Tucanos graúdos já não rejeitam o nome do ex-presidente Lula (PT) como antigamente. Velhos adversários em disputas polarizadas à Presidência da República, lideranças do PT e do PSDB começam a construir pontes, mesmo discretas, nestas eleições. Quadros históricos do partido como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e o senador de São Paulo José Serra quando perguntados pelo Congresso em Foco sobre um eventual apoio à candidatura de Lula – seja no primeiro, ou em um eventual segundo turno – não descartam o nome do petista.
“Eu defendo que o PSDB tenha um candidato próprio. Eu acho prematuro falar disso agora [sobre um apoio a Lula]”, disse José Serra. As especulações em torno da aproximação entre petistas e tucanos – inimaginável tempos atrás – começou após o ex-governador de São Paulo João Doria, do PSDB, retirar sua pré-candidatura à Presidência depois de uma rejeição galopante nas pesquisas e dentro do partido.
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O ex-presidente Lula fez sua parte: ligou para o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso para tratar do cenário político e a posição dos tucanos. Aos aliados, Lula disse que é preciso respeitar o tempo do PSDB após a queda de João Doria. Há uma movimentação de tucanos e aliados do ex-presidente Lula para um encontro entre os dois – eles já estiveram juntos na campanha em que o petista o apoiou FHC ao Senado, em 1978, e não acham essa missão impossível de se repetir em 2022. Além disso, o ex-governador Geraldo Alckmin, quadro histórico do PSDB, já é o atual vice de Lula pelo PSB.
Procurado pela nossa reportagem, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso preferiu se manifestar por meio de sua assessoria. Ele disse que “não há nenhum posicionamento definido já que o apoio do presidente era para o ex-governador Doria, que renunciou à candidatura” na última segunda-feira (23). Sobre o apoio a Lula, ou outra candidatura, o silêncio.
Aliás, o PSDB já adiou o anúncio da reunião em que apoiaria à candidatura da senadora Simone Tebet (MBD-MS) à Presidência, que seria na última terça-feira (24). O presidente nacional do partido, Bruno Araújo, disse que “o prazo será da política”. Hoje, se especula que o anúncio será no dia 2 de junho. Em São Paulo, há tucanos que ainda acreditam que o MDB não dará a legenda Simone Tebet.
Do lado do PSDB, parlamentares do partido ouvidos pelo Congresso em Foco rejeitaram essa aproximação e negaram as movimentações que começam a sair na imprensa por meio de notas. Continuam a defender uma candidatura própria – apesar de não apresentarem qualquer nome para isso.
Alguns buscam exemplos distantes da história ao argumentar que posições como a do ex-senador Aloysio Nunes – do PSDB de São Paulo que recentemente declarou que votará em Lula já no primeiro turno – são inspiradas numa tradição democrática na Itália contra o fascismo [justificando o gesto do correligionário como um ato isolado contra o governo Bolsonaro].
Outra negativa dos tucanos é que se construa, como vem acontecendo com o União Brasil e o MDB, uma candidatura presidencial que não seja competitiva e que dê liberdade aos diretórios estaduais para a escolha do melhor palanque. A estratégia permitiria ao partido manter a tradição de oferecer uma opção ao país à Presidência, que vem desde 1989, e não se comprometer com a polarização Lula/Bolsonaro.
Mas uma coisa é certa: as disputas internas na legenda devem continuar – sobretudo o projeto de retomada ao poder do grupo do deputado Aécio Neves –, e a possível não adesão à candidatura de Simone Tebet (MDB) pode criar a primeira rusga com o Cidadania. O partido presidido pelo ex-deputado Roberto Freire já referendou o nome da senadora pela Executiva Nacional. O Cidadania teve a federação partidária com o PSDB aprovada no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) nesta quinta-feira (26) e espera o mesmo gesto dos tucanos.
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