciais para combater a polarização e o ressurgimento de ideologias autoritárias. Só por meio de um esforço coletivo, que inclui todos os setores da sociedade, será possível construir um futuro mais justo e equitativo, onde a desinformação e o ressentimento não sejam as forças motrizes da política nacional. E o primeiro passo seria a regulamentação do uso das redes sociais, com punição severa à produção e disseminação de fake news, assim como estabelecer regras de convívio civilizado nos ambientes coletivos onde essa gente tem presença institucional.
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