Com dois mandatos em um dos períodos mais conturbados da história brasileira, o procurador Augusto Aras fez do desmonte da Operação Lava Jato uma de suas principais realizações à frente da Procuradoria-Geral da República, cargo que ocupou entre 2019 e 2023. “O desmonte da ‘Lava Jato’ foi uma obra entregue pronta e acabada por Augusto Aras ao fim de seus dois períodos consecutivos”, destaca o livro O Procurador, que será lançado nesta terça-feira (9) em Brasília pelo jornalista Luis (Lula) Costa Pinto. A responsabilidade pelo desmanche é compartilhada por Aras com o seu braço direito, Humberto Jacques de Medeiros, vice-procurador-geral da República, que “devastou o lavajatismo apenas cobrando do bunker de Curitiba o cumprimento do regramento constitucional”.
No livro, Lula Costa Pinto conta como Aras, integrante de uma família ligada ao PT da Bahia, comprometeu-se, ao se apresentar ao então presidente Jair Bolsonaro e aos ministros do STF, a reverter a tendência de judicialização da política, adotando uma postura de não judicialização da política.
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Aliás, segundo o livro, Bolsonaro contrariou Sergio Moro, seu ex-ministro da Justiça, ao indicar Aras para o cargo. Conforme a obra, Moro disse que aceitaria qualquer procurador-geral da República, exceto Aras, em quem dizia não confiar. De acordo com o livro, Bolsonaro declarou ao então ministro que sua opinião não importava e deu uma gargalhada. Moro deixou o governo acusando o então presidente de interferir politicamente na Polícia Federal para proteger aliados e familiares.
“Abraçado às suas convicções garantistas, legalistas, fatalistas, e em busca de fazer a ação dos políticos governarem o mundo da política, do Direito e do Judiciário, o procurador-geral dos difíceis ‘anos Bolsonaro’, Antônio Augusto Brandão de Aras, pagou um preço para conservar os compromissos firmados consigo mesmo no momento em que passou a vislumbrar com maior precisão a possibilidade de ascender à PGR: sua biografia”, escreve o jornalista.
No livro, de seis capítulos, Aras também se defende das acusações de ter sido omisso em relação às ações de Bolsonaro, tanto em relação à pandemia, quanto às investidas golpistas. O ex-procurador-geral defende-se, alegando que agiu em defesa da democracia e relata três ocasiões em que agiu para evitar uma tentativa de golpe de Estado. A obra mostra a articulação de Aras e Humberto Jacques para desarticular a participação de polícias militares, junto com o Exército, em atos golpistas.
Aras também justifica por que não denunciou Bolsonaro pela gestão da pandemia. Segundo o procurador-geral da República, embora o então presidente dissesse uma coisa, o segundo e o terceiro escalões do governo tomavam iniciativas corretas para combater a covid-19. Ele entendeu que as conclusões da CPI da Covid-19, do Senado, que pedia o indiciamento de Bolsonaro, eram frágeis. “Como presidente, ele fez tudo o que precisa fazer. Como político, ele fez tudo o que a retórica dele, no campo dele, mandava”, diz Aras.
Entre outras revelações da obra, aparece a história de como o então presidente do Supremo, Luiz Fux, avisou ao ministro e general Braga Neto que estava contratando “snipers” (atiradores) para receber a tiros qualquer um que tentasse invadir o STF.
Lula Costa Pinto foi repórter, editor e chefe de sucursais de veículos como Veja, Folha de S.Paulo, O Globo e Época. Foi o autor da entrevista dada pelo empresário Pedro Collor à Veja na qual fez acusações de corrupção contra o seu irmão, o então presidente Fernando Collor, em 1992. A entrevista embasou o pedido de CPI que resultou no impeachment de Collor. O livro O Procurador (Geração Editorial, 272 páginas, R$ 86) será lançado a partir das 18h desta terça-feira, em Brasília, no Café Daniel Briand (104 Norte, bloco A).
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