Nas eleições de 2022, o apoio de mulheres se mostrou um fator decisivo para o desempenho dos dois candidatos que chegaram ao segundo turno da disputa presidencial mais acirrada desde a redemocratização. Pesquisa do Instituto Vamos Juntas identificou uma influência inédita das primeiras-damas Janja da Silva e Michelle Bolsonaro nas campanhas, respectivamente, de Lula e Jair Bolsonaro.
A corrida pelo eleitorado feminino exigiu esforço concentrado do atual e do ex-presidente. Os dois candidatos precisaram adequar seus discursos, bem como intensificar as agendas com lideranças femininas. Ao lado de Lula, o apoio de Simone Tebet e Marina Silva foi vital para consolidar o retrato de líder conciliador por ele desejado. Ao lado de Bolsonaro, deputadas como Bia Kicis (PL-DF) e Carla Zambelli (PL-SP) utilizaram suas redes para ajudar o ex-presidente a reduzir seu nível de rejeição entre o eleitorado feminino.
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Na campanha bolsonarista, Michelle acabou assumindo um protagonismo muito maior do que em 2018, chegando a se pronunciar em comícios em defesa do ex-presidente. “Parte da sua narrativa estava apoiada em pautas mais conservadoras como políticas anti-aborto, anti-drogas e ideologia de gênero, temas esses que mobilizam o eleitorado feminino conservador”, aponta Amabile Araujo, pesquisadora do estudo.
Ao fazer um comparativo entre os achados da pesquisa e os dados disponíveis em outros levantamentos, o material reflete que o principal papel de Michelle no palanque não era apenas o de angariar o apoio feminino, mas o de “minimizar alguns aspectos considerados negativos de Bolsonaro”, principalmente por meio do discurso religioso utilizado para justificar os deslizes de sua gestão. “Acreditamos que essa estratégia fez o Bolsonaro crescer, afinal ele chegou a ganhar seis pontos percentuais entre as mulheres em junho, chegando a 29% segundo pesquisa Datafolha”, registra o “Vamos Juntas”.
Janja, na via oposta, procurou se apresentar como uma liderança progressista ativa na condução da campanha de Lula. A percepção dos entrevistados é que seu discurso, por si só, não chegou a atingir novos públicos, uma vez que a partir da percepção do grupo, “as eleitoras de Lula eram aquelas de baixa renda que já estavam com intenção de voto direcionado ou aquelas que de alguma forma já rejeitavam veemente as falas do Bolsonaro”. Seu diferencial se deu nos bastidores, onde articulou apoio de artistas e influenciadores.
O protagonismo das primeiras-damas, porém, não se refletiu em aprofundamento do debate ao redor de políticas públicas voltadas para mulheres durante as eleições, conforme avalia a presidente do instituto, Larissa Alfino. “Apesar do interesse pelo voto feminino e grandes figuras femininas em destaque, não houve necessariamente compromissos eleitorais de políticas públicas para esse público.”
A pesquisa do Instituto Vamos Juntas foi realizada por meio de entrevistas com autoridades, políticos, lideranças partidárias, membros da sociedade civil, do setor privado e jornalistas que atuaram na observação das eleições de 2022. Os principais objetivos do estudo são identificar as principais barreiras para a atuação de mulheres na política, verificar o grau de eficiência da legislação eleitoral para direitos da Mulher e analisar o imaginário midiático sobre a participação de mulheres no processo eleitoral.
A íntegra da pesquisa pode ser obtida clicando aqui.
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