Uma pesquisa realizada pelo Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) utilizando imagens de satélite revela que os índices de desmatamento da floresta amazônica para o primeiro quadrimestre de 2023 apresentaram brusca queda em relação ao mesmo período nos dois anos anteriores. Essa taxa, porém, segue elevada, e muito acima de um patamar compatível com a evolução histórica do bioma.
Entre os meses de janeiro e abril de 2023, a Amazônia sofreu uma perda de 1,2 mil km² de floresta nativa, uma taxa de devastação muito menor do que em 2022, com 1,8 mil km² de devastação. Essa redução, de 36% na comparação entre um período e outro, aparenta ser ainda menor se comparada com 2021, pior ano desde o início da série histórica de 2008, em que o bioma sofreu uma perda superior a 1,9 mil km². Estes, porém, foram os únicos anos com pior desempenho do que o atual para o primeiro quadrimestre no combate ao desmatamento.
A série histórica levantada pelo Imazon demonstra que, entre 2008 e 2017, a média de desmatamento para o primeiro quadrimestre de cada ano era em torno de 348 km², pouco mais de um quarto da taxa anual. Entre 2018 e 2022, já houve uma explosão, com a média subindo para pouco mais de 1,2 mil km². Em valores exatos, o valor atingido em 2023 se encontra pouco abaixo desse período, que corresponde ao último ano do governo Michel Temer e todo o mandato de Jair Bolsonaro.
De acordo com a pesquisadora Larissa Amorim, que participa do monitoramento, a redução em comparação ao período anterior serve como indicador para quais ações devem ser adotadas pelo governo Lula caso queira retornar à antiga média. “Precisamos implantar ações emergenciais de fiscalização, identificação e punição aos desmatadores ilegais nos territórios mais pressionados, focando nas florestas públicas que ainda não possuem uso definido e nas áreas protegidas, principalmente com a chegada do verão amazônico, onde historicamente o desmatamento tende a aumentar”, recomenda.
Algumas áreas se destacam pela proporção do desmatamento. Roraima e Tocantins seguiram em tendência oposta aos demais opostos, apresentando aumento no desmatamento em relação ao ano anterior. Mato Grosso, Amazonas e Pará apresentaram queda, mas seguem como os estados recordistas, somando a perda de 930 km² de flora, ou seja, mais de 75% do desmatamento na Amazônia nos quatro primeiros meses do ano.
Os elementos responsáveis pelo elevado índice de desmatamento nessas áreas permanecem os mesmos responsáveis pela explosão ocorrida a partir de 2008. No sul do Amazonas e norte do Mato Grosso, a expansão da fronteira agrícola é apontada como o principal fator. Para lidar com isso, a pesquisadora Bianca Santos alerta que são necessárias “medidas urgentes de fiscalização e destinação de terras públicas no local para evitar novas derrubadas”.
No Pará, terceiro maior foco de desmatamento na Amazônia, duas reservas naturais concentram 58% da devastação do mês de abril: as Áreas de Proteção Ambiental (APAs) Triunfo do Xingu e Tapajós, ambas de jurisdição estadual. Tratam-se de duas rotas históricas de entrada e saída dos focos de garimpo ilegal no estado, onde invasores desmatam as margens dos rios em busca de ouro contido no solo.
Confira o monitoramento do Imazon para o desmatamento de cada primeiro quadrimestre desde 2008:
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