Nesta sexta-feira (11), completaram-se dois anos desde que a covid-19 foi caracterizada como pandemia pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Após 730 dias e 11.497 óbitos, o Distrito Federal retirou a obrigatoriedade da utilização das máscaras em todos os locais. No anúncio, o governador Ibaneis Rocha (MDB) afirmou que “chegou a hora de tentarmos voltar a ter uma vida normal.” No entanto, especialistas ouvidos pelo Congresso em Foco, acreditam que ainda não é o momento e que a decisão é prematura e ousada.
“Os nossos índices ainda são muito altos para qualquer tipo de flexibilização”, afirma Juarez Cunha, presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm). Segundo o boletim da Secretária de Saúde do DF, divulgado nesta sexta-feira, a taxa de transmissão da doença está em 0,59, um dos valores mais baixos desde o início da pandemia. Entretanto, a média móvel de casos está em 287 novos casos por dia.
Para efeitos de comparação, no boletim divulgado no dia 10 de dezembro, antes do pico da Ômicron e dos recessos de Natal e ano novo, o DF registrava uma taxa de transmissão de 0,96 e a média de novos casos estava em 51 por dia. Mesmo que agora estejamos com uma taxa de transmissão 1,6 vezes menor, estamos com uma média de casos novos diários 5,6 vezes maior. Mais pessoas estão ficando doentes diariamente, ao contrário do que a taxa menor faz parecer.
Juarez destaca que “todas as novas variantes apresentaram uma resposta menor das vacinas” e que a redução na utilização das máscaras pode promover o aparecimento de novas cepas do vírus. “Aumentam as chances de pessoas, em especial as que não estão vacinadas, contaminarem outras”, ressalta.
O momento para a flexibilização também não é o ideal, passados apenas 10 dias desde o fim do recesso de Carnaval. Especialistas estimam o período entre uma e três semanas para as aglomerações do feriado impactarem nos casos da doença. “A gente ainda está no tempo que observaríamos mudanças decorrentes do Carnaval. Se os casos aumentarem, não saberemos se serão em decorrência do Carnaval ou das medidas de flexibilização”, reforça o presidente da SBIm.
O virologista Fernando Spilki é mais otimista com a liberação em locais abertos, mas considera que desobrigar a utilização das proteções faciais em ambientes fechados é uma decisão “ousada”. “Para ambientes abertos, sem dúvidas, há condições e evidências bem consolidadas de que não seria um problema”, destaca. No entanto, devido a situação atual nas taxas de transmissão a liberação do uso nos ambientes fechados “não é uma medida isenta de riscos”.
A virologista e professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Clarissa Damaso, levanta o ponto das crianças, grupo que ainda não está com a cobertura vacinal completa. A imunização dos pequenos começou no dia 15 de janeiro, após atrasos do Ministério da Saúde para liberar o grupo e ataques de membros do governo e parlamentares.
“A gente está liberando máscaras em lugares fechados onde as crianças estão, por exemplo as escolas, sem que as crianças tenham completado o seu esquema vacinal. É lamentável”, destaca a especialista.
Clarissa também acredita que a flexibilização provocará um aumento nos casos da doença. “Se a variante predominante for a Ômicron, a gente teria uma resposta rápida no número de casos. Se retornar uma Delta ou aparecer uma nova variante, uma possibilidade não descartada, já que a gente continua tendo uma circulação alta do vírus, a gente pode pensar, no pior dos cenários, daqui uns 15 dias começarmos a ver um aumento no número de casos”, explica.
A epidemiologista Carla Domingues explica que o cuidado ainda se faz necessário, especialmente para as pessoas com risco maior de contaminação e complicações. “O ideal é que idosos, imunodeprimidos, não vacinados ou com vacinação incompleta continuem a utilizar máscaras em locais fechados, especialmente em locais sem ventilação ou com aglomeração”, afirma. A especialista ressalta: “apesar da diminuição importante dos casos e óbitos, a covid ainda não está controlada”.
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