A mobilização nacional marcada para o dia 23 de março não deve ter o pedido de prisão de Jair Bolsonaro como foco, diferentemente do que havia sido divulgado inicialmente por idealizadores do evento. Após críticas vindas de várias partes em relação ao mote do ato, os organizadores decidiram que a manifestação será em defesa da democracia e contra a anistia dos envolvidos na tentativa de golpe de 8 de janeiro de 2023. A manifestação é organizada pelas Frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo, com a participação de entidades como o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) e a União Nacional dos Estudantes (UNE), além de partidos de esquerda e centro-esquerda, como o PT, o Psol, o PCdoB, o PDT, o PV, o PSB e a Rede.
Segundo o MST, o pedido pela prisão de Bolsonaro como uma das pautas da mobilização nunca foi consenso entre os organizadores, apesar de alguns setores e ativistas terem publicado imagens nas redes sociais com esse conteúdo.
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“Em nenhum momento foi colocado que o foco das mobilizações pede a prisão de Bolsonaro”, disse a assessoria de comunicação do MST ao Congresso em Foco. “As entidades organizadoras são de cunho popular e, por isso, têm feito convocatórias públicas para o conjunto da sociedade que defende a democracia e que pede a não anistia dos envolvidos no 8 de janeiro”, acrescentou.
Conforme o material oficial das frentes, a Mobilização Nacional, marcada para 23 de março – anteriormente prevista para o dia 24 – será em “defesa da democracia”. O texto também destaca os termos “sem anistia”, “punição aos golpistas” e “golpe nunca mais”, considerados pontos de consenso entre os organizadores da mobilização.
“É um dia de luta em defesa da democracia. Neste ano faz 60 anos do golpe de 64 e achamos que é fundamental vincular a pauta da verdade, memória e justiça com a punição dos golpistas”, diz a vice-presidente da UNE, Daiane Araújo.
O deputado Rogério Correia (PT-MG) afirmou ao Congresso em Foco defende a realização da manifestação, com foco na defesa da democracia, diante da pressão de bolsonaristas contra as investigações. “É uma resposta ao ato que eles [bolsonaristas] fizeram, evidentemente com cunho golpista”, afirmou. Ele ressalta que, durante o seu discurso na Avenida Paulista no último domingo, o ex-presidente pediu anistia para os envolvidos nos atos antidemocráticos de 8 de janeiro.
“Nós vamos ter um ato e mostrar força no sentido de ser um ato pela democracia, significa golpe nunca mais. E, ao mesmo tempo, sem ter anistia e punição aos golpistas. Então o eixo é esse, pela democracia, golpe nunca mais, sem anistia e punição aos golpistas. Punição aos golpistas, do ponto de vista do relatório CPMI, cabe a vários dias de prisão”, diz o congressista que foi titular na CPMI dos Atos Golpistas.
Personificação fragiliza
Cientistas políticos ouvidos pela reportagem concordam que a decisão de a mobilização não ter como foco a prisão de Bolsonaro é acertada. Participante do Coletivo Legis-Ativo, projeto do Movimento Voto Consciente (MVC), Carolina de Paula avalia que eventuais pedidos de prisão do ex-chefe do Executivo durante a manifestação “fogem ao escopo da representação social”, uma vez que punição judicial “não é algo que diga respeito a esses movimentos”, reforçando que a questão da anistia é mais condizente com as pautas específicas dos grupos.
“Eu acredito que seja uma iniciativa [pedir a prisão] vai distante até do que vive o momento da esquerda como governo no país, então a gente sabe que manifestações assim geralmente são puxadas por quem está na oposição, ou então quem precisa se defender de alguma questão”, explica.
O cientista e analista político Lucas Fernandes também aponta que o foco para essa questão restringe a participação a um pequeno grupo. “A partir do momento em que você personifica o pedido de condenação do Bolsonaro, com certeza você vai estar partidarizando, colocando uma cara bem explícita para esse ato que poderia acontecer de uma maneira um pouco mais abrangente, já que a gente está falando do dia de mobilização pela democracia, um ato que também vai pautar o marco dos 60 anos do golpe militar”.
Ambos argumentam que as narrativas de comparações numéricas com a manifestação de Bolsonaro serão inevitáveis. Para Fernandes, trata-se de uma eventual comparação injusta, pois os movimentos escolheram realizar mobilizações em um âmbito nacional e não concentrada em um só lugar, e este fator deve ser levado em consideração no levantamento do número de manifestantes.
“Mesmo com lideranças políticas, de cargos políticos expressivos, eu acredito que a gente não consiga ver esse movimento de modo generalizado. Especialmente porque está sendo convocada para o Brasil todo, para todas as capitais, claro que concentrando São Paulo e Salvador, mas não é algo que favoreça uma mobilização e uma concentração de pessoas, algo tão fragmentado”, acrescenta Carolina de Paula.
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