Um grupo formado por 31 povos indígenas e sob a coordenação da articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) lançou esta semana a Campanha Indígena, maior movimento articulado para formar uma bancada de povos tradicionais no Congresso Federal. O chamamento aos indígenas começou a circular em forma de um manifesto que traz a convocação: “vamos aldear a política”.
Para isso, distribuídas em 20 estados brasileiros estarão 30 candidaturas de indígenas com o apoio da Apib que vai atuar de maneira direcionada para dar visibilidade a estes nomes. O objetivo é construir campanhas articuladas independentemente dos estados ao qual os candidatos pertencem, uma vez que a divisão dos povos pelo território nacional compreende uma lógica própria.
“Nos Parlamentos, principalmente no Congresso Nacional, os prejuízos contra os nossos direitos são imensuráveis. Donos ou representantes do capital (do agronegócio, da mineração, do sistema financeiro, e tantas outras empresas privadas), aprovam a seu bel-prazer leis antipopulares, voltadas a garantir as suas metas de lucro e acumulação, mesmo que isso signifique, como verificou-se nos últimos anos, o roubo, a degradação e devastação dos nossos territórios e da Mãe Natureza como todo”, escrevem no manifesto.
Leia também
Atualmente, a deputada Joenia Wapichana (Rede-RR) é a única representante indígena na Câmara dos Deputados. Estes povos não contam com nenhum senador declarado indígena.
No manifesto, o grupo chama atenção para ações do governo do presidente Jair Bolsonaro (PL) que classifica como “incentivador de crimes cometidos por garimpeiros, grileiros e madeireiros”. Também é criticado o que eles entendem como desmonte da Fundação Nacional do Índio (Funai) que, conforme afirmam, foi entregue ao controle de ruralistas e passou a se eximir da missão institucional de proteger e promover os direitos dos povos indígenas, especialmente os relacionados às terras.
Ainda no documento, é feita referência ao que o grupo define como “cenário de morte” dos povos indígenas durante a pandemia da covid-19.
Confira aqui a íntegra do manifesto Aldear a Política.
Por fim, a Apib afirma que a eleição dos representes dos povos indígenas fará diferença para evitar a regressão ou supressão dos direitos adquiridos pelos povos indígenas após muita luta. “Vamos somar nossas forças em candidaturas conectadas com nossas bases e lutas do movimento indígena para darmos continuidade na nossa resistência ancestral”, conclui o manifesto.
De acordos com dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), 183 candidatos autodeclarados como indígenas estão registrados nas eleições deste ano.
Nomes Indígenas
A maioria dos candidatos que integram a Campanha Indígena é filiada à Rede Sustentabilidade, sendo cinco a deputado federal e seis a deputado estadual. Em segundo lugar aparece o Psol, com seis candidatos, três pelo pleito federal e três pelo pleito estadual. Os dois partidos aprovaram neste ano a formação de uma federação, e passarão a atuar de maneira conjunta a partir da próxima legislatura.
O PT também tem seis candidatos indígenas registrados que disputarão as eleições em outubro. O PCdoB tem dois candidatos registrados, assim como o PDT; enquanto PSC, PTB e PV têm um candidato cada.
Confira os candidatos da Campanha:
Ao todo, 18 candidatos tentam se eleger como deputados estaduais, e 12 tentam a eleição para deputado federal. Uma das candidatas à Câmara dos Deputados é Sonia Guajajara, filiada ao Psol. Em abril deste ano, Sonia concedeu entrevista ao Congresso em Foco e abordou os desafios de dar visibilidades às pautas indígenas, assim como viabilizar politicamente os candidatos.
Reveja a entrevista:
A principal proposta elencada por Sonia foi a preservação do meio ambiente, em risco por conta da expansão desenfreada do agronegócio. “Nós vamos trazer para a sociedade uma nova alternativa da proteção ambiental, o cuidado com a água. O perigo do agronegócio com a utilização de grandes áreas de terras para monoculturas e como isso afeta drasticamente o meio ambiente e a vida das pessoas”, afirmou.
A representante também destacou o avanço de pautas anti-indígenas no Congresso Nacional que facilitam a destruição dos territórios indígenas. “O fato é que houve um aumento considerável de invasão aos territórios, seja por meio do garimpo ilegal, da exploração ilegal de madeira ou da própria grilagem de terras. Os próprios territórios indígenas, mesmos já demarcados, estão com um processo violento de exploração ilegal e também de grilagem, tudo isso agora se acirrou e aumentou por conta desses projetos essas medidas anti-indígenas que tramitam no Congresso Nacional”, ressaltou Sonia.