Uma pesquisa realizada pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) em indígenas do povo Yanomami, em Roraima, identificou a contaminação de mercúrio em todas as amostras de cabelo de 287 habitantes da reserva que leva o mesmo nome. O metal é associado à prática do garimpo, apontado como principal responsável pela crise humanitária que atinge as aldeias na região.
O levantamento foi feito a pedido da Associação Ninam do Estado de Roraima, um dos subgrupos do povo Yanomami. Também participaram geógrafos, biólogos e geólogos, encarregados de investigar os níveis de mercúrio nas fontes de água e nos peixes das áreas de pesca utilizadas pelas aldeias.
“Em todas as amostras de cabelo estudadas foram detectadas concentrações de mercúrio: em homens, mulheres, crianças, adultos e idosos, sem exceção”, apontou o relatório. Ainda foi encontrado mercúrio em todos os 47 peixes coletados, de 14 espécies diferentes, em concentrações até três vezes maiores do que o recomendado pela Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos.
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Apesar de não haver um nível seguro de exposição ao mercúrio, parte dos indígenas examinados apresentaram, nas amostras de cabelo, uma concentração considerada de alto risco, com 10% dos voluntários alcançando seis microgramas do metal para cada grama de cabelo. Estes, durante a realização da pesquisa, já demonstravam sintomas da contaminação, como perda de memória e paralisia em diversos membros. Os efeitos dessa intoxicação são irreversíveis.
Confira a íntegra do relatório:
Publicado apenas nesta quinta-feira (4), o estudo foi realizado em outubro de 2022, pouco mais de dois meses antes do governo federal reconhecer a crise humanitária que ainda atinge o povo Yanomami. No período em questão, último ano do governo do ex-presidente Jair Bolsonaro, mais de 1,5 mil hectares da terra indígena estavam sob ocupação de garimpeiros em busca de ouro.
O relatório reconhece a expansão significativa do garimpo como marca do antigo governo “Esta expansão desenfreada promoveu devastação expressiva na TI Yanomami, resultando na crise sanitária atualmente em curso”, apontam os pesquisadores. “A crise sanitária instaurada tem raízes históricas, e ao que tudo indica se agravou na gestão de Jair Bolsonaro”, acrescentaram.
Os pesquisadores reconhecem que, desde a declaração de crise sanitária pelo novo governo em 2023, foi possível observar avanços no enfrentamento à crise, mas as medidas carecem de soluções estruturais. Uma solução de longo prazo, segundo o relatório, envolve uma expansão na oferta de serviços públicos essenciais, em especial no fornecimento de água potável, saneamento básico, educação formal, atendimento à saúde e infraestrutura de transporte.