O Congresso Nacional tem este ano, pela primeira vez, a presença de mulheres trans com mandato, as deputadas Duda Salabert (PDT-MG) e Erika Hilton (Psol-SP). Embora lidere o ranking mundial de violência contra transgêneros, o Brasil está entre os países da América Latina que mais se mostram favoráveis à presença de pessoas trans em cargos públicos.
Pesquisa inédita divulgada pela Fundação Luminate e realizada pelo Instituto Ipsos revela que 57% dos brasileiros afirmam se sentir totalmente confortáveis com a presença de trans em cargos políticos. O percentual é bem superior ao registrado pelo levantamento nos outros países latino-americanos pesquisados: Argentina (49%), México (40%) e Colômbia (37%). O relatório “LGBT+ na Política: Percepções do Eleitorado na América Latina” foi divulgado nesta quarta-feira (28), quando se celebra o Dia do Orgulho LGBTQIAPN+.
Para Duda Salabert, além da pesquisa, dados empíricos também confirmam um desejo da população brasileira pelo “alargamento da democracia”, o que se materializa com a eleição de pessoas LGBTQIA+.
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“O exemplo disso é que eu sou a pessoa mais bem votada da história do Parlamento de Belo Horizonte quando fui vereadora, com o dobro do recorde de votação anterior. E eu sou a deputada federal mais bem votada da história de Minas Gerais. A vitória minha e também de outros parlamentares trans que batem recorde de votação traduzem um anseio popular por maior representatividade e diversidade no Parlamento brasileiro. Antes dessa pesquisa, já havia sinalizações da sociedade clamando por essas transformações”, disse Duda ao Congresso em Foco.
Se há sinais de melhora no cenário político, os indicadores ainda são preocupantes em relação à segurança de pessoas em decorrência de sua orientação sexual ou de seu gênero. Uma pessoa LGBTQIA+ foi morta violentamente a cada 34 horas no país em 2022. De acordo com o Dossiê de Mortes e Violências Contra LGBTI+ no Brasil, foram assassinadas 273 pessoas entre janeiro e dezembro do ano passado.
Segundo a pesquisa da Luminate e do Instituto Ipsos divulgada nesta quarta, 59% dos brasileiros entendem que a população LGBTQIA+ deveria ter uma representação maior na política. O Brasil lidera o ranking que defende o aumento do acesso desse grupo aos espaços de poder nos quatro países da América Latina analisados. Esse índice ficou em 55% na Argentina e 51% na Colômbia e no México.
Conforme o levantamento, 63% dos entrevistados no Brasil concordam total ou parcialmente que a diversidade de vozes, incluindo a pluralidade de identidades de gênero e sexualidades, é essencial para a democracia. A pesquisa indica que 55% apoiam o aumento de membros da comunidade LGBT+ na política.
Em seu relatório, a Luminate destaca que lideranças LGBTQIA+ pioneiras abriram caminho para aumentar as vozes dentro das instituições, barrar retrocessos a direitos e avançar em pautas centrais para a comunidade queer. Apesar disso, a relação entre representação e direitos não é tão percebida pela maioria das pessoas pesquisadas.
• 47% concordam plenamente ou em partes que a falta de representação política prejudica a proteção e o reconhecimento aos direitos LGBT+
• 25% discordam total ou parcialmente da afirmação acima
• 60% concordam plenamente ou em partes que a presença de pessoas LGBT+ na política importa menos que a promoção de igualdade universal entre todos os indivíduos.
A pesquisa aponta que 40% das pessoas defendem total ou parcialmente a adoção de cotas LGBTQIA+ por partidos políticos. Outros 56% apoiam total ou parcialmente a distribuição igualitária de recursos a candidaturas LGBT+ pelos partidos políticos.
Segundo levantamento da Aliança Nacional LGBTI+, o grupo teve 356 candidaturas em 2022. Desses, 20 foram eleitos: 13 são deputados estaduais, um deputado distrital e cinco, deputados federais. Também foram eleitos a governadora do Rio Grande do Norte, Fátima Bezerra (PT), e o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), os únicos assumidamente homossexuais.
O relatório ressalta que diversos obstáculos se interpõem entre a população LGBTQIA+ e o acesso à política, como a violência e a indiferença. A percepção sobre o peso desses obstáculos é alta entre a população brasileira, segundo a pesquisa:
• 49% apontam preconceito e discriminação da sociedade em geral contra candidaturas LGBTQIA+ como barreira de acesso à política
• 38% enxergam a falta de apoio de partidos políticos como empecilho à entrada de candidaturas LGBTQIA+ nos espaços de poder
• 31% reconhecem o receio de pessoas LGBTQIA+ de sofrerem com represálias e ameaças como fator importante de bloqueio à representação
• Apenas 17% creem não haver barreiras à participação de pessoas LGBTQIA+ na política.
A pesquisa mostra que as principais características buscadas pelo eleitor brasileiro em candidaturas LGBTQIA+ estão fora dos marcos identitários. Competência (23%), profissionalismo (22%), ética (20%) e abertura ao diálogo (10%) são as principais características buscadas pelo eleitorado frente a uma hipotética candidatura LGBTQIA+ à Presidência. Uma minoria de 9% declara não votar de forma alguma em uma candidatura LGBTQIA+ por uma questão de valores e crenças.
O levantamento também vislumbra uma mudança cultural e geracional. Gerações mais novas tendem a tratar com maior naturalidade e a apoiar a presença de LGBTQIA+ na política. Entre jovens de 18 a 24 anos dos países, o Brasil é o que mais apoia a expansão da representação LGBTQIA+: 78%; contra 63% no México, 59% na Colômbia e 51% na Argentina.
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